Valter
Machado da Fonseca
É noite de lua cheia na floresta de árvores
douradas
A brisa da madrugada sopra de mansinho, com um
pouco de carinho
Lá em baixo, como um eco, o som da cascata é um
breve sussurro
Que relembra o tormento, o lamento do povo que
ali vivia
Era um povo nobre, de coração de aço que
prosperava liberto
Viviam sem tristeza em harmonia com a natureza
Lá longe, no alto do morro, no pico mais alto da
floresta
Sob o clarão esfuziante da lua, sentado sozinho,
o velho cacique
Traz na face enrugada, os traços marcantes da
nobreza
De um povo corajoso e forte que noutros tempos
desconheciam a vaidade
Viviam livres como o falcão, que nas alturas
constrói o ninho da liberdade
Hoje, solitário, triste, vivendo as lembranças
doloridas
No cume do pico, o ancião não fala, não grita,
não chora
Dos olhos cansados, apenas um brilho opaco,
embaçado
As rugas na testa, marcas da valentia de um povo
ousado
Destemido, que durante toda a vida lutou contra
a covardia
Os sulcos profundos dos cantos da boca mostram a
grandeza
Do bote certeiro, do guerreiro que lutou contra
o cativeiro
Do seu assento, no alto do morro o guerreiro
relembra
A antiga aldeia, cheia de valentes irmãos
As mulheres nuas, sem as roupas imundas da
hipocrisia
A nudez que expressava a liberdade, a recusa do
manto da covardia
As crianças que se banhavam, castas, nas águas
puras do grande rio
Como era bela a sua aldeia, como eram livres
seus guerreiros!
Durante o dia, a aldeia inteira trabalhava, se
agitava
As mulheres novas enfrentavam, com coragem, a
labuta da lavoura
As velhas sábias teciam redes de pesca,
ensinavam as crianças
Os homens jovens iam à mata em busca da caça e
do pescado
Os irmãos fumavam cachimbos, traçavam os
destinos
Do povo guerreiro, que se preparava para o
desafio do inverno
Hoje, o velho cacique não tem mais esperança,
Agora, só lhe resta a lembrança
Dos tempos felizes de liberdade, dos tempos de
outrora
Foram-se os jovens, as mulheres, os anciãos
A mão branca ambiciosa da covardia destruiu sua
nação
Hoje, não há mais alegria, nem festa nem dança,
nem caça
Das lembranças do velho guerreiro, no alto do
morro
Só sobraram fragmentos surrados de saudade
Não existe mais a aldeia do povo feliz e valente
No lugar da antiga aldeia, só sobraram as marcas
da trapaça
E, no alto do morro, o velho cacique é o último
representante
Da ousadia, coragem,
audácia e nobreza de uma raça!!!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMe lembrei da carta escrita pelo Chefe Seattle , " suje sua cama é um dia se afogará em seus proprios dejetos", deveriamos aprender mais com a cultura dos nativos americanos .
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