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quarta-feira, 18 de abril de 2012

TODO DIA ERA DIA DE ÍNDIO!

Foto: Cacique Galdino - Chefe indígena queimado vivo em Brasília.        
 Fonte: levantepopulardajuventude.blogspot.com

Valter Machado da Fonseca*
Este é o título da letra da canção de Jorge Ben Jor, brilhantemente interpretada por Baby Consuelo ou “Baby do Brasil”. Este título serve para que iniciemos uma reflexão acerca do “Dia do Índio”, comemorado, todo ano, no dia 19 de Abril. Mas, quem são esses povos chamados de “índios” ou “indígenas”? De onde vieram? Para onde foram? Digo, para onde foram, porque parece que já não existem mais. Na verdade, uma pequena amostra desses povos está por aí, na indigência de um país colonizado e dominado pelos europeus. De fato, esses povos deveriam ser chamados de autênticos brasileiros, se é que este país pode ser chamado de Brasil, uma vez que a árvore com este nome, assim como os “indígenas”, parece que já não existe mais. 
Quando digo que eles deveriam ser chamados de autênticos brasileiros, não o faço simplesmente pelo direito inalienável à posse dessas terras majestosas, mas, sobretudo, pelo amor que demonstraram por elas e, mais que isso, pela relação que sempre mantiveram com elas, esses povos, barbaramente denominados selvagens pelos “colonizadores” ocidentais. Mas, por que são chamados selvagens? Será porque não se subjugaram à escravidão imposta pelos povos ocidentais, visando à exploração implacável e desmedida dos recursos naturais das terras que pertenciam a eles mesmos? Será porque jamais se submeteram à cultura “branca” e machista imposta pelos povos europeus? Ou, será que eram “pagãos e selvagens” por não adorarem as mesmas santidades e idolatrias das religiões dos povos ditos “civilizados”?
Eis aí, boas indagações sobre as quais necessitamos refletir. Como autênticos brasileiros esses povos tinham por “deuses” a natureza que os proviam. Adoravam os elementos da Terra, mantiveram com eles uma relação de amor e respeito sublime. Adoravam as montanhas, as florestas, os campos, os animais, os vales, o sol, a lua. Estes eram os seus deuses! Onde eles viam as fontes de sua sobrevivência, os europeus “civilizados” enxergavam a fonte de exploração irrefreável, de cobiças, de matanças, de destruição, ganância, de lucro. Esses povos ditos selvagens diziam inexplicável a “lógica” dos povos brancos europeus. Para eles [os indígenas], as árvores só têm sentido quando de pé, pois, somente assim, dão frutos para saciar a fome, fazem sombra para o descanso da labuta. E, quando morrem, são sepultados à sua sombra e, assim podem descansar da longa batalha da vida. Assim, onde os europeus viam apenas fonte de acumulação de riquezas, de lucro desenfreado, esses povos [selvagens] viam a fonte eterna de sobrevivência. Aí, cabe a pergunta: quem eram os selvagens? Quem eram os civilizados?
Pois bem! Meus caros leitores! Esta é a filosofia de vida desses povos que não se curvaram à ganância e à escravidão impostas pelos povos [civilizados] europeus. Esta é a filosofia de vida dos povos, onde a organização social destaca a sabedoria das experiências acumuladas dos mais velhos, dos anciãos. É a filosofia de vida de um modelo de sociedade, na qual os jovens respeitam os mais velhos, onde os jovens não têm a última palavra, onde a experiência de vida é sempre respeitada, como sinal da intervenção prática e real de homens e mulheres no mundo também real e concreto.
Hoje, a crise europeia demonstra o que os povos civilizados fizeram a eles mesmos. No continente Sul-americano e, em especial no Brasil, assistimos ao resultado da exploração desordenada dos nossos recursos naturais, ensinada pela supremacia dos povos “civilizados” da Europa Ocidental. Hoje, para os remanescentes desses povos guerreiros, altivos, que não se vergaram, diante da exploração europeia só restam lembranças dos tempos em que as terras eram sua fonte de vida. Hoje, para o que sobrou deles ficam as angústias de um tempo “moderno”, verdadeiramente selvagem, onde seus representantes são queimados vivos na capital do planalto central do Brasil. Só restam a eles a dor, os gritos, os sofrimentos e os lamentos dos diversos “Galdinos”, que morrem à mingua em cada rincão deste imenso país. E, a natureza já dá mostra de cansaço, já dá sinais de que sente saudades! Que sente saudades dos tempos de outrora, dos tempos nos quais todo dia era dia de índio. 


* Escritor. Geógrafo, mestre e doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com

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