Prof. Dr. Valter Machado da
Fonseca*
Se considerarmos o período
compreendido entre as duas últimas décadas até os dias atuais, iremos verificar
o declínio da média do volume anual das precipitações pluviométricas,
especialmente na região Sudeste e Sul do Brasil. Isto pode ser constatado pelos
registros das principais estações climatológicas destas duas regiões.
E o que isto significa?
O declínio do volume de chuvas
está diretamente associado à homogeneização das formações vegetais no bioma
cerrado, o acúmulo de atividades antropogênicas neste mesmo bioma o que vai
incidir sobre o equilíbrio termodinâmico deste bioma, diminuindo a entrada de
água e o aumento do consumo energético destes ecossistemas. A ruptura deste
equilíbrio gera, sobretudo, um desequilíbrio climático promovido especialmente
pela diminuição da evapotranspiração em decorrência da supressão de formações
vegetais nativas e/ou introdução de espécies vegetais homogêneas por intermédio
do plantio dos diversos tipos de monoculturas para a exportação. O significado
de tudo isto não sinaliza boas perspectivas nem para o bioma cerrado, nem para
os recursos hídricos que o drenam.
Toda esta carga antropogênica
sobre os recursos naturais irá incidir sobre as formações climáticas regionais,
especialmente sobre o volume das águas de superfície com das águas
subterrâneas. Podemos verificar, claramente, o rebaixamento do lençol freático
em diferentes áreas do Sul e Sudeste do Brasil, indo desde os pampas e
pradarias gaúchos até ás áreas nucleares do cerrado do Sudeste e até mesmo do
Centro Oeste. Isto fica bastante evidente quando examinamos o volume hídrico do
sistema do Rio Cantareira que abastece boa parte da cidade de São Paulo e a
região metropolitana da capital paulista.
O que fazer?
É necessário realizar urgentemente
um estudo aprofundado de medidas que visem à recuperação dos recursos hídricos
destas importantes regiões do Brasil. É preciso, efetivamente, realizar um
levantamento dos diversos pontos críticos, apontando para medias de recuperação
de áreas degradadas como matas ciliares, recomposição de vegetações de
nascentes, reposição de faixas de vegetação nativa em pontos estratégicos
visando à manutenção do nível dos lençóis. Ao mesmo tempo, medidas de
recuperação da fauna aquática e revitalização dos nossos rios, o que irá
lentamente restabelecer o equilíbrio dos ecossistemas naturais e contribuir
para o aumento da evapotranspiração. Desta forma, estaremos dando passos decisivos
para o uso e o manejo correto de nossos recursos hídricos buscando evitar a
catástrofe do esgotamento de nossas fontes de água potável.
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Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia
(UFU). Pós-Doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador e professor da Universidade de
Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com