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domingo, 31 de julho de 2016

SOCIEDADE DOS INVISÍVEIS

Fonte: UOL (2015)



Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca
Quantas vezes você já parou para perguntar o nome da mulher ou do homem que varre a sua rua? Quantas vezes você já os cumprimentou? Quantas vezes você perguntou o nome do ascensorista de seu prédio ou do jardineiro de seu condomínio?    E aquele mendigo que sempre está na esquina? Aquela criança ou aquela mulher que dorme debaixo da marquise? E aquele catador de lixo? É chique a gente nominar seu ofício: “enchemos a boca” para dizer que ele trabalha com os “recicláveis”, ele cuida do nosso meio ambiente. Mas, na verdade, será que alguma vez já nos preocupamos em saber como é a vida dessas pessoas? O que elas pensam do mundo, da vida? Será que podemos considerar trabalho a atividade das pessoas que sobrevivem dos restos do que consumimos? Será que podemos considerar digno o trabalho das pessoas que sobrevivem do lixo, que reviram “os restos” das famílias abastadas em busca de alimentos para matar sua fome? Qual o projeto, qual a perspectiva de vida das pessoas que, durante 365 dias por ano, passam 24 horas sem saber se estará vivo no dia seguinte?
Há alguns anos (não me lembro bem quantos) um animal (um boi) premiadíssimo em todas as exposições agropecuárias engasgou com um pedaço de osso que estava na ração. Lembro-me que havia, aproximadamente, 12 veterinários em volta do animal. Aquela cena me chocou. Não que o animal não merecesse os cuidados, mas seria necessário uma dúzia de médicos para cuidar de um simples animal? Aí me veio à mente os milhares de pessoas que enfrentam, cotidianamente, as filas do SUS pelo país afora, desesperados à espera não de uma dúzia, mas de apenas um médico para consultá-lo. Veio-me à mente as centenas de pessoas que morrem nessas filas por falta de profissionais. Aí eu me pergunto; por que aquele boi precisa de doze profissionais? Por que ele vale mais que uma vida humana?
Prezado (a) amigo (a), o fato é que este modelo de sociedade coisifica o homem e a natureza. Atomiza as pessoas como partículas insignificantes. O homem nesta sociedade não passa de um objeto, descartável, cuja única função é vender sua força de trabalho em troca do florescimento da mais-valia: fio condutor e ponto nevrálgico do modelo de desenvolvimento da sociedade capitalista. O homem e a natureza são, sistematicamente, transformados em mercadoria a serviço do lucro. O que estava em jogo naquela cena do boi não era a preocupação com a bela aparência do animal, mas, sobretudo, o desespero, o medo de perder o lucro que aquele animal poderia proporcionar. E não proporcionou, pois ele morreu diante de uma dúzia de veterinários.

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