Fonte: www.bdci.tv (2015) |
Prof.
Dr. Valter Machado da Fonseca*
Estamos
presenciando o gravíssimo problema da escassez hídrica, fruto do maior período
de estiagem dos últimos 80 anos. Vimos por intermédio da mídia nacional e internacional
afirmações embasadas em formulações extraídas de gráficos, os quais são
traçados em função de algumas variáveis atmosféricas e climáticas superficiais,
o que mostra que a ciência moderna é incapaz de analisar os eventos climáticos
ou os chamados “eventos extremos” considerando a totalidade dos fatores e
aspectos que interferem nas mudanças climáticas locais, regionais, nacionais e
globais.
Geralmente,
a ciência moderna tem a tendência de seguir os modismos e demandas ditados
pelos diversos governos, em especial os dos países capitalistas centrais (EUA e
União Europeia). Na verdade, os fatores econômicos são utilizados por estes
governantes como primeiro plano de análise das alterações do clima, falseando,
e/ou escondendo os verdadeiros fatores que interferem no grande ecossistema
planetário e determinando o elevadíssimo grau dessas mudanças climáticas.
É
difícil fazer com que o conjunto de países que comandam as principais
engrenagens do modelo econômico de produção aceitem a hipótese de que a mola
mestra (o lucro) que move este modelo econômico seja a principal responsável
pelas maiores anomalias climáticas que o nosso planeta vem experimentando. A
busca irresponsável pelo aumento exponencial do lucro cria mecanismos que
devoram uma quantidade incalculável de recursos naturais, o que desencadeia um
desequilíbrio ambiental sem precedentes na história deste planeta.
Não
é preciso ser nenhum pensador ou cientista para observar o grau de importância
da água para a manutenção e continuidade da vida de todas as espécies no
planeta Terra. Neste sentido, podemos afirmar que os recursos hídricos assumem
o lugar de centralidade no importante debate sobre as mudanças climáticas no
grande ecossistema terrestre. É importante ainda afirmar que eles (os recursos
hídricos) estão diretamente interligados, interconectados, com uma série de
outros recursos naturais, tais como a qualidade do ar, os solos, a vegetação,
enfim, ao conjunto de recursos da natureza que compõe o grande ecossistema
planetário.
Nesta
direção interpretativa, não basta realizar análises de gráficos, projeções e
estatísticas, pois as leis da natureza vão muito além dos números. É preciso
que observemos para além dos gráficos e estatísticas, que compreendamos a
interconexão dos ecossistemas, a ligação dos diversos recursos da natureza, se
queremos construir proposições efetivas para a sustentabilidade socioambiental
do planeta. Compreender além dos números nos leva a busca por propostas que
visem não somente parar as ações de agressão ambiental, mas, sobretudo,
planejar atividades que visem a recuperação imediata dos principais rombos que
a nossa tecnologia já provocou no planeta. E, isto significa rediscutir o
verdadeiro significado da tão propalada sustentabilidade dentro dos marcos dos
lucros capitalistas da sociedade do supérfluo e dos descartável.
* Escritor. Geógrafo, mestre e doutor pela Universidade
Federal de Uberlândia (UFU). Professor e pesquisador da Universidade de Uberaba
(UNIUBE). Membro e líder do grupo de pesquisas “Energia e Interações Complexas
nos Ecossistemas Terrestres (GEICET) – UNIUBE/CNPq.
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