Incêndio criminoso na fábrica em Nova York, matando mais de 100 tecelãs. |
Neste dia oito de março comemora-se mais um Dia Internacional da Mulher. Todos os anos, esta data tem sido lembrada com, cada vez mais, superficialidade, transformando data tão importante em apenas mais um evento de caráter comercial. Aliás, a sociedade do supérfluo tem o dom de transformar em lucro qualquer data que tenha o cunho de reflexão acerca dos males e desmandos desses novos tempos, denominados de “sociedade da modernidade”.
É muito comum ouvirmos neste dia, frases do tipo “por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher”. Caro leitor! Você já parou para refletir sobre esta frase, que está sempre na boca de políticos e autoridades, como se ela fosse uma bela referência à figura feminina. Na verdade frases como esta, muito ao contrário de uma bela homenagem, expressam o grande preconceito e o enorme machismo que marcam a nossa sociedade. Por que uma grande mulher tem que ficar por detrás de um grande homem? Se ela fica por trás, ou não é grande o suficiente ou o homem em questão não é deveras grande.
Afirmações como esta mostram a necessidade de reflexionarmos sobre a origem deste dia tão simbólico e tão importante. É necessário que lembremos que o Dia Internacional da Mulher foi, inicialmente, uma homenagem póstuma às “Mártires de Nova Iorque”, às mais de uma centena de mulheres operárias, tecelãs, queimadas vivas durante um movimento grevista contra a terrível jornada de 16 horas de trabalho nos teares dos EUA. É preciso que recordemos de mulheres corajosas, guerreiras, como Joana D’Arc, Dandara (companheira de Zumbi), Leila Diniz, Irmã Dulce, Zilda Arns, Rosa de Luxemburgo e várias outras, na maioria das vezes ocultas no anonimato imposto pelo preconceito e a discriminação.
A mulher dos novos tempos, do limiar do século XXI, tem pela frente uma luta muito mais árdua. A sociedade do culto ao supérfluo e ao descartável, em nome da igualdade de oportunidades, em nome da igualdade sexual, explora a mulher de forma muito mais cruel, pois trata-se de uma exploração camuflada, dissimulada. Uma forma de exploração que, em nome da igualdade sexual, impõe à mulher uma dupla jornada de trabalho (uma no emprego e a outra no lar), impõe à mulher o desempenho de funções iguais às do homem, porém com o salário pela metade. A queima dos sutiãs em Paris foi uma libertação apenas simbólica. A exploração feminina continua, seja nos locais de trabalho, seja em seu próprio lar. Quantas vezes não presenciamos o espancamento e até a morte de mulheres por seus próprios companheiros? Quantas Isabelas Nardonis não existem por aí? Quantos estupros e assassinatos presenciamos, cotidianamente, contra a mulher, por intermédio da mídia? Quantos atentados violentos temos presenciado contra os homossexuais? E os casos que a mídia não registra? Quantos serão?
A mulher do século XXI, além de se libertar da exploração no emprego, em seu próprio lar, precisa, urgentemente, se livrar das amarras ocultas e impostas pelo preconceito velado, dissimulado e que, hipocritamente, é chamado de “liberdade” e “igualdade” pelo machismo exacerbado e gerado pela sociedade moderna. A mulher da sociedade moderna tem que se livrar, imediatamente, dos grilhões impostos, durante décadas e décadas pelo machismo acumulado na sociedade e que serve, em última instância, para alimentar a voracidade e os anseios daqueles que dizem ter atrás de si uma grande mulher. Enfim, como nos diz o grande Gilberto Gil: “Quem sabe o super-homem venha nos restituir a glória, mudando como um Deus o curso da história, por causa da mulher”.
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