Fotografia de cratera na rodovia. Fonte: aguadoceweb.com.br |
Já faz algum tempo que eu pretendia abordar esta temática. O interesse por este tema veio justamente em função da série interminável de ações e consequências negativas e até mesmo criminosas decorrentes da ausência de planejamento que embasa as ações da Engenharia de Trânsito e Transportes do Brasil.
Quando Washington Luis, último presidente do país na República Velha, lançou como lema de sua campanha eleitoral o slogan “Governar é construir estradas”, mal sabia ele no que isso ia dar no futuro. Mal sabia ele que este “chavão” impensado iria abrir as torneiras para os maiores desmandos, abusos, “maracutaias”, desvios de dinheiro público, dentre inúmeros outros crimes decorrentes do que hoje denominamos de “Indústria do asfalto”.
Essa temática ganha maior destaque quando ocorrem os feriados como Semana Santa, carnaval, dentre outros feriados prolongados que constam de nosso calendário. Nestes eventos, as notícias mais corriqueiras estão ligadas ao aumento exorbitante do índice de mortalidade em decorrência de centenas de acidentes fatais ocorridos nas estradas brasileiras. O tema também se torna recorrente quando inicia o período chuvoso, em especial nos anos em que presenciamos grande quantidade de precipitações, ocasionando enchentes e inundações. É certo que grande parcela dos acidentes nas estradas brasileiras se deve a ações de imprudências no trânsito, embriaguez, excesso de velocidade, consumo de entorpecentes, além de diversos tipos de infrações no trânsito em nossa malha rodoviária.
Porém, grande parcela de acidentes se deve ao altíssimo grau de precariedade de nossas estradas e rodovias. É importante que se diga que nossas estradas costumam matar mais do que muitos países em guerra civil. A construção da malha rodoviária brasileira seguiu à risca a “lógica” do processo de urbanização de nosso país, isto é, tanto a construção de nossas rodovias, como o nosso processo de desenvolvimento urbano se edificam sobre um único pilar de sustentação: a ausência completa de quaisquer medidas e normas de planejamento urbano/ambiental.
Na época das chuvas e das famosas “operações tapa-buracos” é que podemos evidenciar com mais clareza a situação de nossas estradas e rodovias. São longos trechos de “borras de asfalto”, construídos com a finalidade de produzir verdadeiras crateras nas rodovias, com o único objetivo de se tornarem eternos sumidouros do dinheiro público. Podemos observar que um dos ministérios mais cobiçados do governo federal é o dos transportes e um dos órgãos mais disputados pelos politiqueiros de plantão é o DNIT. Isto porque se tornaram fontes eternas e inesgotáveis de consumo de verbas públicas, fontes de políticas de concorrências ilícitas e de falsas campanhas eleitoreiras. É a famosa “Indústria do Asfalto”.
Enquanto nos deixamos hipnotizar pelo sensacionalismo dado pela grande mídia a alguns crimes e julgamentos, não notamos, por exemplo, a quantidade interminável de assassinatos em série provocados pelas péssimas condições de nossas rodovias, fruto do descompromisso de governantes e políticos charlatães que vivem luxuosamente à custa do dinheiro público. Enquanto esses senhores se enriquecem ilicitamente e viajam para todos os cantos do país e do exterior em helicópteros e jatinhos, grande parcela de nosso povo é sepultada nas crateras assassinas de nossas estradas e rodovias. Vamos refletir sobre esta problemática. Maldita a hora em que Washington Luis abriu as torneiras dos desmandos e maracutaias com o seu lema “Governar é construir estradas”! Naquele exato instante ele anunciava o futuro assassinato de milhares de brasileiros.
** Escritor. Geógrafo, Mestre e doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com
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