Foto: Prof. Valter Machado da Fonseca e Profa. Carmen Lucia Ferreira Silva (2017) |
Prof. Dr. Valter Machado Fonseca
O período sem luz, escuro, sombrio, sem
sol pelo qual passamos, dilacera nossas mentes, mutila nossos corações. Em vão,
olhamos para o horizonte, para a linha do infinito em busca de alguma luz, um
singelo acalento sequer para tecermos um fio de esperança no qual possamos
ancorar nossos projetos de vida, de seres humanos, de natureza.
Porém, nos tolhem qualquer iniciativa que
possa nos encaminhar em direção da saída da clausura que nos impõem. Tudo que é
sólido se desmancha no ar (plagiando o “velho Marx”), tudo que é concreto,
real, vira fluidez, se perde nos labirintos vazios, ocos, opacos da
desesperança forçada pela tortura dissimulada, pelas ações violentas que nos
trancafiam dentro de nós mesmos. Esta ditadura sutil, dissimulada, fluida nos
ataca em nosso âmago, em nossa intimidade em nossa essência de pertencimento a
qualquer coisa, a qualquer lugar, a qualquer valor.
Isto se dá porque já perceberam o ponto
central, nevrálgico de nossa existência, a nossa identidade enquanto seres
humanos, a nossa cultura, nossas ligações efetivas com os outros. Uma vez
dizimada nossa identidade, estará fatalmente decretada nossa morte, nossa razão
de ser neste planeta. Aí, neste estágio, estaremos completamente coisificados.
Então, é preciso fortalecer nosso potencial criativo, nossa fonte maior de
resistência, assim, nesta medida, as artes podem ser o único canal para a
organização de nossa resistência, da retomada e reedificação de nossa identidade.
Mas, quando falo de arte, não me refiro à
arte enlatada e formatada pela indústria cultural, sobre a qual disserta
eximiamente Theodor Adorno. Refiro-me à arte que vem da raiz de nosso domínio
sobre o princípio criativo, que nos diferencia do restante dos seres vivos.
Refiro-me às artes que servem de instrumento contra a alienação, de ferramenta
indispensável para forjarmos nossa autonomia diante da opressão e dos
opressores. Enfim, as artes podem vir a ser o feixe de luz que pode dissipar a
escuridão na qual vivemos nestes tempos de horrores.
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