Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca (2014) |
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca
Após
a divulgação do resultado das eleições presidenciais do segundo turno, ao ler
algumas notícias no portal UOL, fiquei boquiaberto com comentários de eleitores
insatisfeitos com o resultado eleitoral. A maioria deles são pessoas do Estado
de São Paulo, que em sua fúria, resolveram despejar seu ódio no povo sofrido do
Nordeste brasileiro. Foram xingamentos tão baixos, rasteiros, xenofóbicos, que
até me desencoraja de repeti-los.
Essas
pessoas precisam refletir sobre seus comentários, precisa examinar a história
destes pouco mais de 500 anos de Brasil. Foi exatamente no Nordeste brasileiro
que esta nação nasceu. Ao contrário de muitos comentários fascistas e
xenofóbicos, foi exatamente este povo sofrido do nosso Nordeste que iniciou a
construção das riquezas deste país. Foram eles que primeiro foram explorados
pela Coroa Portuguesa, no auge do “Pau Brasil”, da “Cana-de-açúcar” que sugou
até a última gota a fertilidade de seus solos.
No
auge da borracha foram os nossos irmãos Nordestinos que fizeram todo o trabalho
pesado para sustentar os barões da borracha. Foram eles (os nordestinos) a
experimentarem primeiro a chibata da escravidão, a “Casa Grande” e a Senzala”.
Também foram eles os primeiros a enfrentar os desmandos e torturas, a exemplo
de Zumbi dos Palmares. Foram eles que enfrentaram os desmandos do governo por
meio da Batalha de Canudos. Foram eles que construíram Brasília, iniciaram e
consolidaram a riqueza de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais. É o povo
heroico do nosso Nordeste que aprendeu a conviver com a seca, que estamos
experimentando agora e começamos a perceber o valor que tem a água. Não dá para
enumerar tudo que este povo sofrido já fez para este país.
Por
tudo isso, é preciso ter cuidado ao plantar o ódio e intolerância no lugar
errado. A verdadeira política não é o ódio, é o livre debate de ideias, de
projetos. O verdadeiro político é aquele que combate a intolerância justamente
com a tolerância, com o debate saudável capaz de edificar bons projetos, de
fazer florescer e frutificar a boa semente. O bom político é aquele que é capaz
de refletir sobre sua derrota, sabe tirar dos erros os acertos. A xenofobia e a
intolerância são um passo para o fascismo e a gente já teve mostras históricas
de onde pode chegar o ódio fascista (vejam o ódio de Adolf Hitler). Perguntem
ao povo Judeu, aos palestinos, aos discriminados, aonde pode levar a
intolerância.
Diante
de tudo isto, eu saúdo o povo tão sofrido do Nordeste. Salve o grande povo
nordestino, salve Jorge Amado, Antônio Conselheiro, Zumbi dos Palmares,
Lampião, Padre Cícero, Paulo Freire, Dorival Caymmi, Caetano Veloso (que aliás
escreveu “Sampa”, um hino a São Paulo), Maria Betânia, Gal Costa, Gilberto Gil,
Luiz Gonzaga, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Dominguinhos. Viva a capoeira, o
vatapá, o acarajé! Salve o nobre e grande povo do nosso Nordeste. Por isso,
meus amigos e amigas, é preciso examinar, de perto, a história da construção de
nosso país, antes de sair por aí semeando o ódio e a intolerância, pois eles
podem ser os sinais mais visíveis de nossa própria ignorância.