Fonte: www.diariodocentrodomundo.com.br |
Prof.
Dr. Valter Machado da Fonseca*
"Já me disseram que
eu quero colocar a cultura brasileira dentro de uma redoma de vidro pra que ela
não se contamine, e isso é bobagem. Sou a favor da diversidade cultural
brasileira. Só não admito é a influência de uma arte americana de segunda classe."
(Ariano Suassuna)
Faleceu
na tarde desta quarta feira (23 de julho de 2014) o grande escritor e pensador
nordestino Ariano Suassuna. Nasceu em João Pessoa (PB), no dia 16 de junho de
1927. Aos 87 anos, o grande escritor ainda estava no auge de sua lucidez.
Autor
de grandes obras como “Auto da Compadecida”, “O Romance d’A Pedra do Reino” e o
“Príncipe do sangue vai-e-volta”, Ariano se notabilizou para muito além de seus
textos. Era um árduo militante da cultura popular brasileira e, em especial, da
cultura de seu querido Nordeste. Podemos dizer que ele foi um ferrenho
militante em prol da diversidade cultural, ao contrário do que pensam muitos. Apesar
de ter o Nordeste brasileiro como a grande referência de seus estudos e fonte
genuína de suas maiores inspirações, o escritor realizava um combate aberto e limpo
contra a banalização cultural que ora invade o nosso país, seja por meio da escrita,
da TV ou do rádio.
Ariano
era adepto inigualável da defesa incondicional das raízes culturais brasileiras
e nordestinas, incorporando em seus textos, os mais variados matizes que dão um
colorido mais que especial na cultura de nosso povo, especialmente os mais
pobres e os trabalhadores de seu tão amado Nordeste. Era um estudioso ímpar,
especialmente pela interpretação dos mais variados detalhes que compõem o
escopo de nossa cultura popular. Ele incorporava em seus escritos, os aspectos
da fé, religiosidade, musicalidade, sotaques, lendas, mitos e simbologias que
estão presentes no imaginário do povo nordestino. Seus textos sempre foram
marcados por uma ironia “pura”, um sarcasmo crítico e uma boa dose de uma doce
ira contra os desmandos ofensivos à cultura popular. Sua crítica era doce,
suave e, ao mesmo tempo irônica, como pode ser observada no “Auto da
Compadecida”.
Com
certeza, Ariano tornou-se uma nova estrela entre os infinitos milhões de
constelações que povoam o firmamento. Ariano, apesar do medo terrível de voar
(em aviões), fez com que seu pensamento e suas ideias irreverentes voassem até
nós e as fincou no solo seco de seu nordeste, inaugurando mais uma fonte
límpida para todos que desejam saciar a sede da cultura popular em todas suas
variantes. Além de tudo, Ariano era um esperançoso. Tão esperançoso que
acreditou, durante toda sua vida, que o sonho de Machado de Assis era possível:
criar uma Academia Brasileira de Letras que servisse para alguma coisa. Este
era, sem dúvida alguma, o nosso doce Ariano Suassuna, fruto legítimo do solo de
nosso tão querido Nordeste.
*
Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia
(UFU). Pós-doutorando também pela UFU. Professor e pesquisador do curso de
Engenharia Ambiental e do Programa de Mestrado em Educação da Universidade de
Uberaba (UNIUBE). pesquisa.fonseca@gmail.com
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