Fonte: pt.globalvoice.org (2015) |
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca
Fiquei estarrecido ao tomar
conhecimento do número de projetos de implantação de Usinas Hidrelétricas
(UHEs) na grande bacia hidrográfica da Floresta Tropical Amazônica em
território brasileiro. Pasmem! Meus caros leitores! Estão em fase de estudos
conclusivos, nada menos que algo em torno de 92 (noventa e dois) projetos de
implantação de hidrelétricas na bacia hidrográfica do Rio Amazonas e seus
tributários em território brasileiro.
É notório que as alterações
climáticas no Brasil e no mundo colocam diversos países à mercê de uma das
maiores crises energéticas já presenciadas pela história da humanidade. Mas,
não se cura uma doença ministrando fortes doses de veneno ao paciente. Trocando
em miúdos, para aplacar os efeitos e as consequências da gigantesca crise
energética já anunciada, as autoridades, “pesquisadores” e “estudiosos” do
setor energético estão propondo aumentar o forte desequilíbrio socioambiental
exatamente no setor de recursos hídricos, por intermédio do alagamento
(represamento) de milhões de hectares da Floresta Tropical Amazônica com vistas
à construção de reservatórios para a implantação de 92 novas Usinas
Hidrelétricas na grande bacia amazônica. Parece que a escassez e migração
hídricas pelas quais estamos atravessando, passam também despercebidas para
estes senhores do governo brasileiro e “estudiosos” do setor energético.
O que significa
este impacto nos recursos hídricos da região amazônica?
É cientificamente comprovado que
a Floresta Tropica Amazônica é a grande responsável pela gigantesca formação de
massas de ar quentes e úmidas que, trazidas pelas correntes de ar ocasionam o
vital abastecimento de precipitações pluviométricas (chuvas) sobre várias
regiões brasileiras, em particular a Região Sudeste, área dos maiores centros
urbanos e responsável pelo maior PIB do país e, consequentemente, pelo motor
econômico do maior polo de desenvolvimento do Brasil. A Região Sudeste
presencia o mais elevado índice de migração e escassez hídricas dos últimos 100
anos. Esta falta de chuvas se deve a uma série de fatores conjugados, dentre
eles o desflorestamento (desmatamento da Amazônia), pois a floresta abastece as
massas de ar úmidas devido ao seu enorme potencial de evapotranspiração. Estão
propondo o represamento de extensos trechos dos rios da Amazônia, o que vai
colocar debaixo d’água milhões de hectares de florestas, reduzindo
drasticamente a evapotranspiração e alterando totalmente o regime de chuvas,
não somente da Região Norte, mas, sobretudo de outras regiões como o Sudeste do
país. A implantação das hidrelétricas provocará ainda uma série de impactos
socioambientais tais como:
A perda de
biodiversidade!
Uma intervenção antropogênica
desta magnitude nos recursos hídricos da Amazônia significará a perda total e
definitiva de milhares de espécies de flora e fauna brasileiras. É sabido que a
Amazônia é dona de uma das maiores biodiversidades do planeta, com apenas 15%
de suas espécies conhecidas e somente 12% catalogadas. Isto significa que a
maior parte das espécies florísticas e faunísticas do bioma Amazônia são
desconhecidos da comunidade científica, o que significa que dentre a grande
parcela desconhecida da flora da Região Norte pode estar um grande potencial de
recursos bioquímicos, agronômicos e farmacêuticos e, dentre estas espécies pode
se encontrar a cura de diversas doenças. Isto sem considerar que grande parte
de flora amazônica são endêmicas, isto é, só se encontram em determinadas áreas
e não se repetem em áreas circunvizinhas. E o projeto das hidrelétrica irá
colocar debaixo d’água toda esta gama de biodiversidade ocasionando a perda
significativa e definitiva do riquíssimo mosaico de flora e fauna da região.
Os gigantescos
impactos sociais!
A grande maioria dos povos que
vivem na floresta sobrevivem de seus recursos. Estes povos aprenderam a
conviver com a mata. Vivem da pesca, da coleta de frutos, de raízes, tubérculos
e folhas produzidas pela própria floresta. Não se adaptam e jamais se
adaptariam aos modos de vida urbanos. Assim como as árvores eles fincaram suas
raízes na floresta. Com o represamento das águas e o alagamento da floresta
tropical para onde irão estes povos? De que e como irão sobreviver? E as
reservas das pouquíssimas remanescentes comunidades indígenas? Qual será o
destino destas comunidades?
Caros Leitores! Sem dúvida alguma
tratam-se dos projetos mais inescrupulosos, irresponsáveis e insanos jamais
vistos até os tempos presentes. No momento em que o mundo inteiro já esgotou a
maioria de seus recursos naturais e estendem os olhares de cobiça para a nossa
mais exuberante floresta (a maior floresta tropical do globo), nossos
governantes e “estudiosos” planejam colocá-la debaixo d’água. Somente pessoas
desprovidas de total capacidade de raciocínio seriam capazes de tal atrocidade
e irracionalidade. Quanto à crise energética, o Brasil precisa ousar e investir
em fontes alternativas de energia, em especial a energia solar, pois o sol é a
única e genuína fonte de energia limpa e gratuita do planeta. É preciso dar o
salto tecnológico na direção correta e não sacrificar a maior floresta tropical
do globo, alterando para sempre o clima do planeta e condenando a espécie
humana ao derradeiro e letal sacrifício.
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