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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

TODOS OS CAMINHOS LEVAM A ROMA?

Valter Machado da Fonseca*
Carnaval no Rio de Janeiro. Fonte: dicaserespostas.blogspot.com

Outro dia, conversava com um colega sobre as fantasias e analogias falsas, mentirosas e caluniosas que fazem acerca do povo brasileiro. Na época das “vacas magras” se questionava: como é que o nosso povo fazia para sobreviver com um magérrimo salário em meio a tantas crises e turbulências? Como o nosso povo sobrevivia com um salário mínimo miserável? Para responder a esses questionamentos especulava-se sobre o “jeitinho brasileiro”, mas ninguém até hoje consegue explicar com clareza de que se trata, de fato, esse tal “jeitinho”. Outros tinham a ousadia de dizer que o trabalhador brasileiro era a parcela que menos trabalhava no mundo. Outros diziam que ele [o povo] vive em função do futebol e carnaval, dentre várias outras aberrações.
Neste texto quero apresentar minha discordância profunda com grande parcela da mídia, intelectuais e setores formadores da opinião pública que tentam jogar a culpa dos principais problemas do país e até do mundo nas costas da parcela mais humilde da população e do povo trabalhador. Pesquisas científicas sérias realizadas em 2009 e 2010 nos EUA, Europa e Ásia demonstraram que o povo brasileiro está entre os setores da população mundial que mais trabalha no mundo. E este mesmo povo trabalhador brasileiro é responsável por expressivos setores produtivos da sociedade capitalista e constitui uma fatia muito expressiva do mercado consumidor mundial. Quem não se lembra do apelo feito pelo governo brasileiro ao nosso povo, no ano de 2008, para que fosse às compras (gastasse seus suados e minguados recursos) visando ao fortalecimento do mercado interno brasileiro, minimizando, dessa forma, a crise estrutural do sistema financeiro que batia, calorosamente, à nossa porta.
É interessante notar que os setores mais ricos da população têm a forte mania de jogar o ônus das crises nas costas da classe trabalhadora do país e, contraditoriamente, recorre a ela nos momentos das crises mais agudas. Nesses momentos, esses setores mais abastados financeiramente são os primeiros a “abandonar o barco”, quando a situação econômica do país se agrava, indo, sem cerimônias, aplicar seus gordos recursos em paraísos fiscais [no Caribe, por exemplo] deixando a nação à bancarrota, à deriva.

É preciso que não nos deixemos enganar pelo canto de sereia do setor mais expressivo da mídia brasileira, pois, ele não está preocupado com os problemas de nosso povo, mas sim com os interesses do grande capital inter/multi/transnacional. Fazem verdadeiras campanhas publicitárias e sensacionalistas à época que os setores mais carentes de nossa população sofrem com as grandes catástrofes. Ganham verdadeiras fortunas à custa do sofrimento dos setores mais pauperizados de nosso país. Nos momentos que as vítimas mais precisam do seu apoio, tiram o corpo fora, pois seu apoio já não lhes rende mais dividendos.

Nesses dias, observamos os noticiários com as manchetes raivosas da principal rede de TV brasileira sobre a greve da polícia baiana. Os apresentadores dos telejornais dessa TV aparecem com os olhos injetados de sangue, tentando transferir para o telespectador toda a raiva que eles demonstram pelo movimento grevista da polícia do Estado da Bahia. Ao invés de transmitir as notícias de forma neutra [princípio básico que norteia a ética do jornalismo], ao contrário, emitem opiniões, distorcem os fatos, grampeiam telefones a seu bel prazer, ferem os princípios democráticos mais elementares de nossa constituição federal. E, pasmem! Chegam a julgar e condenar pessoas como se pairassem sobre a população como juízes supremos.

Mas, fazem todo este teatro para esconder um único objetivo. Preservar os exorbitantes lucros que estes senhores [donos da TV] ganharão com a festa mais popular do Brasil, a qual foi transformada em verdadeira indústria: a indústria do carnaval, que rende bilhões de dólares. O motivo principal é que o movimento da polícia baiana ameaça a inviabilizar realização do carnaval. A possível falta de segurança nas ruas pode afastar os turistas estrangeiros, fonte principal dos bilhões de dólares que entram em nosso país em fevereiro. E esta rede de TV detém os direitos exclusivos de transmissão do carnaval. Eles estão preocupados, na realidade é com seus lucros e não estão nem aí para a segurança da população e a manutenção da ordem social, principal argumento que usam para combater o movimento grevista. Portanto, quando formos assistir aos noticiários da TV, é preciso saber ver nas entrelinhas das notícias, observar o que está por detrás delas, pois, em grande parte das vezes, é por trás das notícias que se escondem as maiores “sacanagens” contra o povo brasileiro.    


* Escritor. Geógrafo, Mestre e doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com

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