Manifestação Rio+20 Fonte: redebrasilatual.com.br |
Valter
Machado da Fonseca*
Fica
até difícil iniciar este texto devido à imensa lacuna, ausência de resoluções e
proposições da conferência recém findada no rio de Janeiro, a Rio+20. Na verdade,
não podemos afirmar, com certeza, que o encontro acabou, pois parece que ele
sequer existiu. Não se pode afirmar o término de algo que nunca existiu. É
exatamente esta a ideia que fica na cabeça de todos, quando nos referimos à
conferência do Rio de Janeiro deste ano de 2012.
No momento em que o mundo clama por soluções
urgentes aos graves problemas socioambientais, fruto da estagnação das forças
produtivas do capitalismo, no momento em que a comunidade europeia enfrenta a
maior crise de toda sua história, crise esta que aponta claramente que este
modelo econômico já não mais se sustenta sobre suas próprias pernas, os chefes
de Estado e delegados de todo o planeta se reuniram na cidade maravilhosa para
não resolverem absolutamente nada.
O
que se viu nas entrelinhas desse encontro foi uma disputa entre os países ditos
“desenvolvidos” e os países “pobres” ou emergentes. Tudo girou em função de uma
disputa geopolítica do “Norte” contra o “Sul”, em nome de uma gigantesca
falácia, à qual denominaram de “economia verde”. Isto é absolutamente ridículo.
O que seria, de fato, uma “economia verde”? Trata-se de uma verdadeira panacéia
que, ao mesmo tempo em que se tenta esconder a crise estrutural do capital,
inventa-se um arcabouço teórico-discursivo que tenta agregar valores
pseudo-ecológicos ao mercado de capitais. Na verdade, o pano de fundo deste
evento foi desvendado nos encontros paralelos, onde as potências capitalistas
buscavam, desesperadamente, um remédio para sanar um sistema agonizante, em
crise terminal.
A
comprovação de tudo isto, foi o documento final apresentado pelo governo
brasileiro. O qual até a própria ONU criticou e depois voltou atrás devido às
enormes pressões da chancelaria brasileira. Que fiasco! O tal documento final
não apresenta nenhuma resolução concreta, não aponta nenhum prazo, nenhuma proposta
real para enfrentamento da problemática socioambiental mundial. O tal orçamento
[fundo de recursos] apresentado timidamente [de 30 bilhões de dólares, uma
bagatela se comparado aos trilhões que estão destinando aos bancos europeus
para evitar sua falência], visando à efetivação do tal “desenvolvimento sustentável”
[ou insustentável], foi imediatamente recusado pelos países “desenvolvidos”.
O
tal documento final da ONU [da Rio+20] fala em eliminação da pobreza, sem, no
entanto dizer como, sem apresentar uma proposta sequer. Primeiro, porque tais
propostas não existem, segundo, porque sob este modelo econômico não existe
nenhuma proposta que possa sequer amenizar a situação de milhões de famintos e
miseráveis do planeta Terra. Emblemático mesmo, o que ficou em nossa memória
foi a imagem daquela criança canadense que simulou rasgar o tal documento
final. A imagem da decepção no rosto daquela criança foi realmente a fotografia
desta conferência do Rio de Janeiro. Esta conferência serviu, perfeitamente,
para mostrar para o mundo a ineficácia, a incompetência e a impossibilidade de
um modelo econômico necrosado, incapaz de desenvolver suas forças produtivas
materiais, que tenta, de todas as formas, enganar a si mesmo, ao tentar aliviar
as feridas que ele próprio fez sobre o planeta Terra.
* Escritor. Geógrafo, Mestre e
doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia, Pesquisador e professor da Universidade
de Uberaba. machado04fonseca@gmail.com
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