Foto: Prof. Valter Machado da Fonseca (2020. Créditos da foto: Carmen Lucia Ferreira Silva
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca
Do seio da mãe África surgem os homens imponentes
Pele de bálsamo, lábios carnudos, rostos afinados
Demonstrando o tom da raça de guerreiros onipotentes
Da nação sofrida, perseguida pela desigualdade
Onde habitam homens que perseguem o sonho de liberdade
No porão empoeirado dos navios mal cheirosos
Eles se amontoam, sem destino, separados pela dor
Remam com orgulho, entoam cantos de união
Cabeça erguida, guardam lembranças da terra mãe
Não sabem que o lucro, a ganância e exploração
Colocam em seus ombros a árdua tarefa, outra batalha
De noutras terras construir outra nação
São meses, sem sol, sem dia, sem noite e sem luar
Alguns perecem, outros ao mar vão se jogar
Quando, enfim, chegam ao destino no além mar
Jogados ao solo como bichos maltrapilhos
Ainda trazem no peito, o orgulho nobre de não chorar
Vão pra fazenda do homem branco, sinhô patrão
Adubar a terra com o suor trazido da velha nação
A noite chega vão pra senzala lamentar
A perda dos filhos, dos irmãos sumidos na terra distante
No ar, apenas o eco do som triste dos tambores
Que estalam como chicotes nos ouvidos dos opressores
De madrugada, na calada da noite, vêm os filhos dos doutores
Violentar suas mulheres, suas filhas como num circo de horrores
Por puro instinto de um desejo animalesco
Enchem o ventre das mocinhas que relutam com ousadia
Com o sêmen turvo, manchado com o sangue da covardia
Depois de décadas de martírio e sofrimento
Eles resistem nos quilombos construindo a liberdade
Retumbam os tambores com a esperança da igualdade
Depois de muita batalha vem a navalha de fio cortante
Através da pena no papel do homem branco
São expulsos das terras que fecundaram com seu suor
Jogados nas periferias das cidades embrutecidas
Onde crescem o ódio, o preconceito e a dupla exploração
Sem ter o que fazer, o que comer, são marginais
Ganham migalhas na “liberdade” da privação
Hoje, os descendentes da mãe África continuam imponentes;
Continuam a luta em busca da liberdade
Mal sabem eles que são parte dos explorados,
Da força, de trabalho que dão quase de graça pro patrão
Vão descobrir que o preconceito, o medo e traição
Serão a semente sombria de uma classe que porá fim a opressão.
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