Foto: Condor, símbolo de liberdade Fonte: alexandrecabreira.com |
Valter
Machado da Fonseca*
Os ideais dos
Inconfidentes, comemorados neste dia 21 de abril, traz à tona uma série de
reflexões sobre a “liberdade”,
arduamente perseguida pelas incursões de Tiradentes e seus companheiros, nos
anos que precederam ao de 1789. O slogan
da bandeira de Minas Gerais “LIBERTAS
QUAE SERA TAMEN” ou Liberdade ainda
que tardia, vem reforçar a ideia da busca pela liberdade. Aliás, as
palavras inscritas na bandeira mineira é uma alusão ao lema da Revolução
Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade). As lutas emblemáticas e
seculares de diferentes povos e que marcam os principais períodos da história
da humanidade, sempre se esquivaram ou se esconderam atrás das justificativas
da busca constante pela liberdade.
Aliás, em nome
dela, inúmeros crimes, monstruosidades e barbaridades já foram cometidos em
incontáveis acontecimentos que marcam o percurso histórico da história das mais
diversificadas civilizações. O pior, é que os mais sangrentos ditadores se
apoiaram nos preceitos da liberdade para justificar atos monstruosos,
assassinatos bárbaros, até mesmo carnificinas às centenas e aos milhares.
Hitler queria uma Alemanha livre. Mas, livre de que? Benito Mussolini queria
uma Itália livre? Mas, o que era a liberdade para ele? Franco queria também uma
Espanha liberta, assim com Salazar em Portugal também pregava a liberdade. Estes
são personagens da história recente, sem mencionarmos os da história medieval e
antiga. Então, podemos verificar que a palavra liberdade sempre fez parte do
ideário de diversos períodos da nossa história, desde os tempos mais remotos
aos mais modernos.
Voltando ao
nosso “21 de abril”, observamos que o ideal revolucionário dos Inconfidentes
era nobre. A Inconfidência Mineira talvez tenha sido um dos primeiros e mais
significativos momentos da história da nossa luta contra a tirania e os
desmandos do Império Português. Aí, é quase que inevitável que façamos uma
comparação entre os nobres ideais da Inconfidência e os fatos que marcam a
história do Brasil de hoje. Aí, perguntamos: Será que Joaquim José da Silva
Xavier [o nosso Tiradentes] e sua companheirada estariam felizes e realizados
se vivessem nos tempos de hoje? Será que era esta a liberdade que, implacavelmente,
eles perseguiram? Será que os nossos Inconfidentes teriam levado a cabo sua
batalha se tivessem o poder de prever os acontecimentos futuros, dos dias
atuais?
Devemos aproveitar
esse dia 21 de abril para pensarmos sobre a atual situação política de nosso
gigantesco país. Há quanto tempo, o Congresso Nacional [CN] não faz outra
coisa, senão discutir falcatruas e maracutaias. Será que alguém sabe responder,
ao certo, por quantas Comissões Parlamentares de Inquérito [CPIs] a nossa nação
passou, nestes últimos 20 anos? O tema CPI é tão recorrente que já virou moda. Já
não causa estranheza a ninguém, já não deixa o nosso povo alarmado. E, em anos
de eleições ele se torna mais recorrente ainda. Quantos problemas importantes o
povo brasileiro já não gostaria que tivesse sido, pelo menos, debatido no CN.
Não digo votado, mas, pelo menos debatido, discutido.
Assim, no dia 21
de abril, como no 7 de setembro eles voltam a realçar o termo “liberdade”. Querem
que o povo esqueça as falcatruas, a corrupção, os atos ilícitos, os desvios de
verbas dos congressistas de plantão, para idolatrar a liberdade, pela qual
estão se lixando, assim que passam as festividades e simbologias cívicas. É muita
hipocrisia para um país só, para um conjunto de governantes e parlamentares
que, a todo o momento, cospem, jogam na lama e desonram de forma vergonhosa os
ideais que constroem a memória histórica de nossa nação, a exemplo da
Inconfidência Mineira. E o pior é que ainda se espantam quando percebem que os
nossos três poderes perdem a total credibilidade diante da população de bem do
país. Aí, vêm com o papo furado: “É preciso resgatar a credibilidade das instituições
brasileiras” ou “É preciso reforçar o sentimento patriótico do povo”. Pura
demagogia barata e escandalosamente hipócrita e mentirosa.
Por fim, o que
vem a ser liberdade? Liberdade é um termo para o qual não existe significado
conceitual. Muito menos, pode ter significado na boca de canalhas que desonram
nosso território, que mancham de vergonha o nosso solo, nosso país, nossa nação
e nossa gente. Liberdade é um estado de
espírito que somente pode ser percebido e sentido por aqueles que
verdadeiramente escrevem a história de um país, com a pena molhada no sangue que
jorra dos corações realmente puros de homens e mulheres realmente de bem. E,
como estado de espírito, ela nunca poderá ser saboreada por aqueles mancham
nossa dignidade e pisoteiam covardemente nossas esperanças.
* Escritor. Geógrafo, mestre e
doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador e
professor da Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com
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