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sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Por que compreender a Terra pelo lado de fora se estamos dentro dela?

Fonte: Gaia Nundah (2014)



Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
Nas últimas décadas, ou melhor, desde os anos 1960 que o homem vem constantemente insistindo nas caríssimas viagens espaciais. Na verdade, a ciência cismou que somente é possível compreender o funcionamento do planeta Terra, a origem das espécies, dos corpos celestes por intermédio das observações de outras galáxias e de outros planetas e corpos celestes. Mas, por que a ciência insiste nesta lógica invertida se a humanidade ainda não decifrou o próprio planeta no qual ela habita: a Terra.
Se observarmos os avanços da ciência relativos ao desvendamento dos mistérios e dos recursos de nosso planeta, notamos um atraso significativo na produção de conhecimentos ligados à compreensão de nossos recursos naturais e de seus elementos constitutivos. É fato, que pouco se sabe das regiões abissais do fundo de nossos oceanos, bem como dos recursos e conhecimentos a elas relacionadas. O pouco que se conhece das regiões mais profundas de nossos mares e oceanos se deve aos estudos da Sismologia. Nos últimos períodos a ciência tem realizado investimentos pesados em expedições espetaculares ao espaço sideral, em detrimento da busca de conhecimentos científicos fundamentais cujas respostas estão nos próprio ecossistemas terrestres.
 Se analisarmos, por exemplo, a Floresta Tropical Amazônica, perceberemos que apenas 20% de suas espécies florísticas estão catalogadas e apenas 15% de seu princípio ativo são superficialmente conhecidos. Ora, a biodiversidade florística da Floresta Amazônica representa em torno de 33% de todas as sequências de DNA que a natureza combinou e recombinou em todo o planeta. Apenas o potencial florístico da floresta representa riqueza incalculável e o princípio ativo de suas espécies vegetais podem representar a cura de diversos males e doenças, além de incalculável potencial de recursos agronômicos, bioquímicos e farmacêuticos. Então, se a ciência não conhece o funcionamento de seus próprios biomas, por que ela procura no espaço (universo) soluções para os problemas do planeta?
Por fim, é notório que o planeta Terra se constitui em um sistema vivo, dinâmico e complexo que possui seus mecanismos de controle, evolução e funcionamento. Neste sentido, se o planeta Terra, enquanto sistema vivo e complexo, é capaz de se autorregular, ou seja, controlar seus mecanismos de funcionamento, então, ela possui, com toda a certeza, as respostas que a ciência tanto procura para além das fronteiras planetárias. Assim, a compreensão do funcionamento do nosso próprio planeta é preponderante para que consigamos compreender a dinâmica do universo, do qual o nosso planeta é um pequena, porém perfeita amostra. Portanto, se queremos compreender o nosso papel e obter a tão procurada resposta sobre quem somos nós, em primeiro lugar é preponderante que compreendamos o nosso planeta, sua dinâmica e seus elementos.    


* Escritor. Geógrafo, mestre e doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor e pesquisador da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Membro e líder do grupo de pesquisas “Energia e Interações Complexas nos Ecossistemas Terrestres (GEICET) – UNIUBE/CNPq.

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