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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Que democracia é esta que se vive no Brasil?

Passeata contra a ditadura em 1973

Valter Machado da Fonseca*
Hoje, em meus devaneios de toda madrugada, um assunto ocupa-me o pensamento e, definitivamente, não quer ir embora. Portanto, acho melhor extravasar meus devaneios, dar vasão a eles. Assim, compartilho-os com vocês, caros (as) leitores (as).
Estive pensando nos anos de chumbo, dos quais participei ao lado de todos os meus companheiros que ocuparam a trincheira da luta pelas liberdades democráticas, de muitos amigos que tombaram na luta contra o autoritarismo e a ditadura cruel e sanguinária imposta pelos generais. O que ganhei com isso? Tive a felicidade de ver o retorno da democracia, de antigos companheiros exiliados, mas também assisti à tortura e à morte (assassinato) covarde de muitos colegas lutadores. Eu mesmo amarguei dois longos anos nos cárceres da ditadura, na penitenciária de juiz de Fora (Minas Gerais). O crime que cometi? Lutar pelo direito de expressão, de liberdade e de poder participar da vida política do país.
Hoje, pensando longamente em tudo que passamos, em tudo que nos aconteceu naqueles anos de chumbo, eu me pergunto: o que deu errado em nossa luta? O que fizemos de incorreto para ver o nosso país afundado em falcatruas, em maracutaias, em esquemas de corrupção, em tráfico de influências, em crimes do colarinho branco, em esquemas de propinas, em lavagem de dinheiro? Vejo muitos dos que se diziam companheiros, que se proclamavam do mesmo lado da trincheira, que se diziam paladinos da liberdade, hoje, ocupando postos de alto comando e mandando a polícia bater nos trabalhadores que lutam por seus direitos, como foi o caso da luta heroica dos professores de Minas Gerais.
Hoje, vejo muitos ex-companheiros [digo “ex” porque não os quero e não os vejo mais como companheiros] que, inclusive participaram dos movimentos grevistas daquela época, hoje mandar “descer o cacete nos movimentos” legítimos da classe trabalhadora. Aonde será que enterraram os seus discursos de outrora? Aonde foram parar seus princípios em defesa da liberdade no sentido mais pleno da palavra? Será que existe diferença entre os cassetetes dos generais e os “cassetetes democráticos” dos governantes de hoje? Não! De fato, o que ocorre é que estes senhores, outrora “paladinos da liberdade”, “os grandes baluartes da luta pelas liberdades democráticas”, vergonhosamente se venderam. E o pior! Grande parte deles se vendeu para aqueles mesmos senhores que os torturam no passado. Para aqueles mesmos senhores que mataram seus parentes, seus amigos, seus companheiros de luta. Não! Definitivamente não dá para entender essas atitudes.
Hoje, estamos às vésperas de mais um pleito eleitoral. Em 2012 veremos novamente o grande circo eleitoral montado para exibir as mais mirabolantes falcatruas. Aquele que era seu inimigo este ano, pode tornar-se seu melhor amigo ano que vem. E ainda dizem: a política é assim mesmo!, ou, é preciso ter jogo de cintura!, as alianças fazem parte do jogo político!. Que nada, meus caros (as) leitores (as). Tudo não passa de um jogo realmente. Mas, é um jogo para nos enganar, enganar descaradamente o povo brasileiro, para manter as falcatruas, as propinas, a corrupção! Escolhem um partido como oposição e, o resto são todos aliados. Vocês já pararam para pensar quantos aliados tem as bases dos governos municipais, estaduais e federal? São incontáveis os aliados, ao passo, que a oposição é escolhida a dedo, de forma oportunista. Na verdade, a oposição acaba sendo nós mesmos, o povão. São todos aliados contra o povo brasileiro. E ainda dizem: tal partido é meu inimigo em nível federal, mas é meu aliado em níveis municipal e estadual. Ou vice-versa. Será que dá para alguém me explicar este jogo?
Pois é meus caros (as) leitores (as)! Faz-se urgente exigirmos que a nossa democracia seja, efetivamente, revista. Faz-se urgente passarmos a limpo nossa política, sob pena de vermos nosso povo e nosso país, cada vez mais, mergulhados no poço sem fundo da imoralidade, da falta de ética, da corrupção. É preciso abrirmos os olhos agora, pois, estamos quase diante de um tortuoso caminho de “não retorno” que pode levar-nos definitivamente para a auto destruição da humanidade, da barbárie em toda a extensão da palavra.


