Foto: Prof. Valter Machado da Fonseca (2017) |
Prof. Dr. Valter
Machado Fonseca
É mister compreender a
cidade como o palco e motivação dos conflitos. Nela observam-se os elementos
perceptíveis e “imperceptíveis” da relação sociedade/natureza. Os primeiros referem-se
aos ecossistemas naturais e aos modificados pela ação do “sujeito” (o homem)
sobre o objeto (a natureza): os elementos bióticos e abióticos, os ecossistemas
naturais e seu frágil equilíbrio, o espaço urbano, a concentração de capital,
as diversas formas de poluição, dentre outros aspectos.
Os elementos
“imperceptíveis” da cidade são resultados das disputas: a supremacia dos
dominantes sobre os dominados; a expansão do abismo entre ricos e miseráveis; a
concentração da riqueza material no hemisfério norte; a segregação
socioespacial e as consequências nefastas da racionalidade técnica e
científica.
A degradação do natural
explica-se, destarte, por não atingir todos os homens indistintamente conforme
enfatiza Theodor Adorno (1982, p.54): “Una humanidad general es ideologia
porque escamotea en el hombre las nada mitigadas deferencias del poder social,
la del hambre y superfluidad, la del espíritu y dúctil imbecilidad”. Diante
dessas considerações, é possível enxergar a cidade como fruto do conjunto dos
processos degradantes do ambiente (da natureza).
Desta forma, o urbano
emerge para significação da cidade, enquanto palco dos conflitos, contradições,
construção de representações significativas da razão de ser da subjetividade
humana, dando a ela o conteúdo necessário à construção de sua essência. O
urbano emerge, então, como característica das atividades humanas, das relações
históricas e sociais do sujeito (re)significando, construindo a razão de ser
das cidades.
Aí, os contraditórios do
subjetivo humano e de sua relação com a natureza fluem entre os tijolos,
concreto, armações metálicas, ruas e avenidas, praças, pontes e viadutos, isto
é, percorrendo-a em todos os seus interstícios e labirintos. A atividade humana
localizada e enquadrada numa porção da natureza, modificada pelo próprio homem,
configura o espaço urbano. Portanto, o espaço urbano nada mais é que a cidade
somada à atividade humana e que se (re)orienta e se reproduz num movimento
contraditório e contínuo em cada período histórico da sociedade, orientado
pelos aspectos históricos, sociais, políticos, econômicos e culturais que
caracterizam a história da humanidade em cada período, e, cuja configuração
atinge seu ápice aprofundando sua crise na sociedade capitalista da
modernidade.
A relação urbano/cidade é muito bem
definida pela metrópole, símbolo da modernidade e das contradições gritantes do
modo de produção capitalista que rege a sociedade dos dias atuais. Devemos ver
além da estrutura física de uma construção, além de concreto, cimento, ferro e
vidro é preciso perceber sua função, sua significação histórica, a rede de
vivências sociais, de relações de trabalho, da exploração da força de trabalho,
do sofrimento, suor, risos e lágrimas envolvidos em sua edificação. Na
sociedade do espetáculo (parafraseando Gui Debord) a cidade é como se fosse “o
mundo das imagens”, reflexo das diferenças, desigualdades, fetiches e ilusões
oriundas da sociedade de classes.
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