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segunda-feira, 21 de julho de 2014

Peirópolis, no Triângulo Mineiro, pode ganhar título de geoparque.

Foto: Fóssil Uberabasuchus terrificus          Fonte: Acervo de Peirópolis



Por NTV
Destacado polo de pesquisa paleontólogica no Brasil, Uberaba, no Triângulo Mineiro, trabalha para se tornar um dos 17 geoparques do país, título concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para sítios geológicos com significativa relevância científica e natural, devido à presença de consideráveis fósseis de dinossauros. Em fase inicial, a proposta é popularizar a terra dos dinossauros a partir do reconhecimento do título da Unesco.
A ligação de Uberaba com a paleontologia tem início em 1945 por acaso. A empreiteira contratada para mudar o traçado da ferrovia Campinas-Goiânia encontrou uma ossada durante as obras. O paleontólogo brasileiro Llewellyn Ivor Price foi chamado para analisar o material. In loco, ele verificou que o achado era de dinossauros. Inclusive, “a bola” achada era o primeiro ovo de dinossauro do continente americano. Depois disso, em busca de mais material, Price analisou qual seria o local mais propício da região para a procura de outros exemplares. No Bairro Peirópolis, às margens da BR-262, a ocorrência de pedreiras de calcário poderia ser um indicador, o que era facilitado pela escavação feita pelos operários. Mas um fator poderia prejudicar novas descobertas: “Eram pessoas que só olhavam para o cal, e não saberiam jamais o que é um fóssil”, diz o atual coordenador das pesquisas, Luiz Carlos Borges Ribeiro.
Uma equipe de escavações foi montada por Price para a cada ano buscar mais material de pesquisa. Os trabalhos se estenderam de 1946 a 1974, anos antes da morte do pesquisador. Todo o material recolhido no Triângulo Mineiro era levado para análise no Rio de Janeiro, onde permanece até hoje compondo a coleção do Museu de Ciências da Terra do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Na década de 1990, o paleontólogo Luiz Carlos foi convidado para assumir o Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price e o Museu dos Dinossauros, retomando assim as buscas por fósseis. Atualmente, a equipe é a única do país a fazer escavações regulares (a cada ano).
No Brasil, atualmente, são 20 espécies identificadas, sendo três delas com ocorrência em Uberaba: Baurutitan britoi, Trigonosaurus pricei e Uberabatitan ribeiroi. Outros três grupos já foram identificados, mas é preciso achar novos fósseis para caracterizar a espécie. “É a maior concentração de achados, porque aqui se tem trabalho mais sistemático”, afirma Ribeiro, que, inclusive, tem uma espécie de dinossauro em sua homenagem. O Uberabatitan ribeiroi é um dos três titanossauros descritos na região. Trata-se do maior dinossauro brasileiro, com mais de 20 metros de comprimento e seis metros de altura. Dele foram recuperados mais de 200 fósseis. Assim como no caso da primeira descoberta, o achado do primeiro vestígio se deu durante as obras de duplicação da BR-050. As escavações foram feitas entre 2004 e 2006, com a retirada de mais de 300 toneladas de rocha.
“Os dinossauros saurópodes, representados essencialmente pelo grupo dos Titanosauria, têm destacada representatividade entre todos os táxons presentes nos sítios paleontológicos de Uberaba. Seus fósseis ocorrem em abundância, diversidade e grau de preservação singulares”, diz trecho da tese do professor sobre a paleontologia em Uberaba. Apesar da predominância de dinossauros, que representam mais de dois terços dos achados, a coleção dos sítios de Uberaba tem 4,5 mil exemplares fósseis, incluindo crocodiliformes (crocodilos), quelônios (tartarugas), anfíbios, peixes, mamíferos, moluscos e crustáceos, entre outros.
Tudo isso somado colabora para a relevância da região como importante sítio arqueológico, o que funciona como impulso para desenvolver o projeto do geoparque de Uberaba. “Desde meados do século passado, a região de Uberaba vem sendo alvo de intensas investigações paleontológicas. O motivo é que todo o município compõe um dos maiores e mais importantes sítios paleontológicos do Cretáceo continental brasileiro, com registros fósseis datados de 80 milhões a 65 milhões de anos de idade”, aponta trecho do livro Geoparques do Brasil – Propostas, organizado por Carlos Schobbenhaus e Cassio Roberto da Silva, que reúne propostas para 17 geoparques no Brasil, que tem apenas um geoparque, no Ceará. 
O projeto referente à Terra dos Dinossauros ainda é embrionário. “Não pensamos de imediato em submeter à UNESCO”, acrescenta Ribeiro. Ele pretende primeiro engrossar o coro no município. “A UNESCO exige relatórios demais. Por isso, nossa ideia não está suficientemente amadurecida”, afirma ele, que pensa em unir ao projeto outros dois elementos referentes à cidade: os zebuínos e o espírita Chico Xavier.
Segundo o diretor de publicações da Sociedade Brasileira de Paleontologia, Juan Carlos Cisneros Martínez, apesar de o geoparque não ter o intuito de transformar a região em área de conservação, quando o projeto é bem implementado, como se dá na China e na Europa, acaba por se valorizar. “Além de ajudar a proteger, contribui para que a comunidade se sinta identificada com o patrimônio”, afirma o pesquisador. No mais, o título pode funcionar como incentivo para fortalecer as pesquisas, quebrando um dos principais problemas da área no país: a falta de recursos para financiamento. Segundo Martínez, em outros países os pesquisadores atuam com exclusividade, enquanto aqui o tempo é dividido com o trabalho em sala de aula.
O que é um geoparque?
É uma área geográfica onde o patrimônio geológico faz parte de um conceito holístico de proteção, educação e desenvolvimento sustentável. O geoparque deve levar em conta a configuração geográfica de toda a região, e não apenas incluir locais de importância geológica. A sinergia entre a geodiversidade, a biodiversidade e a cultura, tangíveis e intangíveis do patrimônio são tais que os temas não geológicos devem ser destacados como parte integrante do geoparque, especialmente quando sua importância em relação à paisagem e a geologia possam ser demonstradas para os visitantes. Em muitas sociedades, a história natural, cultural e social, são indissociáveis e não podem ser separadas.

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