Prof. Dr. Valter Machado da
Fonseca*
Nada mais oportuno do que a
simbologia e a força do imaginário do Dia Nacional da Consciência Negra para
realizarmos uma breve reflexão sobre a temática “a face da barbárie” nos tempos
presentes. Mas para realizarmos esta reflexão, se faz preponderante que
entendamos alguns elementos e aspectos da atual conjuntura mundial e nacional.
Pois bem, caros (as) e amigos
(as)! A conjuntura internacional que marca este limiar do século XXI é pontuada,
fundamentalmente, por aspectos e elementos que apontam para a emersão de grupos
e organizações nazifascistas. O retorno destas organizações é fruto do enorme
retrocesso e/ou refluxo das lutas dos trabalhadores e marginalizados em todo o
mundo, fato que se dá devido à reorientação das forças conservadoras
neoliberais em nível planetário. Porém, a implantação das medidas neoliberais
somente é possível por intermédio da imposição de derrotas históricas e
profundas aos movimentos legítimos da classe trabalhadora em nível mundial.
Entretanto, esta reorientação
política conservadora se dá como uma saída clássica do capital exatamente pelo
fato de sua incapacidade de dar respostas às gigantescas e graves crises
econômicas que tiveram seu início nos anos 2008/2011 e que atingem (em cheio)
os centros nevrálgicos (o coração) do capitalismo: a Europa e os EUA. Estas
gigantescas crises perduram até os dias atuais e se propagam como rastilho de
pólvora para os diversos países do globo. É importante salientar que estas
importantes crises econômicas mundiais diferem das crises anteriores por
provocarem a corrosão interna das engrenagens do sistema capitalista, o que
aponta para a crise estrutural do capital, diferentemente das crises cíclicas
clássicas já conhecidas, conforme afiança Mészáros (2011) em seu brilhante
texto “Para Além do Capital”. Isto se dá fundamentalmente pela incapacidade do
capitalismo de se reinventar, pois, ele já não se embasa na produção de
mercadorias necessárias ao atendimento das necessidades da humanidade. Ao
contrário, as mercadorias hoje produzidas se embasam na venda da ilusão de
produtos supérfluos e descartáveis. Em primeiro lugar criam-se produtos e
somente depois se inventam as necessidades de sua utilização. Esta lógica
“ilógica” dificulta a própria reinvenção do capital para eternizar e manter
acesa a chama da mais-valia.
Diante dessa onda de crises
econômicas que varrem o planeta, as principais potências econômicas mundiais
viram como saída para tais crises, a aplicação aprofundada dos princípios do
liberalismo clássico, cuja ineficiência histórica também já é conhecida e, para
isso torna-se necessário a imposição de derrotas históricas e profundas à
classe trabalhadora, tomando-lhe de forma absolutamente monstruosa, cada uma de
suas conquistas, frutos das suas lutas seculares tanto na cidade quanto no
campo. As ofensivas recentes às conquistas dos explorados e marginalizados do
mundo todo, provocam os maiores refluxos que o conjunto dos trabalhadores já
presenciou em suas formas clássicas de organização. A nova reorientação
neoliberal planejou (milimetricamente) e começa a colocar em execução uma
ofensiva destrutiva das conquistas sociais nunca dantes experimentada aos
países pobres como a África e as Américas do Sul e Central.
A ofensiva neoliberal no Brasil
No Brasil, em particular, a
ofensiva neoliberal foi extremamente facilitada pela política conduzida pelo
governo socialdemocrata de frente popular e cujo arco de alianças abrangeu um
conjunto de forças totalmente estranhas ao conjunto dos trabalhadores e suas
organizações. Este arco de alianças acolheu em seu interior os setores mais
atrasados e reacionários da direita ultrarreacionária brasileira, desde as
arcaicas oligarquias rurais até os setores mais retrógrados da burguesia industrial.
O supracitado governo optou por construir um espectro de alianças com os
setores mais retrógrados em detrimento de priorizar a construção de um projeto
político sério e honesto para o Brasil. O arco de alianças do governo de frente
popular no Brasil acolheu em seu interior os piores e mais atrasados setores da
burguesia existentes em nosso país.
Por outro lado, a bancarrota do
governo de frente popular, além de impingir um retrocesso sem precedentes à
organização das forças de esquerda honestas e legítimas, ainda permitiu que a
conjuntura brasileira fosse marcada principalmente pela transferência de um
poder político absoluto ao sistema judiciário, o qual paira soberano sobre a
população como juízes supremos, inatingíveis e que atuam de forma seletiva em
relação às aspirações de uma burguesia enfraquecida, contrária e autoritária em
relação aos interesses dos setores mais carentes e marginalizados do país.
O projeto neoliberal para o
Brasil elegeu setores essenciais para o início de sua política de “corte na
carne”, porém este corte se dá somente na carne dos trabalhadores por
intermédio do congelamento e cortes de recursos na educação, cultura, saúde e
previdência social. Ao mesmo tempo em que a política de cortes orçamentários é
executada em setores fundamentais para os trabalhadores, o superpoder
presenteado ao sistema judiciário trata de criminalizar toda e qualquer forma
de luta e organização dos trabalhadores, os movimentos sociais e demais
movimentos secularmente construídos pelos trabalhadores.
E de onde surgem as forças
nazifascistas?
As experiências históricas das
lutas operárias e camponesas em todo o mundo nos mostram que sempre que são
impostas derrotas de grande magnitude ao movimento dos trabalhadores, emergem
as forças “ocultas”, estranhas à classe trabalhadora e que surgem geralmente do
seio das camadas pequeno-burguesas e até mesmo dos setores mais atrasados e
desesperados das camadas mais pobres da população sob a batuta do ideário da
extrema direita.
Em nosso país, isto fica cada dia
mais evidente. Brotam do chão, do próprio Congresso Nacional, com cada vez mais
intensidade, grupos orientados e cuja função é destilar o ódio e a violência
contra os setores mais marginalizados da sociedade. Estes grupos se propagam
por todo o planeta, na esteira das derrotas impostas às organizações e
movimentos legítimos da classe trabalhadora. Diante disso, cabe a todos os que
se reivindicam da verdadeira democracia, ao conjunto dos militantes honestos e
comprometidos com a luta por uma sociedade mais justa e igualitária, empunharem
a bandeira da luta contra todas as formas de arbítrio, violência, preconceito e
discriminação. Que este vinte de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra,
sirva também de “marco zero” da luta contra o nazifascismo e todas as formas de
preconceito e discriminação. Somente a auto-organização dos trabalhadores e da
juventude será capaz de superar o preconceito, a discriminação e soterrar
definitivamente a reação fascista.
*
Pesquisador e Professor
Adjunto do Departamento de Educação da Universidade Federal de Viçosa
(DPE/UFV). Escritor, Geógrafo, mestre e doutor em educação. Pós-doutorado em
Educação do Campo, Trabalho Docente e Agroecologia.
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