Foto: Final da Copa 2014. Fonte: UOL (2014) |
Por Juca Kfouri
O que é pior, o vira-latismo ou o
puxa-saquismo?
Se o primeiro se confundir com
espírito crítico certamente o segundo é pior, porque mera bajulação.
Comecemos pelo começo: a imagem do
Brasil depois da Copa é muito melhor do que, com carradas de motivos, se
imaginava antes dela.
Fez-se, em resumo, um bom anúncio do
país.
Porque houve a festa que se imaginava
que haveria nos estádios e não houve a tensão prevista fora dele.
Por incrível que possa parecer,
Joseph Blatter, o poderoso chefão da FIFA, tinha razão: a sedução do futebol
falou mais alto, ainda mais porque, paradoxalmente, se a Copa não apresentou
nenhuma seleção inesquecível, mostrou jogos formidáveis, como uma homenagem ao
país que já foi o do jogo bonito.
Repita-se para suavizar o que virá a
seguir: o Brasil ganhou a vigésima Copa do Mundo da FIFA e ainda por cima
prendeu gente dela que há décadas atenta contra a economia popular, um legado
inestimável, exemplar, digno de ser aplaudido de pé assim como a hospitalidade
nacional.
Tamanhas vitórias não escondem as
derrotas e aqui não se fará nenhuma menção, além desta, à goleada alemã.
Por falar nisso, em alemães, nossa
Copa foi muito melhor que a da África do Sul, mas não foi, como organização,
melhor que a de 2006.
Claro, da Alemanha se espera
perfeição e a Alemanha esteve perto disso. Do Brasil esperava-se uma catástrofe
e o Brasil ficou longe disso.
Contudo, na Alemanha não foram
construídos elefantes brancos como os de Manaus, Cuiabá, Natal e Brasília,
cujas contas jamais serão pagas a não ser que ocorra mais um milagre
brasileiro.
Lá não morreram tantos trabalhadores,
nem caiu viaduto com duas mortes, nem se desalojou tantas famílias, nem nada
custou tanto a ponto de a nossa Copa ter superado o custo dos três últimos
torneios e nenhum estádio foi invadido por torcedores como o Maracanã pelos
chilenos. Tampouco faltou luz no jogo de abertura.
Esquecer tais fatos em nome da imagem
externa é que é o verdadeiro vira-latismo, como se a aprovação estrangeira nos
bastasse.
É verdade sim que o governo federal,
um mês antes de a Copa começar, partiu em busca de empatar um jogo que perdia
por 4 a 0 e que conseguiu vencer, digamos, por 6 a 5 — o que exige elogios ao
ataque assim como críticas à defesa.
Ocorre que há quem queira fazer
apenas elogios e outros que só desejam criticar, todos movidos ou por cegueira
partidária ou por outros interesses.
Não se trata de negar o sucesso da
Copa, mas de dizer que poderia ser melhor. Tudo, aliás, sempre pode ser melhor,
por melhor que tenha sido.
Trata-se de não esquecer o quanto
custou em vidas e dinheiro, em desalojamentos e atrasos, em remendos de última
hora, uma porção de coisas para as quais os estrangeiros não estão nem aí, mas
que devem preocupar os que estão aqui e que, enfim, pagarão a conta.
Porque outro legado da Copa é a
consciência de que megaeventos são muito bons para quem os promove e para as
celebridades que gravitam em torno, mas não são necessariamente bons para quem
os recebe, razão pela qual será excelente se os próximos forem submetidos à
consulta popular.
O turista que veio não se hospedou
nos melhores hotéis nem comeu nos melhores restaurantes, preferiu albergues ou
sambódromos, lanchonetes ou churrasquinhos de gato.
Até mesmo os aeroportos inconclusos
(o de Brasília é simplesmente espetacular, registre-se) suportaram bem a carga,
entre outras razões porque o movimento foi menor que o normal neste período.
Em resumo: o Brasil ganhou a Copa de
virada e o resultado pode ser considerado excepcional, digno de comemoração
para irritação dos vira-latistas.
Mas não foi de goleada como bimbalham
os puxa-sacos.
Além do mais, se o jogo acabou para o
mundo, segue correndo no nosso campo. A um custo que ainda será mais bem apurado.
Disponível em: http://blogdojuca.uol.com.br/2014/07/copa-do-mundo-no-brasil-um-primeiro-balanco/
Acesso em 14 de julho de 2014.
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