Fonte: wwf.org.br (2014) |
Prof. Dr. Valter Machado da
Fonseca*
A população brasileira assiste
atônita a um dos maiores períodos de estiagem dos últimos oitenta anos. A
população de São Paulo teve uma pequena mostra das mazelas da seca, com as
quais os nordestinos convivem durante toda sua vida. Na Serra da Canastra (MG),
pela primeira vez a nascente do Rio São Francisco secou literalmente ameaçando
o Rio São Francisco (o “Velho Chico”), já quase que totalmente desprovido de matas
ciliares em quase todo seu percurso e totalmente retalhado por complexos
sistema de usinas hidrelétricas. Por outro lado, os desmatamentos e queimadas
criminosos continuam a todo vapor na Floresta Tropical Amazônica.
Mas, o que tem a
ver a estiagem atual com a Floresta tropical Amazônica?
É notável o potencial da Floresta
Tropical Amazônica, não somente em diversidade biológica mas, sobretudo no que
se refere à sua capacidade de jogar água na atmosfera por intermédio da
evapotranspiração. A paisagem fitosionômica da Floresta Amazônica se destaca
entre os principais biomas do mundo pela fabulosa riqueza em biodiversidade,
destacando-se os diferentes estratos vegetais entrelaçados por cipós o que lhe
confere enorme heterogeneidade e, consequentemente, uma imenso potencial de
evapotranspiração.
A evapotranspiração é o fenômeno
que confere aos vegetais a capacidade de lançar gotículas d’água na atmosfera
por intermédio do sistema de poros capilares existentes nas folhas das diversas
espécies vegetais. A heterogeneidade das inúmeras espécies vegetais de
diferentes portes que vão desde os estratos pequenos, médios e grandes árvores,
conferem à Floresta Tropical Amazônica um potencial ímpar, jamais igualado por
qualquer outro ecossistema do planeta. Não é à toa que o volume de
precipitações pluviométricas na Amazônia é o maior do mundo, permitindo a
permanência, evolução e riqueza de tamanha biodiversidade.
Por outro lado, a
evapotranspiração produzida pela floresta é responsável pela formação de massas
de ar extremamente úmidas que pela força das correntes de ar leva esta umidade
para diversas regiões do Brasil e da América do Sul, edificando as condições
propícias para a ocorrência de chuvas em diferentes áreas, em especial na
região Sudeste do Brasil. Portanto, a remoção da vegetação amazônica, por
intermédio dos desmatamentos e queimadas irá interferir na formação das massas
de ar úmidas e, por conseguinte, na diminuição do volume de precipitações
pluviométricas (chuvas) em outras regiões brasileiras, a exemplo da região Sudeste.
Podemos afirmar, sem medo de errar, que a Floresta Tropical Amazônica funciona
como reguladora do equilíbrio térmico do planeta e como distribuidora de massas
de ar úmidas que influenciam o regime de chuvas nas mais diferentes regiões do
Brasil, especialmente na região Sudeste. A remoção da vegetação da floresta
tropical gera uma lacuna que é preenchida por massas de ar secas, impedindo a
geração de chuvas.
Por fim, podemos afirmar que o desmatamento contínuo,
crescente e ininterrupto na Floresta Tropical tem influência nos períodos de
estiagem cada vez mais frequentes em diferentes regiões brasileiras. Desta
forma, a Floresta Tropical Amazônica constitui-se num enorme patrimônio de
recursos naturais não somente do Brasil mas de todo o planeta. Ou freamos os
desmandos contra este relevante recurso da natureza ou estaremos fadados a nos
adaptar ou sucumbir diante de um regime de secas jamais presenciado em nosso
país em curtíssimo espaço de tempo. Cabe somente a nós decidir sobre o nosso próprio
futuro enquanto espécie neste planeta Terra.
*
Escritor. Geógrafo, mestre e doutor em Educação Pela Universidade Federal de
Uberlândia (UFU). Pós-doutorando em Educação do Campo e Agroecologia também
pela UFU. Docente do curso de graduação em Engenharia Ambiental e do Programa
de Mestrado Acadêmico em Educação da Universidade de Uberaba (UNIUBE).
Pesquisador das temáticas “Energia e interações complexas nos ecossistemas
terrestres e aquáticos”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário