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domingo, 20 de março de 2022

INTERVENÇÃO DA CONSCIÊNCIA NA ESCURIDÃO DA BARBÁRIE

 

Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca (2017)

Prof. Valter Machado Fonseca

Apresento esta breve postagem com uma frase do discípulo de György Lukács, o grande filósofo e pensador húngaro Ístvan Mészáros, “se tivermos sorte chegaremos à barbárie”, esta frase foi dita um pouco antes se seu falecimento no dia 1° de outubro de 2017, na cidade de Margate no Reino Unido.

Observem a atualidade visionária da frase, ela me leva a esta breve reflexão. Vivemos um tempo onde o pensamento se encontra imerso nas trevas, no mais profundo abismo da escuridão. Os tempos d’agora fazem emergir as mais diversificadas aberrações e monstruosidades que o cérebro de todos os que têm alguma forma de consciência pode suportar. Um grito de dor paira sobre o planeta e ecoa por todos os rincões do globo terrestre. Um lamento encobre os céus do nosso país, deixando nosso pensamento perdido num emaranhado complexo, numa mistura de silêncio e dor.

Silêncio provocado pela magnitude das aberrações que tomam conta do Brasil, pela repetição de fatos históricos monstruosos que se achavam adormecidos em nossas mentes e corações. Silêncio pela repentina quebra dos valores essencialmente humanos e que nestes tempos coisificam o homem, transformando a humanidade em um exército de robôs sob o comando da “lógica ilógica” da reprodução expandida do capital, cujo continuum depressivo faz emergir sua definitiva crise estrutural.

Dor pelas atrocidades de uma sociedade necrosada pelo abismo incontornável, sem fundo, da desigualdade social. O homem nestes tempos se aparta de quaisquer formas de consciência de “ser” neste mundo, transformando-se em coisas, em supérfluos para garantir o paraíso dos poderosos e o bem-estar de uma elite econômica a serviço da produção eterna de mais-valia. Dor por presenciarmos os incontáveis números de feminicídio nas periferias das grandes cidades, nas comunidades quilombolas, LGBTQIA+. Dor pelo genocídio indígena e dos despossuídos, esfarrapados e demitidos da vida nos dizeres de nosso saudoso professor Paulo Freire. Dor pelas diversas formas de preconceito, discriminação e opressão que emergem das mentes podres dos governantes do mundo e seus seguidores, especialmente em nosso país.

Nosso continente, nosso país, se encontram mergulhados num rio de lágrimas e sangue que escorrem das veias abertas da América Latina, plagiando a obra de Eduardo Galeano. É preciso que saiamos do estágio de latência, é preciso que enfrentemos as monstruosidades e os barbarismos daqueles que mentem e ceifam a vida de milhares de pessoas em nosso nome. Faz-se urgente a reconstrução de nossas consciências e de projetos autênticos de homem, de sociedade e de natureza. A barbárie apontada por Mészáros já estamos presenciando. O que será que há para além da barbárie? Qual será o preço a pagar para vermos para além da barbárie?