Foto: Charles Chaplin (Tempos Modernos) Fonte: Word Press (2017) |
Prof. Dr. Valter
Machado Fonseca
As artimanhas capitalistas, em sua eterna
busca pela reprodução e expansão da mais-valia, não têm como lograr êxito em
suas empreitadas sem a introdução dos mecanismos de alienação no mundo do
trabalho, sobre todos os que vivem do trabalho. Assim, como em Marx, vimos que
a única forma de realização plena do ser humano (em suas inerentes atividades
laborativas) somente poderá se concretizar pela negação da própria alienação, o
capital, em sentido totalmente adverso e oposto só se realizará enquanto um
mecanismo de produção de mais-valia, envolto num processo de total e plena
alienação do trabalho humano. Assim, a alienação é a negação da condição plena
da realização humana e, ao mesmo tempo é, acima de tudo, a negação da autonomia
humana, em toda sua plenitude. Não há como falar de realização plena do homem,
em seu sentido mais genuíno, se sua existência está sob o controle dos
mecanismos a serviço da alienação capitalista.
O termo autonomia, sob o modo de produção
capitalista, tem sido alvo de intensas discussões, ao longo do processo
histórico desse modelo de sociedade e/ou de organização social. É um termo para
o qual não existe um conceito técnico específico, que passa totalmente por fora
de quaisquer formas de racionalidade técnica. É, portanto, uma expressão que
leva à busca de um estado de bem estar pleno, individualmente, e num coletivo,
mediado por relações socais, ou seja, é a realização humana em sua relação com
a natureza. É a plena realização humana no prazer da realização do próprio
trabalho. E, o capital, em sua busca obstinada e gananciosa aniquilou todas as
formas de realização plena do homem, enquanto ser social e universal, por
intermédio dos mecanismos explícitos e dissimulados de diferentes formas de
alienação.
Todas as possibilidades de criação e
realização humanas se exaurem, a partir do momento em que o capital transforma
o trabalho (de uma propriedade interna, inerente e específica do homem) para
uma propriedade externa do próprio homem, ou seja, numa atividade estranha e
alienada da própria essência do homem natural. Assim, o capital rouba do homem
sua essência criativa e sua possibilidade de realização plena, para colocá-la a
serviço da mais-valia. Neste sentido, o trabalho, “protoforma fundante” das
atividades humanas (nos dizeres de Ricardo Antunes) é convertido em mais uma
mercadoria a serviço da perpetuação da mais-valia capitalista.
A alienação aprofunda tanto o processo de
exploração da força de trabalho, colocando-a a serviço do mercado de capitais,
que o trabalho (que seria, fora da alienação, a forma de o homem enxergar a si mesmo
no produto de seu labor), passa a ser disputado (por intermédio de grandes
esforços e sacrifícios) como mais uma mercadoria necessária à sua mera
sobrevivência.
Assim, sob os marcos da exploração do
homem pelo próprio homem, do trabalho alienado, o mundo ilusório do capital é
que controla a existência humana, subvertendo valores, criando vontades,
desejos e necessidades artificiais, visando, em primeira instância e a qualquer
custo, a perpetuação da mais-valia, como mola mestra fundamental para a continuidade
do processo de reprodução contínua e expandida do capital. Então, a alienação
imposta pelo capital sobre o trabalho leva à eliminação de quaisquer
possibilidades de autonomia e realização humanas nos marcos dos domínios do
capital.
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