Total de visualizações de página

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

A CIDADE E AS CONTRADIÇÕES DO ESPAÇO URBANO

Foto: Prof. Valter Machado da Fonseca (2017)



Prof. Dr. Valter Machado Fonseca
É mister compreender a cidade como o palco e motivação dos conflitos. Nela observam-se os elementos perceptíveis e “imperceptíveis” da relação sociedade/natureza. Os primeiros referem-se aos ecossistemas naturais e aos modificados pela ação do “sujeito” (o homem) sobre o objeto (a natureza): os elementos bióticos e abióticos, os ecossistemas naturais e seu frágil equilíbrio, o espaço urbano, a concentração de capital, as diversas formas de poluição, dentre outros aspectos.
Os elementos “imperceptíveis” da cidade são resultados das disputas: a supremacia dos dominantes sobre os dominados; a expansão do abismo entre ricos e miseráveis; a concentração da riqueza material no hemisfério norte; a segregação socioespacial e as consequências nefastas da racionalidade técnica e científica.
A degradação do natural explica-se, destarte, por não atingir todos os homens indistintamente conforme enfatiza Theodor Adorno (1982, p.54): “Una humanidad general es ideologia porque escamotea en el hombre las nada mitigadas deferencias del poder social, la del hambre y superfluidad, la del espíritu y dúctil imbecilidad”. Diante dessas considerações, é possível enxergar a cidade como fruto do conjunto dos processos degradantes do ambiente (da natureza).
Desta forma, o urbano emerge para significação da cidade, enquanto palco dos conflitos, contradições, construção de representações significativas da razão de ser da subjetividade humana, dando a ela o conteúdo necessário à construção de sua essência. O urbano emerge, então, como característica das atividades humanas, das relações históricas e sociais do sujeito (re)significando, construindo a razão de ser das cidades.
Aí, os contraditórios do subjetivo humano e de sua relação com a natureza fluem entre os tijolos, concreto, armações metálicas, ruas e avenidas, praças, pontes e viadutos, isto é, percorrendo-a em todos os seus interstícios e labirintos. A atividade humana localizada e enquadrada numa porção da natureza, modificada pelo próprio homem, configura o espaço urbano. Portanto, o espaço urbano nada mais é que a cidade somada à atividade humana e que se (re)orienta e se reproduz num movimento contraditório e contínuo em cada período histórico da sociedade, orientado pelos aspectos históricos, sociais, políticos, econômicos e culturais que caracterizam a história da humanidade em cada período, e, cuja configuração atinge seu ápice aprofundando sua crise na sociedade capitalista da modernidade.
A relação urbano/cidade é muito bem definida pela metrópole, símbolo da modernidade e das contradições gritantes do modo de produção capitalista que rege a sociedade dos dias atuais. Devemos ver além da estrutura física de uma construção, além de concreto, cimento, ferro e vidro é preciso perceber sua função, sua significação histórica, a rede de vivências sociais, de relações de trabalho, da exploração da força de trabalho, do sofrimento, suor, risos e lágrimas envolvidos em sua edificação. Na sociedade do espetáculo (parafraseando Gui Debord) a cidade é como se fosse “o mundo das imagens”, reflexo das diferenças, desigualdades, fetiches e ilusões oriundas da sociedade de classes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário