Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca Fonte: Arquivo do autor (2014) |
Prof. Dr. Valter Machado da
Fonseca
Estamos
presenciando a pior estiagem dos últimos 50 anos. Normal? Não! Absolutamente
não é normal! A mídia tem dado amplo destaque na terrível seca que toma conta
da maior parte do país. Muitos insistem na tese de que esta “louca” estiagem é
absolutamente normal. Falam em nome dos supostos fenômenos naturais que o
planeta azul tem que enfrentar em seu ciclo geológico, geomorfológico e
biogeoquímico. Até pode ser! Mas, se queremos realizar uma pesquisa científica
séria, faz-se necessário que avaliemos todas as variáveis presentes no nosso
objeto de investigação (no caso em questão, a seca que faz parte da gama de
problemas decorrentes das alterações climáticas). E, neste caso como em todos os outros que
vieram após o domínio tecnológico do homem sobre a natureza e seus recursos, a
ação antropogênica é mais uma das variáveis que fazem parte do escopo de
hipóteses presentes na pesquisa sobre quaisquer das consequências decorrentes
do espectro das “Alterações Climáticas”. Portanto, a ação humana sobre os
recursos naturais não deve jamais ser desconsiderada, muito ao contrário, ela
carrega por si mesma um enorme peso sobre o grande mosaico de problemas que
compõem a teia das “Alterações Climáticas”.
Então,
o homem é o grande vilão da seca? Não! O Homem, por si só, não é capaz de
causar tamanho desequilíbrio ambiental que atinja amplas e consideráveis áreas
do planeta. Ele, por si só não é capaz de tal desequilíbrio, no entanto, a alta
tecnologia produzida por ele e incorretamente utilizada pode ser uma das
maiores responsáveis por tal desequilíbrio. Assim, indiretamente, o homem pode
ser um dos principais responsáveis pelo monstruoso problema decorrente da forte
estiagem, pela qual estamos passando.
Vamos
aos fatos! Pela primeira vez registou-se a seca da nascente do Rio São
Francisco, na Serra da Canastra. O “Velho Chico” chora! A serra da Canastra
está inserida no grande mosaico fitofisionômico do domínio dos cerrados
brasileiro. Enquanto estamos pensando neste gravíssimo problema da falta de
água potável, basta que trafeguemos em alguns trechos de nossas estradas de
terra (as chamadas vias secundárias) para que observemos incontáveis trechos
pontuados por imensos “Pivôs” que retiram a água pura do lençol freático e a
joga a uma altura de 1,2 ou 3 metros. Tudo em nome da “Santa Soja” ou da “Santa
cana-de-açúcar”, com vistas a abastecer os profundos bolsos do Tio Sam e seus
apadrinhados. E, ainda tem gente que defende a tão propalada “Transposição do
São Francisco”, um rio quase que totalmente morto, pontuado por inúmeras
hidrelétricas e, agora com sua principal nascente morta. Onde nasce o São
Francisco, afinal? O fato é que não é mais na Serra da Canastra.
Somente
a título de ilustração, das doze principais Bacias Hidrográficas que cortam o
território brasileiro, 08 (oito) delas ou nascem ou cortam o domínio dos
cerrados. Então, o bioma cerrado se constitui na grande caixa d’água da América
do Sul. E nós estamos retalhando todo este riquíssimo mosaico de recursos
naturais e de biodiversidade. O São Francisco chora, o Rio Cantareira chora, a
Serra da Canastra a chora! Aliás, eles já não podem mais chorar, pois, as
lágrimas são produzidas a partir das águas e as águas potáveis estão deixando
de existir. E nós, até quando existiremos?