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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

ENCHENTES EM UBERABA: Um problema de engenharia ou falta de planejamento?

Prof. Valter Machado da Fonseca*

A cada ano que passa, a população uberabense se assusta mais, com o problema das enchentes e inundações no centro da cidade.  São milhões de reais de prejuízo para quem trabalha no centro da cidade e outros milhões de reais em obras de engenharia. Interessante é que os depoimentos dos moradores mais antigos da cidade apontam para a inexistência de tal evento há setenta ou oitenta anos atrás.
O mais curioso é que se ouvem justificativas, que vão desde as mais ingênuas até as mais superficiais, sobre os motivos das enchentes. É preciso que lembremos que a cidade cresceu. E pior! Cresceu sem nenhum planejamento urbano.
 Para compreender os motivos da ocorrência do fenômeno das enchentes é necessário resgatar a memória do município, por intermédio da localização geográfica, do relevo, da vegetação e da própria bacia hidrográfica que banhava o centro da cidade. Por que Uberaba ficou conhecida como a “cidade das sete colinas”?
E, onde estão essas colinas? Foram extintas pela falta de planejamento urbano, foram aplainadas, sua vegetação foi removida. Cobertas pela vegetação original, elas serviam de anteparo contra grandes volumes d’água, sua vegetação amortecia as águas pluviométricas, permitindo que se infiltrassem no solo e não escoassem superficialmente. Sem elas, a tendência [natural] das águas da chuva  é escoar das regiões mais altas paras as áreas mais baixas.
Segundo problema: no centro de Uberaba, existe um ribeirão que foi canalizado. Não é preciso ser nenhum especialista para saber que quaisquer cursos d’água superficiais, como rios, ribeirões, córregos e riachos possuem bacias de drenagem e de inundação, além de vales, por onde escoam as águas e que, servem para comportar o excedente de águas em épocas de enchentes e inundações. Então, quando chove suas águas transbordam por intermédio dos bueiros.
Terceiro problema: toda a vegetação que circundava a cidade foi removida, para dar lugar a atividades agrícolas. Acontece que esse cinturão verde ao redor da cidade auxiliava [e muito] na contenção das águas das chuvas que caíam nas áreas de maior altitude. Além disso, a vegetação que existia no centro da cidade também foi retirada para dar lugar à impermeabilização asfáltica. A cidade de Uberaba figura entre os centros urbanos menos arborizados do país, o que já provoca um micro clima denominado “Ilha de Calor”. Outro aspecto que chama a atenção é que uma boa parcela das áreas mais antigas da cidade era pavimentada por blocos de granito ou de basalto. Esse tipo de pavimentação permite que o fluxo d’água infiltre no solo com maior rapidez, o que não ocorre com o asfalto. Esses blocos foram quase que totalmente substituídos por asfalto.
Podemos concluir, assim, que o problema atual das enchentes e inundações no centro de Uberaba é decorrente de um conjunto de ações incorretas realizadas no centro da cidade e em seu entorno. Resumindo: uma total ausência de planejamento urbano/ambiental. Uma série de fatores conjugados faz com que milhões de m3 d’água sejam despejados na região central da cidade de Uberaba em ocasiões de chuvas intensas e torrenciais, alagando e inundando a região central da cidade. De nada adianta construir piscinões e mais piscinões. O problema das enchentes no centro de Uberaba não se resolve com soluções simples de engenharia.
É preciso desocupar o vale do ribeirão. Ao mesmo tempo, é preciso recompor a vegetação do entorno da cidade [através de um estudo da vegetação nativa ali existente] e, por último, é preciso elaborar [e executar, que é o mais importante] um projeto sério de arborização de todo o espaço urbano da cidade, além de estabelecer um limite claro para a localização das atividades agrícolas, uma vez que a plantação de vários produtos, dentre eles a cana-de-açúcar já está quase dentro de nosso quintal.  Infelizmente, só temos duas opções: ou se realizam ações planejadas ou estamos fadados a conviver com as enchentes e inundações, que a cada dia se tornam mais frequentes, graves, perigosas e violentas.


* Valter Machado da Fonseca é Escritor, Técnico em Mineração, Graduado em Geografia, Mestre e doutorando em Educação [com ênfase em meio ambiente] pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e docente da Universidade de Uberaba (UNIUBE).

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