* Escritor. Geógrafo, mestre e doutorando em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU, professor da Universidade de Uberaba – UNIUBE. machado04fonseca@gmail.com 

sábado, 15 de outubro de 2011

Este dia 15 deve ser dedicado à resistência heroica dos educadores de Minas Gerais

Greve dos professores de Minas Gerais (2011)
Valter Machado da Fonseca*
Caros (as) leitores (as)! Gostaria de usar esta data de 15 de outubro de 2011 para fazer, juntamente com vocês, uma pequena reflexão e, ao mesmo tempo, prestar uma singela homenagem aos professores de Minas Gerais, categoria à qual pertenço.
Há cerca de um mês atrás, presenciamos o final do movimento grevista dos professores de Minas Gerais. Foram mais de 100 dias de greve, mais de três meses de resistência heroica dos trabalhadores da educação. O movimento de resistência dos professores serve perfeitamente para que possamos fazer importantes reflexões acerca da profissão docente no Brasil.
Mas, a luta dos professores de Minas deve ser analisada não apenas pelo contexto econômico, mas, sobretudo, pelo lugar que ocupa esta importante categoria da classe trabalhadora no Brasil e no mundo. No contexto das lutas dos trabalhadores da América Latina, as lutas dos educadores de Minas Gerais sempre assumiram lugar de centralidade, de destaque dentro do conjunto das lutas sociais do continente. É preciso chamar à atenção para a relevância, o lugar e o papel dos professores na sociedade em todos os tempos, mas, em especial nos tempos modernos.
Neste dia 15 de outubro, data dedicada ao dia dos professores, é fundamental questionarmos: qual o lugar ocupado pelos professores na sociedade? Qual o papel dos professores na vida de todo o povo, seja no Brasil, seja no restante do mundo? Qual a importância dos professores para todos nós? Diante dessas indagações, é notório que os professores participam da vida de todos nós. Toda a sociedade passa, necessariamente, parte da sua vida, pelas mãos dos educadores. Então, aqui cabe a pergunta: por que, algumas categorias de profissionais e o setor empresarial atingem remunerações exorbitantes, enquanto os professores ganham salários aviltantes, se todos precisam dos educadores para se qualificar?
A educação como base para a vida!
Dentre os profissionais da educação, a parcela mais sacrificada e menos reconhecida são os professores da Educação Básica. A própria palavra “básica” quer dizer “onde tudo começa”, “condições essenciais” para o início e sustentação da vida humana. Então, por que os governantes [que também passaram pelas mãos dos professores] não dão nenhuma importância para essa categoria profissional? Por que o governo do Estado de Minas Gerais recebe os mestres de seus próprios filhos e netos com violência e cassetetes? Por que os governantes precisam mentir descaradamente para tentar descaracterizar um movimento justo e legítimo da categoria dos trabalhadores da educação?
A educação e as promessas eternas!
Ano que vem, novamente será ano de eleições. E, eu aposto com quem quiser que, mais uma vez, a Educação será o principal tema a ser proclamado nos palanques eleitorais. Nesses palanques, onde ocorre um verdadeiro desfile de promessas descabidas e mentirosas, a educação vira assunto, no qual todos se dizem especialistas e, portanto, com direito a dar os mais diversos palpites e as mais diversificadas opiniões. Todos viram “educadores” em tempos de eleições, inclusive aqueles que utilizam a polícia e os “cassetetes democráticos” contra os professores em luta.
Neste sentido, gostaria de findar este breve artigo, prestando minha singela homenagem ao movimento grevista, legítimo, deflagrado pelos professores, não somente de Minas Gerais, mas em todos os recantos desse imenso e magnífico país. O movimento [a greve dos cem dias] dos professores de Minas Gerais, apesar de não ser sequer mencionada pelos opressores, com toda a certeza entrará para os anais das lutas heroicas deflagradas pela classe trabalhadora brasileira. Luta que jamais sairá das mentes e dos corações de todo o povo marginalizado e oprimido deste nosso imenso país.  

* Escritor. Geógrafo, Mestre e doutorando em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU. Professor da Universidade de Uberaba – UNIUBE. machado04fonseca@gmail.com

domingo, 2 de outubro de 2011

O essencial é invisível aos olhos...


