Prof. Ms. Valter Machado da Fonseca
Há poucos meses atrás, o Brasil foi surpreendido com containers de lixo vindos da Europa e descarregados em nossos portos. É um acontecimento constrangedor, porém emblemático. O fato serviu, como uma luva, para fazer suscitar e revitalizar os debates e as discussões acerca da superprodução de efluentes domésticos e industriais, além de trazer o questionamento sobre o lugar dos países “em desenvolvimento” [ou subdesenvolvidos] diante dos olhos da denominada “sociedade civilizada” ou ocidental. Na verdade, as grandes conferências internacionais que têm “brincado” de debater os grandes e graves problemas socioambientais que tanto assolam e assustam a humanidade, não apontam nenhuma solução séria para a superprodução de efluentes e do lugar que ocupam os países pobres nestes debates. Eu insisto em ligar a produção de efluentes ao papel desempenhado pelas nações pobres, porque acredito que são questões interdependentes e interligadas.
Na verdade, os países pobres sempre se utilizaram e ainda se utilizam do rejeito, da sucata originada da tecnologia em desuso, ultrapassada e já abandonada pelas principais potências capitalistas industrializadas em nível mundial, em especial pelas nações europeias e norte-americanas. Essas potências industriais enxergam os países pobres como locais propícios para depositarem o rejeito de sua tecnologia, juntamente com seus efluentes domésticos e industriais. E, pasmem! Enxergam-nos, inclusive, como depósito de seus resíduos nucleares. Eis porque a questão dos containers europeus foi emblemática.
Por outro lado, ao analisarmos a sociedade do consumo, que para a parcela majoritária dos cientistas é igual à “sociedade do conhecimento”, podemos verificar uma série de conflitos e contradições que envolvem o discurso da superprodução de mercadorias, que justificam o ponto nevrálgico, o epicentro do capitalismo: a mais valia [o lucro]. Hoje, virou modismo os discursos “ecologicamente e politicamente” corretos da coleta seletiva e da reciclagem de resíduos. Não estou dizendo que esta prática é incorreta. O que afirmo é que este discurso, sorrateiramente e estrategicamente, foi apropriado pelos setores mais poluidores da indústria para justificar a superprodução de mercadorias e, consequentemente, maior consumo de recursos naturais, inclusive os “não renováveis”, o que vai gerar mais resíduos. Ironicamente, hoje, quem mais defende o discurso da coleta seletiva e da reciclagem são os setores mais poluidores dos grandes conglomerados agroindustriais. Com isso, eles conseguem a tão cobiçada certificação ambiental, o que vai agregar valores “ecológicos” a seus produtos e, em consequência, promover o aumento de seus já exorbitantes lucros e, ao mesmo tempo justificar o aumento exponencial de sua produção. Se existe quem recicla, podem produzir à vontade. Essa é sua “lógica”.
As grandes questões colocadas para a humanidade são: como frear a superprodução de mercadorias? Como planejar ações sustentáveis numa sociedade que cultua o lucro acima de qualquer outro valor? O que fazer com tanto lixo, cuja produção aumenta, de forma exponencial, à custa de recursos naturais que são potencialmente finitos? De que forma e onde armazenar estes resíduos? Na sociedade da modernidade, além do acúmulo dos efluentes domésticos e industriais mais comuns, verificamos também o aumento desenfreado dos resíduos tóxicos, a exemplo do lixo hospitalar, pilhas e baterias, metais pesados, resíduos nucleares e, até mesmo lixo espacial que viaja em torno do Planeta Terra [rejeitos e sucatas de foguetes, de satélites, de sonares, de radares, etc.]. A grande certeza que temos é que a maior parte desses resíduos possuem destinos certos: irão contaminar as principais fontes de vida no planeta ainda azul, como as águas, os solos, a atmosfera. Com isso, o futuro que nos espera, o planeta já anuncia desde os anos 60, com o aumento das catástrofes, às quais o homem chama de “naturais” como o “Buraco na camada de ozônio” [que felizmente já está sendo controlado], os grandes terremotos, maremotos, tsunamis, as “chuva ácidas”, as grandes enchentes e inundações [vide a chuva de granizo em Uberaba], o aumento da poluição atmosférica, as alterações climáticas, o aparecimento de novas doenças e a volta de antigas, o aquecimento global, dentre outros eventos altamente preocupantes para a humanidade.
Caro (a) Leitor (a)!
Diversas pesquisas apontam para a extinção da espécie humana em apenas mais alguns segundos (em tempo geológico) de existência sobre a face da Terra em decorrência de sua prática destruidora. Após a extinção do homem, a terra, com certeza, se recomporá de uma forma mais saudável, sem a ameaça da existência humana. Aí, a Terra terá conseguido levar a cabo sua reação, terá expulsado de seu organismo, da forma mais dolorosa, o vírus pernicioso da prepotência humana, o grande responsável por suas enfermidades e seu estado febril.
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