Fonte: folha.uol (2015) |
Prof. Dr. Valter Machado da
Fonseca*
Novamente vem à tona a discussão
sobre racionamento de energia, em decorrência da má distribuição das
precipitações pluviométricas nesta transição dos anos 2014/2015. Como sempre,
procura-se uma explicação meramente técnica para o mesmo problema recorrente
com cada vez mais frequência. Em um artigo que escrevi já faz algum tempo,
abordei a crise de energia juntamente com a crise da super-geração de resíduos
sólidos, frutos do aumento exponencial da superprodução industrial visando à
aceleração do ritmo, da velocidade e da quantidade de mercadorias buscando o
atendimento dos mercados consumidores, cada vez mais vorazes.
Ora, para se realizar com
critérios e honestidade este importante debate, faz-se preponderante levantar
os principais aspectos e elementos que permeiam a discussão desta temática. A
superprodução de mercadorias necessárias ao atendimento dos mercados
inter/multi/transnacionais exige cada vez mais recursos naturais. Por sua vez,
a transformação destes recursos da natureza (matérias-primas) em mercadorias demanda,
no mesmo ritmo e mesma frequência, maiores quantidades de energia, sem a qual é
impossível a realização de quaisquer atividades humanas. Por outro lado, a superexploração
dos recursos da natureza promove um violento impacto socioambiental sobre o
planeta, causando desequilíbrios em importantes setores e elementos vitais para
o equilíbrio do ecossistema planetário, bem como para a própria manutenção do
bem estar do conjunto de seres vivos que mantêm a cadeia trófica do planeta
Terra.
Pois bem! Dentre os diversos
fatores e elementos atingidos encontra-se um recurso fundamental, vital, para o
equilíbrio dos ecossistemas, da cadeia trófica e para a própria continuidade da
vida no planeta: a água. A ação desordenada e descontrolada do homem sobre os
recursos naturais tem promovido uma séria de impactos de grande magnitude sobre
este recurso fundamental para a manutenção de todas as formas de vida
existentes no grande ecossistema terrestre. Embora, o volume total de água se
mantenha constante devido ao “Ciclo Hidrológico”, a quantidade de água potável
(própria para o consumo dos homens, animais e vegetais) tem diminuído
significativamente.
E o que tem a água
a ver com a crise energética? Ora,
o Brasil depende majoritariamente da energia hidrelétrica para a maior parte de
suas atividades econômicas e industriais. Acontece que este tipo de energia é
produzido a partir do potencial hidráulico dos nossos corpos d’água de superfície,
ou seja, nossos principais rios, os quais dependem exclusivamente do regime de
chuvas para manterem seu potencial hidrológico. Então, quaisquer anomalias
climáticas de maiores envergaduras irão influenciar para baixo ou para cima o
potencial hidrológico de nossos corpos d’água, isto é, pouca chuva irá
significar pouca água nos reservatórios; pouca água nos reservatórios significa
baixa capacidade de produção de energia elétrica nas turbinas das usinas,
portanto, os baixos índices de precipitações pluviométricos irão determinar os
picos de crises na produção das hidrelétricas.
Na verdade, a ação humana
desordenada sobre os recursos da natureza têm acelerado as crises constantes de
produção de energia, uma vez que a remoção da vegetação influencia, diretamente,
no regime de chuvas, em decorrência da diminuição da evapotranspiração que
auxilia no aumento da umidade do ar e, dessa forma na formação de nuvens. Ao
remover as diversas formações vegetais em função da urbanização desordenada
e/ou da expansão da fronteira agrícola, especialmente em função do cultivo de
monoculturas de exportação, o homem influencia de forma negativa para o
desequilíbrio dos índices de precipitações pluviométricas. Com a retirada das
grandes formações vegetais, das matas ciliares, das vegetações que protegem as
nascentes dos corpos d’água, o homem contribui de forma definitiva para o
aumento exponencial das anomalias climáticas. Assim, embora seja natural, em
diversas ocasiões, a diminuição das chuvas, o ser humano pode ser decisivo para
aumentar o ritmo, a frequência e a diminuição drástica do volume de
precipitações pluviométricas. Caso o homem mantenha este ritmo frenético de
impactos violentos sobre os recursos naturais, muito em breve ele poderá secar,
de forma irreversível, nossos principais corpos d’água superficiais,
ocasionando um desequilíbrio letal em toda a cadeia trófica do grande
ecossistema planetário.
* Escritor. Geógrafo, mestre e
doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor e pesquisador
da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Membro e líder do grupo de pesquisas
“Energia e Interações Complexas nos Ecossistemas Terrestres (GEICET) –
UNIUBE/CNPq.
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