Fonte: UOL (2015) |
Prof. Dr. Valter
Machado da Fonseca
Quantas vezes você já
parou para perguntar o nome da mulher ou do homem que varre a sua rua? Quantas
vezes você já os cumprimentou? Quantas vezes você perguntou o nome do
ascensorista de seu prédio ou do jardineiro de seu
condomínio? E aquele mendigo que sempre está na esquina?
Aquela criança ou aquela mulher que dorme debaixo da marquise? E aquele catador
de lixo? É chique a gente nominar seu ofício: “enchemos a boca” para dizer que
ele trabalha com os “recicláveis”, ele cuida do nosso meio ambiente. Mas, na
verdade, será que alguma vez já nos preocupamos em saber como é a vida dessas
pessoas? O que elas pensam do mundo, da vida? Será que podemos considerar
trabalho a atividade das pessoas que sobrevivem dos restos do que consumimos?
Será que podemos considerar digno o trabalho das pessoas que sobrevivem do
lixo, que reviram “os restos” das famílias abastadas em busca de alimentos para
matar sua fome? Qual o projeto, qual a perspectiva de vida das pessoas que,
durante 365 dias por ano, passam 24 horas sem saber se estará vivo no dia
seguinte?
Há alguns anos (não
me lembro bem quantos) um animal (um boi) premiadíssimo em todas as exposições
agropecuárias engasgou com um pedaço de osso que estava na ração. Lembro-me que
havia, aproximadamente, 12 veterinários em volta do animal. Aquela cena me
chocou. Não que o animal não merecesse os cuidados, mas seria necessário uma
dúzia de médicos para cuidar de um simples animal? Aí me veio à mente os
milhares de pessoas que enfrentam, cotidianamente, as filas do SUS pelo país
afora, desesperados à espera não de uma dúzia, mas de apenas um médico para
consultá-lo. Veio-me à mente as centenas de pessoas que morrem nessas filas por
falta de profissionais. Aí eu me pergunto; por que aquele boi precisa de doze
profissionais? Por que ele vale mais que uma vida humana?
Prezado (a) amigo
(a), o fato é que este modelo de sociedade coisifica o homem e a natureza.
Atomiza as pessoas como partículas insignificantes. O homem nesta sociedade não
passa de um objeto, descartável, cuja única função é vender sua força de
trabalho em troca do florescimento da mais-valia: fio condutor e ponto
nevrálgico do modelo de desenvolvimento da sociedade capitalista. O homem e a
natureza são, sistematicamente, transformados em mercadoria a serviço do lucro.
O que estava em jogo naquela cena do boi não era a preocupação com a bela
aparência do animal, mas, sobretudo, o desespero, o medo de perder o lucro que
aquele animal poderia proporcionar. E não proporcionou, pois ele morreu diante
de uma dúzia de veterinários.
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