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sábado, 23 de junho de 2012

RIO+20: DA URGÊNCIA REAL À DECEPÇÃO TOTAL!

Manifestação Rio+20                          Fonte: redebrasilatual.com.br
Valter Machado da Fonseca*
Fica até difícil iniciar este texto devido à imensa lacuna, ausência de resoluções e proposições da conferência recém findada no rio de Janeiro, a Rio+20. Na verdade, não podemos afirmar, com certeza, que o encontro acabou, pois parece que ele sequer existiu. Não se pode afirmar o término de algo que nunca existiu. É exatamente esta a ideia que fica na cabeça de todos, quando nos referimos à conferência do Rio de Janeiro deste ano de 2012.
 No momento em que o mundo clama por soluções urgentes aos graves problemas socioambientais, fruto da estagnação das forças produtivas do capitalismo, no momento em que a comunidade europeia enfrenta a maior crise de toda sua história, crise esta que aponta claramente que este modelo econômico já não mais se sustenta sobre suas próprias pernas, os chefes de Estado e delegados de todo o planeta se reuniram na cidade maravilhosa para não resolverem absolutamente nada.
O que se viu nas entrelinhas desse encontro foi uma disputa entre os países ditos “desenvolvidos” e os países “pobres” ou emergentes. Tudo girou em função de uma disputa geopolítica do “Norte” contra o “Sul”, em nome de uma gigantesca falácia, à qual denominaram de “economia verde”. Isto é absolutamente ridículo. O que seria, de fato, uma “economia verde”? Trata-se de uma verdadeira panacéia que, ao mesmo tempo em que se tenta esconder a crise estrutural do capital, inventa-se um arcabouço teórico-discursivo que tenta agregar valores pseudo-ecológicos ao mercado de capitais. Na verdade, o pano de fundo deste evento foi desvendado nos encontros paralelos, onde as potências capitalistas buscavam, desesperadamente, um remédio para sanar um sistema agonizante, em crise terminal.
A comprovação de tudo isto, foi o documento final apresentado pelo governo brasileiro. O qual até a própria ONU criticou e depois voltou atrás devido às enormes pressões da chancelaria brasileira. Que fiasco! O tal documento final não apresenta nenhuma resolução concreta, não aponta nenhum prazo, nenhuma proposta real para enfrentamento da problemática socioambiental mundial. O tal orçamento [fundo de recursos] apresentado timidamente [de 30 bilhões de dólares, uma bagatela se comparado aos trilhões que estão destinando aos bancos europeus para evitar sua falência], visando à efetivação do tal “desenvolvimento sustentável” [ou insustentável], foi imediatamente recusado pelos países “desenvolvidos”.
O tal documento final da ONU [da Rio+20] fala em eliminação da pobreza, sem, no entanto dizer como, sem apresentar uma proposta sequer. Primeiro, porque tais propostas não existem, segundo, porque sob este modelo econômico não existe nenhuma proposta que possa sequer amenizar a situação de milhões de famintos e miseráveis do planeta Terra. Emblemático mesmo, o que ficou em nossa memória foi a imagem daquela criança canadense que simulou rasgar o tal documento final. A imagem da decepção no rosto daquela criança foi realmente a fotografia desta conferência do Rio de Janeiro. Esta conferência serviu, perfeitamente, para mostrar para o mundo a ineficácia, a incompetência e a impossibilidade de um modelo econômico necrosado, incapaz de desenvolver suas forças produtivas materiais, que tenta, de todas as formas, enganar a si mesmo, ao tentar aliviar as feridas que ele próprio fez sobre o planeta Terra.          


* Escritor. Geógrafo, Mestre e doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia, Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba. machado04fonseca@gmail.com  

quinta-feira, 21 de junho de 2012

OLHANDO PARA TRÁS: COPENHAGUE 2009! QUE CONFERÊNCIA? QUAL CONFERÊNCIA?

O retrato da poluição    Fonte: vivaterra.org.br


Valter Machado da Fonseca[1]

