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sábado, 22 de setembro de 2012

A TECITURA DA VIOLÊNCIA URBANA

Fonte: humortadela.com

Por Valter Machado da Fonseca

Quando se fala de violência em especial, da violência urbana, as ideias primeiras que nos vêm à mente são referentes à sequestros, assassinatos, latrocínio, estupro, pedofilia, carnificinas, enfim, as notícias que a mídia mais explora.
Porém, as cenas relacionadas a fatos considerados menos importantes, pouco significativos e até mesmo ignorados pela mídia, ficam ocultas. Existem outros tipos de violência urbana, que passam despercebidos, propositalmente ou não, pela imprensa, que são tão significativos quantos os citados no primeiro parágrafo e, em grande parte das vezes, fazem parte do rol dos motivos que levam aos primeiros. Trata-se de formas de violência aparentemente não notadas, até certo ponto consideradas como parte da vida cotidiana, características dos modos de vida apressados, conturbados e estressantes da sociedade dos tempos d’agora.
São aquelas formas de violência camuflada, dissimulada, tais como o desrespeito aos idosos, aos deficientes, os tumultos e confusões nas filas de atendimento de diversos órgãos, a falta de paciência e irritabilidade diante de fatos corriqueiros do dia a dia, a falta de educação com o vizinho, com um transeunte, a incapacidade de dar um sorriso para a faxineira, para o ascensorista, com o atendente do balcão. Temos ainda aquela violência decorrente do trânsito, em momentos de congestionamentos, com o uso abusivo da buzina e do próprio xingamento e dos palavrões no trânsito. Ou, outras vezes, a própria imprudência dos motoristas diante dos pedestres, partindo do pressuposto de que o fato de o sujeito estar ao volante de um veículo lhe dá um grau de autoridade e preferência extremamente superiores aos pedestres.
Outra forma de violência própria dos tempos modernos se refere àquela que ocorre na sala de aula do aluno em relação ao professor e/ou do professor em relação ao aluno. Há ainda aquela violência dos filhos em relação aos pais e dos pais contra seus filhos. Existem ainda diversas formas de violência nos filmes, nos outdoors, na TV, nos comerciais tanto falados como escritos ou televisados. Então, essas atitudes, próprias da sociedade contemporânea, já ganharam o status de normalidade e, na grande maioria dos casos são desconsideradas enquanto violência.
Então, a sociedade da modernidade poderia ser perfeitamente rebatizada de “sociedade da violência e das banalidades” e, o pior de tudo, é que diversas dessas formas de violência urbana, foram devidamente formatadas e já possuem uma fatia do mercado que delas sobrevivem. São apropriadas pela indústria cultural e vendidas em enlatados para a TV e ou em enredos principais de diversos filmes. A indústria cultural transforma a violência urbana cotidiana em mercadorias, consumidas por boa parcela de crianças e da juventude. E, por incrível que pareça são perfeitamente vendáveis, aceitas sem restrições pelo mercado consumidor com o nome de cultura. Como é que pode isso? Devemos ficar atentos, pois, num descuido qualquer de nossa parte, os nossos valores íntimos, nosso sonhos mais sublimes, aqueles que mais prezamos, poderão ser encontrados à venda em qualquer boteco como uma reles mercadoria. O conceito de cultura, nos tempos presentes vem, sistematicamente, se transformando em sinônimo de banalidade, de mercadorias supérfluas e descartáveis a serviço dos oportunistas de plantão.
 

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