Fonte: humortadela.com |
Por
Valter Machado da Fonseca
Quando
se fala de violência em especial, da violência urbana, as ideias primeiras que
nos vêm à mente são referentes à sequestros, assassinatos, latrocínio, estupro,
pedofilia, carnificinas, enfim, as notícias que a mídia mais explora.
Porém,
as cenas relacionadas a fatos considerados menos importantes, pouco
significativos e até mesmo ignorados pela mídia, ficam ocultas. Existem outros
tipos de violência urbana, que passam despercebidos, propositalmente ou não,
pela imprensa, que são tão significativos quantos os citados no primeiro
parágrafo e, em grande parte das vezes, fazem parte do rol dos motivos que
levam aos primeiros. Trata-se de formas de violência aparentemente não notadas,
até certo ponto consideradas como parte da vida cotidiana, características dos
modos de vida apressados, conturbados e estressantes da sociedade dos tempos
d’agora.
São
aquelas formas de violência camuflada, dissimulada, tais como o desrespeito aos
idosos, aos deficientes, os tumultos e confusões nas filas de atendimento de
diversos órgãos, a falta de paciência e irritabilidade diante de fatos
corriqueiros do dia a dia, a falta de educação com o vizinho, com um
transeunte, a incapacidade de dar um sorriso para a faxineira, para o
ascensorista, com o atendente do balcão. Temos ainda aquela violência
decorrente do trânsito, em momentos de congestionamentos, com o uso abusivo da
buzina e do próprio xingamento e dos palavrões no trânsito. Ou, outras vezes, a
própria imprudência dos motoristas diante dos pedestres, partindo do
pressuposto de que o fato de o sujeito estar ao volante de um veículo lhe dá um
grau de autoridade e preferência extremamente superiores aos pedestres.
Outra
forma de violência própria dos tempos modernos se refere àquela que ocorre na
sala de aula do aluno em relação ao professor e/ou do professor em relação ao
aluno. Há ainda aquela violência dos filhos em relação aos pais e dos pais
contra seus filhos. Existem ainda diversas formas de violência nos filmes, nos
outdoors, na TV, nos comerciais tanto falados como escritos ou televisados.
Então, essas atitudes, próprias da sociedade contemporânea, já ganharam o
status de normalidade e, na grande maioria dos casos são desconsideradas
enquanto violência.
Então,
a sociedade da modernidade poderia ser perfeitamente rebatizada de “sociedade
da violência e das banalidades” e, o pior de tudo, é que diversas dessas formas
de violência urbana, foram devidamente formatadas e já possuem uma fatia do
mercado que delas sobrevivem. São apropriadas pela indústria cultural e
vendidas em enlatados para a TV e ou em enredos principais de diversos filmes.
A indústria cultural transforma a violência urbana cotidiana em mercadorias,
consumidas por boa parcela de crianças e da juventude. E, por incrível que
pareça são perfeitamente vendáveis, aceitas sem restrições pelo mercado
consumidor com o nome de cultura. Como é que pode isso? Devemos ficar atentos,
pois, num descuido qualquer de nossa parte, os nossos valores íntimos, nosso sonhos
mais sublimes, aqueles que mais prezamos, poderão ser encontrados à venda em
qualquer boteco como uma reles mercadoria. O conceito de cultura, nos tempos
presentes vem, sistematicamente, se transformando em sinônimo de banalidade, de
mercadorias supérfluas e descartáveis a serviço dos oportunistas de plantão.
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