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domingo, 26 de fevereiro de 2012

A luz no fim do túnel!

Foto: A luz no fim do túnel.            Fonte: hals-hals.blogspot.com


Valter Machado da Fonseca*
Bons ventos indicam uma nova tendência cultural em nível global! Isto fica notadamente evidenciado se dermos uma passada de olhos nos principais eventos culturais que marcam este início de ano: o carnaval brasileiro e o Oscar 2012.
O carnaval brasileiro, diferentemente de sua linha puramente consumista dos últimos anos, tanto no sambódromo paulistano como na Marquez de Sapucaí no Rio de Janeiro, levou para a avenida sambas-enredos que visam fazer um resgate das raízes culturais do Brasil. Parece mentira, mas é a pura realidade! O carnaval brasileiro [excetuando as cenas da apuração do desfile de São Paulo] encheu nossos olhos com belíssimos sambas que narraram também maravilhosos enredos. Em São Paulo vimos sambas-enredos que contaram a história do movimento tropicalista e da obra do grande escritor baiano Jorge Amado. Na Marquez de Sapucaí ficamos maravilhados com enredos que retrataram a realidade nordestina, os antigos musicais, a magnífica trajetória de Clara Nunes, a influência da cultura africana [angolana] na história do povo brasileiro, a literatura de cordel, dentre outros sambas belíssimos. E a justiça foi feita, em toda sua plenitude, com a escola “Unidos da Tijuca” sagrando-se campeã do carnaval carioca de 2012 com um grande samba-enredo que homenageou o magnífico poeta e compositor Luiz Gonzaga. Uma justíssima homenagem às legítimas raízes da música popular brasileira.
Seguindo o mesmo caminho, vemos os principais filmes indicados ao Oscar 2012 saírem finalmente da linha consumista na opção pelo resgate das raízes legítimas da sétima arte. Esta tendência fica claramente evidenciada quando observamos entre a lista dos principais indicados ao Oscar deste ano, releituras belíssimas de grandes enredos cinematográficos, a exemplo da película de Martin Scorsese “A invenção de Hugo Cabret”, que pela primeira vez faz uma opção clara por um enredo infanto-juvenil. Vemos ainda enredos importantíssimos como películas que fazem uma releitura da história de Marilyn Monroe, outra da época do cinema mudo retratado nos conflitos e contradições vividos pelo personagem do filme “O Artista” e na presença de filmes como “Rio” que coloca em relevo os debates sobre as principais temáticas ambientais da atualidade.  
Os conteúdos evidenciados nestes dois eventos de envergaduras mundiais colocam à nossa frente indagações tais como: Será que finalmente está ocorrendo um novo despertar cultural no planeta? Será que a humanidade, finalmente, está se despertando contra a superficialidade e a banalidade do consumismo, marca indelével de uma sociedade em estado de putrefação? Será que finalmente a humanidade está se despertando em busca dos valores humanos que há tempos vinham se perdendo em função de uma cultura que se transforma paulatinamente em mercadoria? Será que estes novos traços evidenciados nestas manifestações culturais estão indicando a possibilidade de um novo paradigma que venha livrar a humanidade da barbárie?
Caros (as) Leitores (as)! Nesses novos tempos modernos, torna-se muito difícil verificar qualquer fio de esperança. Tomara que esta nova tendência evidenciada nestes eventos culturais seja potente o suficiente para reacender a chama da esperança e forte o bastante para apontar para a humanidade novos caminhos que a livrem da autodestruição. Tomara que estes novos traços culturais tenham vindo para nos mostrar que outro modelo de sociedade é possível, que outro mundo é possível. Que o homem ainda possa ter esperança de conquistar pelo menos um “fio de felicidade”, nem que seja por apenas um breve momento na história das civilizações.      


* Escritor. Geógrafo, Mestre e doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com

sábado, 25 de fevereiro de 2012

ESTRADAS DO BRASIL! [1]

Fotografia de cratera na rodovia. Fonte: aguadoceweb.com.br

Valter Machado da Fonseca**
Já faz algum tempo que eu pretendia abordar esta temática. O interesse por este tema veio justamente em função da série interminável de ações e consequências negativas e até mesmo criminosas decorrentes da ausência de planejamento que embasa as ações da Engenharia de Trânsito e Transportes do Brasil.
Quando Washington Luis, último presidente do país na República Velha, lançou como lema de sua campanha eleitoral o slogan “Governar é construir estradas”, mal sabia ele no que isso ia dar no futuro. Mal sabia ele que este “chavão” impensado iria abrir as torneiras para os maiores desmandos, abusos, “maracutaias”, desvios de dinheiro público, dentre inúmeros outros crimes decorrentes do que hoje denominamos de “Indústria do asfalto”.
Essa temática ganha maior destaque quando ocorrem os feriados como Semana Santa, carnaval, dentre outros feriados prolongados que constam de nosso calendário. Nestes eventos, as notícias mais corriqueiras estão ligadas ao aumento exorbitante do índice de mortalidade em decorrência de centenas de acidentes fatais ocorridos nas estradas brasileiras. O tema também se torna recorrente quando inicia o período chuvoso, em especial nos anos em que presenciamos grande quantidade de precipitações, ocasionando enchentes e inundações. É certo que grande parcela dos acidentes nas estradas brasileiras se deve a ações de imprudências no trânsito, embriaguez, excesso de velocidade, consumo de entorpecentes, além de diversos tipos de infrações no trânsito em nossa malha rodoviária.
Porém, grande parcela de acidentes se deve ao altíssimo grau de precariedade de nossas estradas e rodovias. É importante que se diga que nossas estradas costumam matar mais do que muitos países em guerra civil. A construção da malha rodoviária brasileira seguiu à risca a “lógica” do processo de urbanização de nosso país, isto é, tanto a construção de nossas rodovias, como o nosso processo de desenvolvimento urbano se edificam sobre um único pilar de sustentação: a ausência completa de quaisquer medidas e normas de planejamento urbano/ambiental.
Na época das chuvas e das famosas “operações tapa-buracos” é que podemos evidenciar com mais clareza a situação de nossas estradas e rodovias. São longos trechos de “borras de asfalto”, construídos com a finalidade de produzir verdadeiras crateras nas rodovias, com o único objetivo de se tornarem eternos sumidouros do dinheiro público. Podemos observar que um dos ministérios mais cobiçados do governo federal é o dos transportes e um dos órgãos mais disputados pelos politiqueiros de plantão é o DNIT. Isto porque se tornaram fontes eternas e inesgotáveis de consumo de verbas públicas, fontes de políticas de concorrências ilícitas e de falsas campanhas eleitoreiras. É a famosa “Indústria do Asfalto”.
Enquanto nos deixamos hipnotizar pelo sensacionalismo dado pela grande mídia a alguns crimes e julgamentos, não notamos, por exemplo, a quantidade interminável de assassinatos em série provocados pelas péssimas condições de nossas rodovias, fruto do descompromisso de governantes e políticos charlatães que vivem luxuosamente à custa do dinheiro público. Enquanto esses senhores se enriquecem ilicitamente e viajam para todos os cantos do país e do exterior em helicópteros e jatinhos, grande parcela de nosso povo é sepultada nas crateras assassinas de nossas estradas e rodovias. Vamos refletir sobre esta problemática. Maldita a hora em que Washington Luis abriu as torneiras dos desmandos e maracutaias com o seu lema “Governar é construir estradas”! Naquele exato instante ele anunciava o futuro assassinato de milhares de brasileiros.


** Escritor. Geógrafo, Mestre e doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

STRESS E DEPRESÃO: DOIS GRANDES MALES DO SÉCULO XXI

Fonte: hypescience.com


Valter Machado da Fonseca*

Em tempos passados, os termos “stress” e “depressão” eram totalmente desconhecidos da literatura científica e mesmo na vida cotidiana do povo comum em todas as partes do mundo. Por que será que a partir do final do século passado e, principalmente agora neste início do século XXI estes termos são utilizados com tanta freqüência? Será apenas mais um modismo? Não! Certamente não! Coincidentemente, estes termos atingem seu ápice juntamente com o avanço espetacular das tecnologias. Podemos dizer que se tratam das novas enfermidades. São as novas enfermidades do século XXI.