Por Valter Machado da Fonseca*
Quando o francês Antoine de Saint-Exupéry escreveu esta frase em “O pequeno príncipe” ele levantou uma das mais importantes reflexões que se arrastaria pelos séculos afora e que iria fazer com que a humanidade indagasse sobre si própria. Esta célebre frase abre uma importante reflexão acerca das diferenças entre a essência e a aparência. Existe uma enorme diferença, um abismo, enfim, uma profunda distância entre “ver” e “enxergar”.
Esta frase que já nasceu com toda sua contemporaneidade, se torna ainda mais atual nos tempos presentes. Nos tempos onde o homem cria desejos e necessidades artificiais e se esquece, definitivamente, dos valores e das necessidades reais. Nesses tempos de hoje, nesta sociedade, o homem anula a realidade e iguala, de forma altamente cruel, a essência à aparência. Isto nos leva a buscar, outra vez, as reflexões contidas na frase de Saint-Exupéry: o que significa “ver” e o que significa “enxergar” o mundo e as coisas do mundo? Para que serve a vida se estamos sendo moldados para jamais buscar nele a nossa essência? Para que serve a vida, afinal, se estamos sendo moldados para nos contentarmos com a aparência do mundo e das coisas do mundo, aparência construída por poucos e totalmente distante de nossa verdadeira essência? Querem nos fazer crer que a essência de uns poucos tem que servir para muitos. Querem transformar a verdadeira essência do homem em aparência, em coisas, é a coisificação do homem, do mundo, da vida.
Por isso, o simples ato de “ver” está totalmente distante do nobre ato de “enxergar”. “Ver” o mundo e as coisas do mundo é simplesmente se contentar em admirá-lo, é se estagnar na tranquila postura de observar o mundo apenas em sua aparência, se recusando a buscar sua essência. Já o ato de “enxergar” o mundo é procurar por sua significação, é fugir da cômoda postura de simples admirador. É procurar, constantemente, por sua verdadeira função, seu real papel no mundo e, não simplesmente se contentar em admirá-lo. É também procurar a sua própria significação no “outro” que também compartilha contigo este mundo e as coisas do mundo. Qual é a sua relação com o outro neste mundo? Qual é a significação de termos a capacidade de raciocínio, de criação dentro deste mundo? Para que serve esta capacidade superior? Serve apenas para admirar o mundo e as suas coisas? Ou, será que serve para atuarmos neste mundo buscando, incessantemente, sua transformação? Diante da nossa sublime capacidade de compreensão, de criação, de transformação, o simples dom da observação mecânica, estática, perde totalmente o sentido. Por isso, o pequeno príncipe jamais se abdicava de suas interrogações. Por isso, ele jamais desistia de buscar suas respostas. Ele não se contentava com o simples ato mecânico de “ver” o mundo, ele queria “enxergar” o mundo. Ele jamais se contentava com a mera aparência, ele sempre perseguia a busca da verdadeira essência de estar, de existir neste mundo.
Assim, Saint-Exupéry, num texto que muitos afirmam ter sido feito para a infância, nos mostra de maneira altamente adulta que a aparência não passa do simples indício da existência de uma real essência. Que o dom de “ver” o mundo nos indica que é necessário evoluirmos para a sublime condição de “enxergar” o mundo, buscando, incansavelmente sua transformação. Indica-nos que devemos abominar afirmações como “se nascemos assim é porque assim deve ser”, ou “as coisas sempre foram assim”. São posturas como essas que transmitem a poucos a sensação de que podem moldar a grande maioria, de que podem criar desejos, necessidades segundo sua própria vontade. São posturas como essas que fazem com que poucos se sintam no direito de criar aparências segundo sua medíocre essência [agora sem aspas]. Por fim, meu caro (a) leitor (a), o que mais existe neste mundo são pessoas que possuem os olhos indefectíveis, visão incrivelmente perfeita, porém, não são capazes de “enxergar” absolutamente nada.  


* Escritor. Geógrafo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU/MG). Mestre e doutorando em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia (FACED/UFU). Pesquisador das temáticas “Alterações climáticas” e “Impactos das monoculturas sobre os biomas brasileiros”. machado04fonseca@gmail.com