Prof. Dr. Valter Machado da
Fonseca
É complexo o entendimento do lugar em que se situa a
consciência humana. Mas, para decifrarmos isto é fundamental que entendamos
nosso papel na vida e no mundo. E, para isso, é preponderante compreendermos o
lugar de centralidade do trabalho humano e a alienação deste trabalho na
sociedade capitalista. Este modelo de sociedade que se desenvolveu inicialmente
em função da produção de mercadorias para o atendimento de nossas necessidades
básicas: alimentação, vestuário, habitação, transporte, enfim, um trabalho que
se justificava pelo atendimento dessas necessidades, o que em seu nascedouro
objetivava ao bem-estar das populações. Então, a mais-valia se produzia em
função das medicações de primeira ordem (nos dizeres de Marx). Nos tempos
d’agora, toda esta lógica é substituída pela agregação da alienação e
estranhamento do trabalho humano.
Então, a alienação e o
estranhamento passaram a se constituir nas principais estratégicas para a produção
e o consumo de mercadorias, as quais nos tempos modernos, fazem pouco ou nenhum
sentido para a existência humana. Em primeiro lugar o modelo capitalista
inventa novos produtos, novas mercadorias, para os quais não existem
necessidades objetivas, porém, se constituem nas principais estratégias para a
manutenção e expansão do lucro. A partir da alienação e do estranhamento do
trabalho, todos os que vivem do trabalho já não se veem refletidos no fruto de
sua atividade laborativa. Neste sentido, o trabalho passa a ser uma mera
atividade mecânica que não possui nenhum sentido para os trabalhadores, os
quais vendem seu labor apenas para garantir sua própria sobrevivência.
Sob esta lógica nefasta do
estranhamento e alienação do trabalho, os homens perdem sua consciência de
“ser” neste mundo, a qual é substituída pela lógica do “ter” nesta sociedade
dos desiguais. O trabalho continua sendo uma atividade sublime, central no
processo da criatividade humana, entretanto, esta criatividade desaparece em
função do estranhamento e alienação, aspectos fundamentais para o controle do
capital sobre o trabalho. Assim, a reconquista da consciência humana que se faz
necessária para (re) significar nossa essência, nossa razão de ser neste mundo,
passa, necessariamente, pela luta contra a alienação e estranhamento impostos
ao trabalho pelas estratégias do capital. O que significa, num plano maior, a
luta pela superação de todas as formas de dominação impostas ao trabalho pelas
artimanhas do capital. E, somente a partir desta superação seremos capazes de
dar passos significativos para a reconquista de nossa própria consciência, ou
seja, esta superação significa recuperarmos nossa capacidade de enxergarmos a
nós mesmos no produto de nosso labor. E, quando levarmos a cabo esta superação,
teremos edificado as condições para o trabalho como prática da liberdade e da
construção de nossa consciência enquanto seres humanos criativos e livres.