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sábado, 29 de novembro de 2014

O CLIMA E O SIGNIFICADO DA FLORESTA TROPICAL AMAZÔNICA

Fonte: wwf.org.br (2014)

Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
A população brasileira assiste atônita a um dos maiores períodos de estiagem dos últimos oitenta anos. A população de São Paulo teve uma pequena mostra das mazelas da seca, com as quais os nordestinos convivem durante toda sua vida. Na Serra da Canastra (MG), pela primeira vez a nascente do Rio São Francisco secou literalmente ameaçando o Rio São Francisco (o “Velho Chico”), já quase que totalmente desprovido de matas ciliares em quase todo seu percurso e totalmente retalhado por complexos sistema de usinas hidrelétricas. Por outro lado, os desmatamentos e queimadas criminosos continuam a todo vapor na Floresta Tropical Amazônica.
Mas, o que tem a ver a estiagem atual com a Floresta tropical Amazônica? 
É notável o potencial da Floresta Tropical Amazônica, não somente em diversidade biológica mas, sobretudo no que se refere à sua capacidade de jogar água na atmosfera por intermédio da evapotranspiração. A paisagem fitosionômica da Floresta Amazônica se destaca entre os principais biomas do mundo pela fabulosa riqueza em biodiversidade, destacando-se os diferentes estratos vegetais entrelaçados por cipós o que lhe confere enorme heterogeneidade e, consequentemente, uma imenso potencial de evapotranspiração.
A evapotranspiração é o fenômeno que confere aos vegetais a capacidade de lançar gotículas d’água na atmosfera por intermédio do sistema de poros capilares existentes nas folhas das diversas espécies vegetais. A heterogeneidade das inúmeras espécies vegetais de diferentes portes que vão desde os estratos pequenos, médios e grandes árvores, conferem à Floresta Tropical Amazônica um potencial ímpar, jamais igualado por qualquer outro ecossistema do planeta. Não é à toa que o volume de precipitações pluviométricas na Amazônia é o maior do mundo, permitindo a permanência, evolução e riqueza de tamanha biodiversidade.
Por outro lado, a evapotranspiração produzida pela floresta é responsável pela formação de massas de ar extremamente úmidas que pela força das correntes de ar leva esta umidade para diversas regiões do Brasil e da América do Sul, edificando as condições propícias para a ocorrência de chuvas em diferentes áreas, em especial na região Sudeste do Brasil. Portanto, a remoção da vegetação amazônica, por intermédio dos desmatamentos e queimadas irá interferir na formação das massas de ar úmidas e, por conseguinte, na diminuição do volume de precipitações pluviométricas (chuvas) em outras regiões brasileiras, a exemplo da região Sudeste. Podemos afirmar, sem medo de errar, que a Floresta Tropical Amazônica funciona como reguladora do equilíbrio térmico do planeta e como distribuidora de massas de ar úmidas que influenciam o regime de chuvas nas mais diferentes regiões do Brasil, especialmente na região Sudeste. A remoção da vegetação da floresta tropical gera uma lacuna que é preenchida por massas de ar secas, impedindo a geração de chuvas.  
Por fim, podemos afirmar que o desmatamento contínuo, crescente e ininterrupto na Floresta Tropical tem influência nos períodos de estiagem cada vez mais frequentes em diferentes regiões brasileiras. Desta forma, a Floresta Tropical Amazônica constitui-se num enorme patrimônio de recursos naturais não somente do Brasil mas de todo o planeta. Ou freamos os desmandos contra este relevante recurso da natureza ou estaremos fadados a nos adaptar ou sucumbir diante de um regime de secas jamais presenciado em nosso país em curtíssimo espaço de tempo. Cabe somente a nós decidir sobre o nosso próprio futuro enquanto espécie neste planeta Terra.   


* Escritor. Geógrafo, mestre e doutor em Educação Pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-doutorando em Educação do Campo e Agroecologia também pela UFU. Docente do curso de graduação em Engenharia Ambiental e do Programa de Mestrado Acadêmico em Educação da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Pesquisador das temáticas “Energia e interações complexas nos ecossistemas terrestres e aquáticos”.

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