Quando surgiram estas novas modalidades de doenças chegou-se a afirmar que se tratavam de enfermidades ligadas aos setores mais ricos da população mundial e/ou a parcelas da dita “alta classe média”. Difundiu-se a máxima que isto era “frescura” ou “doença de rico”. Nos tempos mais remotos, a nossa tão conhecida e famosa “dor de cabeça” era o sintoma mais conhecido de cansaço mental. Logo que ela surgia muito se ouvia: você está cansado! Você anda trabalhando demais. Pois bem! Hoje, a nossa tão conhecida “dor de cabeça” persiste. Só que agora, ela vem associada ao stress e, geralmente, à depressão. Mais quais serão os reais motivos do stress e da depressão?

Pesquisas científicas em vários campos do conhecimento científico têm relacionado estas novas moléstias às consequências das tecnologias cada vez mais avançadas. Nos últimos anos, humanidade tem sido submetida a uma altíssima carga de efeitos e consequências dos avanços tecnológicos da sociedade moderna, ou como preferem algumas correntes, aos efeitos da modernidade. Os sonhos, projetos e desejos inerentes do ser humano, vêm sendo substituídos [em doses homeopáticas] por sonhos, projetos e desejos artificiais e fictícios. Antigamente, a tecnologia era voltada para o atendimento dos anseios e necessidades primárias e/ou secundárias da humanidade. Então, produziam-se mercadorias para sanar as necessidades de, pelo menos uma parcela da humanidade.

Hoje, ao contrário dos tempos pretéritos, fabricam-se os produtos e mercadorias para depois se criar as necessidades. Ou seja, fabricam-se produtos sem nenhuma significação para a vida humana e depois, com o auxílio de inúmeras e potentes ferramentas de marketing, convencem a população sobre as necessidades de consumir ou adquirir aqueles produtos. Invertem-se a lógica: primeiro cria-se o produto, depois cria-se artificialmente a necessidade. Aliado a tudo isso, a denominada “Globalização econômica” se consolidou por meio do desenvolvimento extraordinário dos meios de transportes, das telecomunicações, da engenharia genética e da informática, com ênfase para a altíssima evolução da Rede Mundial de Computadores (Internet) que conecta bilhões de seres humanos em frações de segundos. Não estou dizendo com isso que devamos ignorar ou descartar as novas tecnologias ou “promover uma volta à idade das cavernas”. O que defendo é a necessidade do bom senso no uso dessas tecnologias, de saber selecioná-las, de não nos deixarmos ser tragados, engolidos por elas.

Hoje, convivemos com um número gigantesco de informações veiculadas em altíssima velocidade. Estamos constantemente submetidos a altas dosagens de agrotóxicos, pesticidas, herbicidas e hormônios. Estamos constantemente sendo bombardeados por engarrafamentos de trânsito, pela vida corrida, pela poluição sonora e visual em altíssimo grau. Tudo isso acompanhado de perto pelos também exorbitantes índices de violência urbana. Grande parte da população [em especial uma grande parcela da juventude] passa seus horários de lazer em frente a um computador ou então consumindo enlatados em grandes Shoppings Centers. Perdemos, quase por completo, o contato com a natureza real. Trocamos o natural pelo artificial. Com isso, o homem se desumaniza! Estes são os principais agentes que os estudos apontam como causadores do stress e da depressão: os grandes males do século XXI. Na verdade, assistimos à clausura humana dentro da escuridão do fetiche tecnológico. O homem cada dia mais se torna refém de suas próprias criações. É o criador tornado-es prisioneiro de sua própria criatura. A humanidade se robotiza diante da sedução tecnológica, se enganando e “brincando de ser feliz”. Mal sabe ela que há tempos vem soterrando seus valores e a verdadeira felicidade nas montanhas de sucatas e rejeitos de sua própria tecnologia. Tecnologia pela qual se justificam guerras, se destroem valores morais, se brigam e se matam. É a humanidade sucumbindo diante de sua própria arrogância.     


* Escritor. Geógrafo, Mestre e doutorando pela UFU. Pesquisador e docente da Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

TODOS OS CAMINHOS LEVAM A ROMA?

