Fonte: ajrbastos.blogspot.com |
Prof.
Dr. Valter Machado da Fonseca*
Além do
horizonte deve ter algum lugar bonito para se viver em paz! Este primeiro verso
da canção de Roberto Carlos serve perfeitamente para iniciarmos o assunto desta
matéria. Quando olhamos a Terra do espaço sideral vemos como ela é azul. Isto
porque sua maior parte é recoberta por água. Mas, quando a observamos um pouco
mais de perto, verificamos que ela já não é tão azul assim. Isto porque, em
pouco mais de 100.000 anos, o homem já está conseguindo, sem muito esforço,
descolori-la, torná-la bem mais próximo do cinza e do marrom. Do cinza, devido
à quantidade de poluentes lançados à atmosfera diuturnamente, sem interrupção,
sem medir as consequências. Do marrom, devido à enorme de áreas desmatadas,
também diuturnamente, de forma despreocupada, levando extensas quantidades de
solos para o estágio de desertificação.
E
as águas? Em que estado elas estão?
As
águas, essência da existência e continuidade da vida estão, cada dia mais
poluídas, cheias de detritos, de coliformes fecais, de todos os tipos de
efluentes: líquidos e sólidos, domésticos e industriais, de resíduos tóxicos,
de metais pesados. No interior da Floresta Amazônica, a maior floresta tropical
do globo, as atividades ligadas à indústria da mineração lançam constantemente
imensas quantidades de mercúrio nos corpos d’água de superfície, contaminando
extensos e importantes mananciais. Assistimos há pouco tempo atrás, à
gigantesca mortandade de peixes no Rio Negro, Solimões e Amazonas, em
decorrência da prática descontrolada do garimpo do ouro e de outras atividades
ligadas à mineração.
É fato
que a água do planeta não vai acabar pelo menos por enquanto. Isto porque a
quantidade de água no planeta Terra é constante em virtude do “Ciclo da Água”,
que define a sua constância por intermédio do fluxo de evaporação e
precipitação, dentre outros fatores. Mas, o grande problema reside no fato da
insistência na contaminação despreocupada dos mananciais de água potável.
Somente o Brasil, possui 12% da quantidade de água potável do mundo. Há que se
destacar que o Aquífero Guarani, o maior reservatório de água subterrânea
possui 60% de sua capacidade em subsolo brasileiro.
Por
outro lado, no Norte da África, Ásia Central e região do Oriente Médio, a água
é um recurso natural extremamente escasso. Então podemos dizer que vivemos num
país imensamente privilegiado por dois motivos básicos: pela quantidade de
energia solar devido à nossa privilegiada posição geográfica (região
intertropical) e pela enorme (pelo menos por enquanto) quantidade de água
potável disponível para o consumo humano. Mas, enquanto isso o homem continua
descolorindo a Terra, tornando-a menos azul e mais marrom/acinzentada. Talvez,
daqui a alguns anos tenhamos que repetir a frase do Roberto: “além do horizonte deve ter algum lugar
bonito para se viver em paz, onde se possa encontrar a natureza e escutar o
canto dos pássaros”.
* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Docente e pesquisador pela
Universidade de Uberaba. pesquisa.fonseca@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário