Foto: Blog amagiadasetimaarte (2016) |
Prof. Valter Machado da Fonseca*
Ora, a
ganância criada pela própria ambição humana para manter intactos seus falsos
domínios gerados pela sede de consumo faz o homem escravo de se mesmo. Este
estado de coisas introjeta em sua própria mente a ânsia e o medo da perda de
bens materiais que, no final das contas, nem o próprio proprietário sabe para
que servem. Verificamos, com isso, a perda total da liberdade humana travestida
no apego às coisas banais e artificiais. Com isso, os pobres mortais,
habitantes da terra, perdem por completo a noção de felicidade e liberdade,
substituindo-as pela noção de posse a coisas que os levam à própria solitária.
Diante
disso, imagine se não existissem fronteiras, se pudéssemos andar livremente,
sem nos preocuparmos com a insegurança, sem ficarmos presos a posses ilusórias,
sem fantasmas nem falsos valores. Imagine se pudéssemos andar pelos campos,
irmos a terras longínquas sem passaporte e não tivéssemos que ter permissão
para atravessarmos as cercas. Afinal, para que servem as cercas? Para que
servem os arames farpados? Para que servem os condomínios fechados, senão para
nos escondermos de nós mesmos? Até quando o homem vai necessitar se defender de
sua própria espécie? Qual a verdadeira lógica deste modelo de sociedade, do
qual sobressaem o medo e a insegurança?
É
importante que façamos esta reflexão. É preciso que olhemos para dentro de nós
mesmos e descubramos a chave para abrir nossos próprios grilhões. É fundamental
acharmos os instrumentos para derrubar nossas cercas internas, as quais nos
impedem de ver o mundo das coisas e as coisas belas do mundo. É preciso,
urgentemente, que achemos a chave que destrave a nossa essência, para que, a
partir daí, possamos descobrir, de uma vez por todas, que a liberdade e a
felicidade não podem ser trancafiadas dentro de um terreno cercado, que esses
dois termos jamais combinarão com a opressão e com as cercas, que só servem
para decretar a nossa própria prisão.
* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutor (PhD) em Educação do Campo
e Agroecologia pela UFU. Pesquisador e
professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). pesquisa.fonseca@gmail.com
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