Fonte: Gaia Nundah (2014) |
Prof.
Dr. Valter Machado da Fonseca*
Nas
últimas décadas, ou melhor, desde os anos 1960 que o homem vem constantemente
insistindo nas caríssimas viagens espaciais. Na verdade, a ciência cismou que
somente é possível compreender o funcionamento do planeta Terra, a origem das
espécies, dos corpos celestes por intermédio das observações de outras galáxias
e de outros planetas e corpos celestes. Mas, por que a ciência insiste nesta
lógica invertida se a humanidade ainda não decifrou o próprio planeta no qual
ela habita: a Terra.
Se
observarmos os avanços da ciência relativos ao desvendamento dos mistérios e
dos recursos de nosso planeta, notamos um atraso significativo na produção de
conhecimentos ligados à compreensão de nossos recursos naturais e de seus
elementos constitutivos. É fato, que pouco se sabe das regiões abissais do
fundo de nossos oceanos, bem como dos recursos e conhecimentos a elas
relacionadas. O pouco que se conhece das regiões mais profundas de nossos mares
e oceanos se deve aos estudos da Sismologia. Nos últimos períodos a ciência tem
realizado investimentos pesados em expedições espetaculares ao espaço sideral,
em detrimento da busca de conhecimentos científicos fundamentais cujas
respostas estão nos próprio ecossistemas terrestres.
Se analisarmos, por exemplo, a Floresta
Tropical Amazônica, perceberemos que apenas 20% de suas espécies florísticas
estão catalogadas e apenas 15% de seu princípio ativo são superficialmente
conhecidos. Ora, a biodiversidade florística da Floresta Amazônica representa
em torno de 33% de todas as sequências de DNA que a natureza combinou e
recombinou em todo o planeta. Apenas o potencial florístico da floresta
representa riqueza incalculável e o princípio ativo de suas espécies vegetais
podem representar a cura de diversos males e doenças, além de incalculável
potencial de recursos agronômicos, bioquímicos e farmacêuticos. Então, se a
ciência não conhece o funcionamento de seus próprios biomas, por que ela
procura no espaço (universo) soluções para os problemas do planeta?
Por
fim, é notório que o planeta Terra se constitui em um sistema vivo, dinâmico e
complexo que possui seus mecanismos de controle, evolução e funcionamento.
Neste sentido, se o planeta Terra, enquanto sistema vivo e complexo, é capaz de
se autorregular, ou seja, controlar seus mecanismos de funcionamento, então,
ela possui, com toda a certeza, as respostas que a ciência tanto procura para
além das fronteiras planetárias. Assim, a compreensão do funcionamento do nosso
próprio planeta é preponderante para que consigamos compreender a dinâmica do
universo, do qual o nosso planeta é um pequena, porém perfeita amostra.
Portanto, se queremos compreender o nosso papel e obter a tão procurada
resposta sobre quem somos nós, em primeiro lugar é preponderante que
compreendamos o nosso planeta, sua dinâmica e seus elementos.
* Escritor. Geógrafo, mestre e
doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor e pesquisador
da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Membro e líder do grupo de pesquisas
“Energia e Interações Complexas nos Ecossistemas Terrestres (GEICET) –
UNIUBE/CNPq.
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