Foto: Prof. Valter Machado da Fonseca (2012). Fonte: Arquivo Prof. Valter M. da Fonseca |
Valter
Machado da Fonseca*
É chegado mais
um dia primeiro de maio, data histórica de luta e de luto para o conjunto da
classe trabalhadora mundial. A origem das comemorações do “Dia do Trabalho” ou “Dia
do Trabalhador”, remonta ao século XVIII, em especial na década de 1880. Esta década
ficou marcada pela gigantesca insurgência de amplos movimentos grevistas, em
particular nos EUA, nos quais a principal reivindicação foi a redução da
jornada de trabalho sem redução dos salários. A jornada de trabalho daquela
década era de 12 horas diárias ininterruptas, sem descanso semanal. Era mais que corriqueiro esta jornada de
trabalho se estender por até quinze horas de trabalhos ininterruptos. O movimento
legítimo da classe trabalhadora se expandiu por todo o território norte-americano,
ganhando mais vitalidade em Detroit, Nova Iorque e Chicago.
No dia 1° de maio de 1886, os
principais centros industriais norte-americanos foram paralisados por uma greve
geral, que assustou a burguesia local. Naquele dia os grevistas de Chicago se
reuniram em uma grande assembleia na Praça Haymarket, reivindicando a redução
da jornada de trabalho para oito horas e a melhoria das condições de trabalho. Como
resultado da repressão ao movimento operário, seus oito principais líderes,
vítimas de uma armadilha política, foram condenados à revelia, ao processo de
execução sumária em praça pública. Num julgamento vergonhoso, sete operários,
Albert Parsons, August Spies, Samuel Fielden, Michael Schwab, Adolph Fischer,
George Engel, Louis Lingg, foram condenados à morte e Oscar Neebe, a quinze
anos de prisão. Esta foi a origem do primeiro de maio. Como resposta à
carnificina de Chicago, os trabalhadores pararam de trabalhar, todos os anos,
no dia 1º de maio. Assim, a burguesia acabou por oficializar a data como “Dia
do Trabalho”.
A partir do dia primeiro de maio
de 1886, também conhecido como o dia dos mártires
de Chicago, o movimento da classe trabalhadora ganhou nova dinâmica e novas
formas de organização, na luta contra a superexploração da força de trabalho em
todo o mundo. Os sindicatos proliferaram por todos os cantos do planeta. Em todos
os países, nos mais diversificados continentes, a classe trabalhadora empreendeu
importantes lutas e obteve relevantes conquistas e vitórias.
Hoje, o capital se reconfigura,
por intermédio de sua faixada neoliberal, expressa na denominada globalização econômica
ou “Globalização como perversidade” como diria o nosso saudoso geógrafo, o
Prof. Milton Santos. A estratégia neoliberal do capital tem por uma de suas
principais metas, a fragmentação e enfraquecimento da classe trabalhadora e de
suas diversas formas de lutas. É a nova ofensiva generalizada do capital sobre
o trabalho em diversos cantos do planeta. Como isso, o capital introduziu o
sobretrabalho, a precarização e terceirização do trabalho, o processo de privatizações
de setores importantes da economia e o achatamento generalizado dos salários.
Os resultados da faixada
neoliberal do capital são verificados pelos milhões de trabalhadores em
condições de indigência em várias partes do planeta, os milhões de
trabalhadores em condições de miséria, de subnutrição, situados muito abaixo da
linha de pobreza. Isto fica muito mais evidenciado no continente africano, na Ásia
Central e em países das Américas Central e do Sul. Em todo o planeta são
milhares de trabalhadores [homens, mulheres e crianças] que morrem na
indigência, de subnutrição e/ou de jornadas duplas de trabalho. Tudo isto, sem
mencionar as filas quilométricas de desempregados que compõem a reserva de mão
de obra descartável a serviço do capital volátil e especulativo. São os
sintomas claros da barbárie generalizada que já se fazem mais do que
perceptíveis.
No Brasil, tentam maquiar a
realidade por intermédio de gráficos estatísticos. Isto para demonstrar que
estamos em situação privilegiada em relação aos trabalhadores que enfrentam o
desemprego estrutural resultante da crise estrutural da Europa e dos EUA. Mas,
o capitalismo é internacional e sua crise também o é. E as consequências dessa
crise estrutural também de refletirá em toda a América do Sul, inclusive no
Brasil. Cabe a todos comprometidos com as lutas dos trabalhadores levantarem
proposições que visem à reunificação da classe trabalhadora em todo mundo.
Por fim, se faz mais do que
necessário, realizar a leitura correta dos elementos que determinam a
conjuntura mundial, eixados na crise estrutural do capital. Faz-se
preponderante dialogar com a classe trabalhadora, único e verdadeiro motor que
pode alavancar a verdadeira transformação social em todos os países do mundo. E
tudo pode começar pela retomada do caráter da consciência de classe dos
trabalhadores. Caso contrário, assistiremos, de perto, ao declínio e fim de
mais uma etapa da civilização, via as gritantes monstruosidades de uma barbárie
da humanidade, o que nada mais é do que a destruição maciça da espécie humana
pelo próprio ser humano.
* Escritor. Geógrafo, mestre e
doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia. Pesquisador e professor da
Universidade de Uberaba. machado04fonseca@gmail.com
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