Foto: Tráfico clandestino de madeira. Fonte: revistapesquisa.fapesp.br |
Vinte
anos após a realização da conferência mundial “Rio 92”, a cidade maravilhosa
sedia mais um encontro mundial sobre meio ambiente, a “Rio + 20”. Este evento
ocorre no momento do ápice da crise econômica europeia, o que, já de cara, lhe
dá um caráter especial e particular. A grande crise estrutural do capital,
agudiza, ainda mais, a problemática ambiental que marca a sociedade moderna e,
desnuda, de forma gritante, a incapacidade deste modelo econômico em responder
aos grandes desafios ambientais, em superar as contradições no sentido de, pelo
menos minimizar os graves problemas socioambientais, frutos deste modo de
produção, que tenta aliar “desenvolvimento” econômico, com a mais-valia.
Se
fizermos o balanço das últimas conferências ambientais mundiais constataremos a
veracidade da equação que dá título a este ensaio (“Rio + 20” = 0), uma vez que
estes eventos não demonstraram nenhuma evolução na implantação de antigas
proposições, nem na formulação de novas propostas, que visassem, sequer, a
minimizar os gravíssimos problemas socioambientais que tanto afligem a
humanidade nos tempos d’agora. Pelo contrário, em diversas partes do planeta
verificamos uma voracidade ainda maior na exploração despreocupada, sem qualquer
planejamento, dos recursos da natureza, para fazer valer, satisfazer, ainda com
mais força, os anseios do lucro a qualquer custo.
A
“COP 15”, conferência mundial sobre as mudanças climáticas, realizada no ano de
2009, em Copenhagen [capital da Dinamarca] já deu mostras do tom que assumiriam
os grandes debates ambientais pelo mundo afora. Ou seja, nada mais de sério
seria discutido nos eventos futuros. Naquele evento, tudo se discutiu acerca de
economia, de aumento de lucros por parte dos países endinheirados, e o “choro”
dos países pobres que querem, a qualquer custo, uma fatia desse saboroso bolo.
Mas, em contrapartida, nada se discutiu em relação à aprovação de propostas que
visassem, de fato, a pelo menos minimizar os históricos impactos socioambientais
produzidos no planeta, às custas da humanidade nos tempos presentes, em função
da exploração descontrolada dos recursos naturais.
Hoje,
estamos às vésperas de mais um evento de envergadura mundial, cujo papel seria
o de discutir e realizar o balanço das propostas aprovadas na “RIO 92”. Neste
sentido, o circo da “Rio + 20” já está sendo montado na cidade maravilhosa. A
“lógica” do lucro a qualquer custo, defendido pelos grandes grupos
econômico-industriais tem por base a tal responsabilidade socioambiental,
visando a atenuar as incongruências do atual modelo de desenvolvimento
econômico, ao mesmo tempo em que “alivia” as “consciências” desses grupos [se é
que podemos falar de consciência ao
nos referirmos a tais grupos], diante dos gravíssimos problemas socioambientais
que aterrorizam a humanidade neste início de século XXI.
Em nome da tal responsabilidade socioambiental, assistimos a grandes setores da
indústria de cigarros, de agrotóxicos, de pesticidas, de herbicidas, de
produtos geneticamente modificados, falarem “de boca cheia” de responsabilidade
social e/ou ambiental. Na verdade, o grande mote das bandeiras ambientais, foi
apropriado pelo capital, com vistas a agregarem valores supostamente ecológicos
a seus produtos e aumentando, assim, seus já exorbitantes lucros. Desta forma,
estes grupos que ditam o destino e os rumos da economia mundiais, justificam a
exploração de mais recursos naturais, sua superprodução de venenos, de
supérfluos e descartáveis, aumentando, de forma exponencial, o volume de resíduos
[líquidos e sólidos] domésticos e industriais produzidos pelos setores com
maior carga poluidora do planeta. E, coincidentemente [acreditem se quiserem],
são estes mesmos grupos que financiam e patrocinam a “Rio + 20”. Aí, meus caros
leitores (as), fica difícil esperarmos alguma coisa de positivo desse evento do
Rio de Janeiro, neste ano de 2012. Então, diante dessas evidências, podemos
realmente verificar a veracidade da equação: “Rio + 20” = 0.
*
Escritor. Geógrafo, Mestre e doutorando em Meio Ambiente pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador e Professor da
Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário