Fonte: blogs.diariodepernambuco.com.br |
Por Valter Machado da Fonseca
Andei por
caminhos longos, tortuosos, cheios de lama
Atravessei
vales profundos, imundos, mergulhei no poço sem fundo
Cortei
cerrados, me feri em espinheiros, caí no despenhadeiro
Fui cortado
pela lâmina, reluzente e afiada da navalha
No corpo
sujo, suado, em tecidos maltrapilhos, surrados
Estavam as
manchas escuras, envelhecidas pelo sangue da batalha
Mergulhei no
lamaçal fétido, do pântano encharcado
Equilibrei-me
nas pedras soltas, com pontas afiadas
Enveredei-me
pelo deserto, árido, sem vida, de calor sufocante
Sob o sol
escaldante, desejei por um breve instante
Soltar para
o infinito um interminável grito de socorro
Não sabia
que esse grito, perdido no infinito, encontraria o seu destino
Do outro
lado do horizonte, tinha alguém no mesmo desatino
Também
desabafava, e soltava com furor o mesmo grito de pavor
Seu pedido
em altos brados, também cortava o deserto
Parecia que
o outro atrás do horizonte, também desafiava
Os caminhos
tortuosos, os vales profundos, os cerrados e os espinheiros
Encontrara
um parceiro, talvez um companheiro, pra enfrentar a jornada
Enchi-me de
esperança, com forças redobradas,
Com as
pernas apressadas, segui em disparada
Em busca do
horizonte, distante, quase inatingível
Mas o desejo
da procura, a ânsia interminável do encontro
Criava da
areia fumegante, a esperança implacável
Da rapidez
do relâmpago, num curto tempo, cruzar o horizonte
Mas as
pernas fraquejavam, o peito arfava, o ar faltava
Os passos,
trôpegos, vacilavam como um bêbado na avenida
Os olhos marejavam,
a boca seca, a garganta sufocava
O chão se
aproximava da visão, as narinas dilatavam
À procura do
ar, inexistente, parado, sufocante
Por fim as
pernas vergaram, o corpo desabara na areia
Num último
esforço, rastejando a duras penas
Finalmente cruzei
o infinito e longínquo horizonte
Do outro
lado meus olhos procuravam em desespero
Não havia
nada, ninguém, somente o deserto, frio, vazio
O grito que
ouvira no horizonte, tornara-se um tormento
Era apenas o
som rouco...
Do eco
sombrio do meu próprio lamento!
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