Valter Machado da Fonseca*
Carnaval no Rio de Janeiro. Fonte: dicaserespostas.blogspot.com

Outro dia, conversava com um colega sobre as fantasias e analogias falsas, mentirosas e caluniosas que fazem acerca do povo brasileiro. Na época das “vacas magras” se questionava: como é que o nosso povo fazia para sobreviver com um magérrimo salário em meio a tantas crises e turbulências? Como o nosso povo sobrevivia com um salário mínimo miserável? Para responder a esses questionamentos especulava-se sobre o “jeitinho brasileiro”, mas ninguém até hoje consegue explicar com clareza de que se trata, de fato, esse tal “jeitinho”. Outros tinham a ousadia de dizer que o trabalhador brasileiro era a parcela que menos trabalhava no mundo. Outros diziam que ele [o povo] vive em função do futebol e carnaval, dentre várias outras aberrações.
Neste texto quero apresentar minha discordância profunda com grande parcela da mídia, intelectuais e setores formadores da opinião pública que tentam jogar a culpa dos principais problemas do país e até do mundo nas costas da parcela mais humilde da população e do povo trabalhador. Pesquisas científicas sérias realizadas em 2009 e 2010 nos EUA, Europa e Ásia demonstraram que o povo brasileiro está entre os setores da população mundial que mais trabalha no mundo. E este mesmo povo trabalhador brasileiro é responsável por expressivos setores produtivos da sociedade capitalista e constitui uma fatia muito expressiva do mercado consumidor mundial. Quem não se lembra do apelo feito pelo governo brasileiro ao nosso povo, no ano de 2008, para que fosse às compras (gastasse seus suados e minguados recursos) visando ao fortalecimento do mercado interno brasileiro, minimizando, dessa forma, a crise estrutural do sistema financeiro que batia, calorosamente, à nossa porta.
É interessante notar que os setores mais ricos da população têm a forte mania de jogar o ônus das crises nas costas da classe trabalhadora do país e, contraditoriamente, recorre a ela nos momentos das crises mais agudas. Nesses momentos, esses setores mais abastados financeiramente são os primeiros a “abandonar o barco”, quando a situação econômica do país se agrava, indo, sem cerimônias, aplicar seus gordos recursos em paraísos fiscais [no Caribe, por exemplo] deixando a nação à bancarrota, à deriva.

É preciso que não nos deixemos enganar pelo canto de sereia do setor mais expressivo da mídia brasileira, pois, ele não está preocupado com os problemas de nosso povo, mas sim com os interesses do grande capital inter/multi/transnacional. Fazem verdadeiras campanhas publicitárias e sensacionalistas à época que os setores mais carentes de nossa população sofrem com as grandes catástrofes. Ganham verdadeiras fortunas à custa do sofrimento dos setores mais pauperizados de nosso país. Nos momentos que as vítimas mais precisam do seu apoio, tiram o corpo fora, pois seu apoio já não lhes rende mais dividendos.

Nesses dias, observamos os noticiários com as manchetes raivosas da principal rede de TV brasileira sobre a greve da polícia baiana. Os apresentadores dos telejornais dessa TV aparecem com os olhos injetados de sangue, tentando transferir para o telespectador toda a raiva que eles demonstram pelo movimento grevista da polícia do Estado da Bahia. Ao invés de transmitir as notícias de forma neutra [princípio básico que norteia a ética do jornalismo], ao contrário, emitem opiniões, distorcem os fatos, grampeiam telefones a seu bel prazer, ferem os princípios democráticos mais elementares de nossa constituição federal. E, pasmem! Chegam a julgar e condenar pessoas como se pairassem sobre a população como juízes supremos.

Mas, fazem todo este teatro para esconder um único objetivo. Preservar os exorbitantes lucros que estes senhores [donos da TV] ganharão com a festa mais popular do Brasil, a qual foi transformada em verdadeira indústria: a indústria do carnaval, que rende bilhões de dólares. O motivo principal é que o movimento da polícia baiana ameaça a inviabilizar realização do carnaval. A possível falta de segurança nas ruas pode afastar os turistas estrangeiros, fonte principal dos bilhões de dólares que entram em nosso país em fevereiro. E esta rede de TV detém os direitos exclusivos de transmissão do carnaval. Eles estão preocupados, na realidade é com seus lucros e não estão nem aí para a segurança da população e a manutenção da ordem social, principal argumento que usam para combater o movimento grevista. Portanto, quando formos assistir aos noticiários da TV, é preciso saber ver nas entrelinhas das notícias, observar o que está por detrás delas, pois, em grande parte das vezes, é por trás das notícias que se escondem as maiores “sacanagens” contra o povo brasileiro.    


* Escritor. Geógrafo, Mestre e doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com