Foto: Fóssil Uberabasuchus terrificus Fonte: Acervo de Peirópolis |
Por NTV
Destacado
polo de pesquisa paleontólogica no Brasil, Uberaba, no Triângulo Mineiro,
trabalha para se tornar um dos 17 geoparques do país, título concedido pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)
para sítios geológicos com significativa relevância científica e natural,
devido à presença de consideráveis fósseis de dinossauros. Em fase inicial, a
proposta é popularizar a terra dos dinossauros a partir do reconhecimento do
título da Unesco.
A
ligação de Uberaba com a paleontologia tem início em 1945 por acaso. A
empreiteira contratada para mudar o traçado da ferrovia Campinas-Goiânia
encontrou uma ossada durante as obras. O paleontólogo brasileiro Llewellyn Ivor
Price foi chamado para analisar o material. In loco, ele verificou que o achado
era de dinossauros. Inclusive, “a bola” achada era o primeiro ovo de dinossauro
do continente americano. Depois disso, em busca de mais material, Price
analisou qual seria o local mais propício da região para a procura de outros
exemplares. No Bairro Peirópolis, às margens da BR-262, a ocorrência de
pedreiras de calcário poderia ser um indicador, o que era facilitado pela
escavação feita pelos operários. Mas um fator poderia prejudicar novas
descobertas: “Eram pessoas que só olhavam para o cal, e não saberiam jamais o
que é um fóssil”, diz o atual coordenador das pesquisas, Luiz Carlos Borges
Ribeiro.
Uma
equipe de escavações foi montada por Price para a cada ano buscar mais material
de pesquisa. Os trabalhos se estenderam de 1946 a 1974, anos antes da morte do
pesquisador. Todo o material recolhido no Triângulo Mineiro era levado para
análise no Rio de Janeiro, onde permanece até hoje compondo a coleção do Museu
de Ciências da Terra do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Na década de 1990,
o paleontólogo Luiz Carlos foi convidado para assumir o Centro de Pesquisas
Paleontológicas Llewellyn Ivor Price e o Museu dos Dinossauros, retomando assim
as buscas por fósseis. Atualmente, a equipe é a única do país a fazer
escavações regulares (a cada ano).
No
Brasil, atualmente, são 20 espécies identificadas, sendo três delas com
ocorrência em Uberaba: Baurutitan britoi, Trigonosaurus pricei e Uberabatitan
ribeiroi. Outros três grupos já foram identificados, mas é preciso achar novos
fósseis para caracterizar a espécie. “É a maior concentração de achados, porque
aqui se tem trabalho mais sistemático”, afirma Ribeiro, que, inclusive, tem uma
espécie de dinossauro em sua homenagem. O Uberabatitan ribeiroi é um dos três
titanossauros descritos na região. Trata-se do maior dinossauro brasileiro, com
mais de 20 metros de comprimento e seis metros de altura. Dele foram
recuperados mais de 200 fósseis. Assim como no caso da primeira descoberta, o
achado do primeiro vestígio se deu durante as obras de duplicação da BR-050. As
escavações foram feitas entre 2004 e 2006, com a retirada de mais de 300
toneladas de rocha.
“Os
dinossauros saurópodes, representados essencialmente pelo grupo dos
Titanosauria, têm destacada representatividade entre todos os táxons presentes
nos sítios paleontológicos de Uberaba. Seus fósseis ocorrem em abundância,
diversidade e grau de preservação singulares”, diz trecho da tese do professor
sobre a paleontologia em Uberaba. Apesar da predominância de dinossauros, que
representam mais de dois terços dos achados, a coleção dos sítios de Uberaba
tem 4,5 mil exemplares fósseis, incluindo crocodiliformes (crocodilos), quelônios
(tartarugas), anfíbios, peixes, mamíferos, moluscos e crustáceos, entre outros.
Tudo
isso somado colabora para a relevância da região como importante sítio
arqueológico, o que funciona como impulso para desenvolver o projeto do
geoparque de Uberaba. “Desde meados do século passado, a região de Uberaba vem
sendo alvo de intensas investigações paleontológicas. O motivo é que todo o
município compõe um dos maiores e mais importantes sítios paleontológicos do
Cretáceo continental brasileiro, com registros fósseis datados de 80 milhões a
65 milhões de anos de idade”, aponta trecho do livro Geoparques do Brasil –
Propostas, organizado por Carlos Schobbenhaus e Cassio Roberto da Silva, que
reúne propostas para 17 geoparques no Brasil, que tem apenas um geoparque, no
Ceará.
O
projeto referente à Terra dos Dinossauros ainda é embrionário. “Não pensamos de
imediato em submeter à UNESCO”, acrescenta Ribeiro. Ele pretende primeiro
engrossar o coro no município. “A UNESCO exige relatórios demais. Por isso, nossa
ideia não está suficientemente amadurecida”, afirma ele, que pensa em unir ao
projeto outros dois elementos referentes à cidade: os zebuínos e o espírita
Chico Xavier.
Segundo o diretor de publicações
da Sociedade Brasileira de Paleontologia, Juan Carlos Cisneros Martínez, apesar
de o geoparque não ter o intuito de transformar a região em área de
conservação, quando o projeto é bem implementado, como se dá na China e na
Europa, acaba por se valorizar. “Além de ajudar a proteger, contribui para que
a comunidade se sinta identificada com o patrimônio”, afirma o pesquisador. No
mais, o título pode funcionar como incentivo para fortalecer as pesquisas,
quebrando um dos principais problemas da área no país: a falta de recursos para
financiamento. Segundo Martínez, em outros países os pesquisadores atuam com
exclusividade, enquanto aqui o tempo é dividido com o trabalho em sala de aula.
O que é um geoparque?
É uma área geográfica onde o
patrimônio geológico faz parte de um conceito holístico de proteção, educação e
desenvolvimento sustentável. O geoparque deve levar em conta a configuração
geográfica de toda a região, e não apenas incluir locais de importância
geológica. A sinergia entre a geodiversidade, a biodiversidade e a cultura,
tangíveis e intangíveis do patrimônio são tais que os temas não geológicos
devem ser destacados como parte integrante do geoparque, especialmente quando
sua importância em relação à paisagem e a geologia possam ser demonstradas para
os visitantes. Em muitas sociedades, a história natural, cultural e social, são
indissociáveis e não podem ser separadas.
Disponível em: http://www.em.com.br/app/noticia/tecnologia/2014/07/21/interna_tecnologia,550086/peiropolis-no-triangulo-mineiro-pode-ganhar-titulo-de-geoparque.shtml
Acesso em 22 de julho de 2014.
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