Há três atrás aconteceu em Copenhague (Dinamarca) a tão esperada conferência do clima. Mas, aqui cabe a pergunta: Que conferência? Qual conferência? Sim! Estas perguntas são necessárias, uma vez que supostamente teríamos uma conferência mundial para debater o grande problema das alterações climáticas. Porém, o que se viu em Copenhague foi um circo montado para uma demarcação de posições políticas, uma demonstração de poder. Mas, que tipo de poder? O poder pernicioso do discurso enganoso, vazio, obscuro, supérfluo, porém cheio de promessas para um futuro incerto e nebuloso.
O mundo inteiro esperava pela tão propalada conferência de Copenhague. O mundo todo esperava ouvir dos chefes de estado, presentes no tão esperado evento, propostas que visassem, pelo menos, minimizar os graves problemas ambientais que angustiam toda a humanidade neste limiar de século XXI. O planeta todo esperava ouvir dos grandes dirigentes das diversas nações, que eles estão de fato preocupados com o futuro da Terra e da humanidade e, que apresentariam propostas palpáveis e executáveis para enfrentar esta importante problemática. Todos os povos [e quando digo povos não me refiro aos governantes] esperavam que os dirigentes das mais diversas nações tivessem a dignidade e a humildade de se despir da arrogância advinda da ganância pelo lucro a qualquer custo, em detrimento de recuperar a saúde ambiental do planeta. Que deixariam de lado a luxúria, a ostentação e a hipocrisia e, pelo menos uma vez na vida, abandonassem suas vaidades pessoais, o jogo do poder, para dizer ao mundo que, como dirigentes, têm responsabilidades com os destinos da humanidade e com o futuro da Terra e das gerações futuras.
Mas que nada! O que o mundo viu foi um discurso truncado, cheio de armadilhas, carregado de hipocrisia e que, no fim das contas, visava a atender somente os anseios do lucro dos grandes grupos e conglomerados inter/multi/transnacionais. O que se assistiu foi um discurso leviano que reafirmava o poder dos ricos sobre os pobres, que reafirmava a linha que traça a divisória do abismo que separa os países pobres do hemisfério sul, dos países ricos do hemisfério norte. Aí fica uma pergunta: o que os países africanos foram fazer nesta conferência? O que os países da Ásia Central foram fazer nesta conferência? O que os países da América Latina foram fazer lá? Foram justificar o discurso dos países ricos.
Qual a contribuição dos EUA e da União Europeia no debate do clima?
Que nada! O que o mundo presenciou foi a prepotência dos EUA tentarem, desesperadamente, recuperar o lugar de destaque outrora conquistado pelo dólar [e os petrodólares], o discurso aflito e ausente, miúdo e caquético de Barack Obama tentando recuperar seu lugar perdido de líder mundial. O que o povo viu foi a figura desesperada de uma chefe norteamericano, totalmente aturdido e ainda abalado pela crise econômica mundial do capitalismo, tentando resgatar seu lugar de principal dirigente da economia mundial.    O que a população de todo o planeta viu foi uma Europa, carcomida, falida, sem nenhum discurso, sem nada a dizer, suplicar, reclamar seu lugar também outrora perdido, de “centro do universo”. Uma Europa que destroçou seus próprios recursos naturais, com uma política de “olhar para o próprio umbigo”, de não saber, jamais, o significado da palavra “planejamento industrial e urbanoambiental”.  Dois polos: EUA e União Europeia, que mostraram, mais uma vez, total incompetência para gerir os recursos do planeta e os destinos da humanidade. Dois polos que já demonstram não possuir nenhum discurso que tenha qualquer conteúdo relativo à responsabilidade socioambiental.
E a China?
A República Popular da China foi o terceiro polo do evento mundial. Considerada uma nação “emergente”, um país que tem seu desenvolvimento econômico calcado na total ausência de quaisquer formas de planejamento urbanoindustrial, a China cresce devorando seus recursos naturais nos moldes das demais nações capitalistas. É considerada, hoje, um dos principais polos de emissão de poluentes para a atmosfera.
Nesta conferência, a China foi duplamente atacada: pelos EUA e pela União Europeia. No fundo as acusações contra a nação chinesa não foram devido ao aumento dos gases estufa emitido por ela, mas por sua constante ameaça à supremacia política e econômica dos dois blocos supracitados. A questão da emissão de poluentes para a atmosfera serve, perfeitamente, de pretexto para frear seu processo de crescimento industrial, o que eliminaria a ameaça às supremacias dos EUA e da UE.  Isto vem expor, por completo, a essência das discussões e dos debates que marcaram o evento: o eixo das discussões foi desviado para as disputas geoeconômicas e não para os debates em torno das ações objetivando combater o problema do aquecimento global.    
E os países pobres ou [como prefere a maioria dos estudiosos] países em desenvolvimento?
Esses assumiram atitudes frágeis, inconsistentes, débeis, covardes até, tentando, desesperadamente um lugar, junto a um desses dois polos. Na verdade, os discursos dos governantes dessas nações eram os mais esperados, pois, traziam aquele fio de esperança quanto aos destinos do planeta. Nada disso aconteceu! Os discursos dessas nações serviram, exatamente, para reafirmar as posições dos países ricos, para justificar seus discursos obscuros, ardilosos, vazios. Isto ficou claro no pronunciamento da delegação brasileira que, num tom abaixo, foi uma reprodução fiel do discurso de Obama. A fala do dirigente brasileiro fez parecer que sua tarefa era chefiar sua delegação numa expedição ao “muro das lamentações” [com todo o respeito à fé muçulmana]. Aliás, o discurso brasileiro na conferência foi orquestrado, de um lado pelo presidente francês [porta voz da União Europeia] Nicolas Sarcozy e de outro por Barack Obama [porta voz norteamericano].
O que se tirou de objetivo? De concreto? De prático?
Nada! Absolutamente nada! O que restava do Protocolo de Kyoto foi rasgado em público pelos países ricos e jogado no lixo pelos países “em desenvolvimento”. Nenhuma meta decisiva para a redução de poluentes foi construída. Nenhuma ação prática de responsabilidade socioambiental foi edificada. Nada se fixou em relação às queimadas e desmatamentos. Nenhum prazo foi estipulado. Nem parecia que o tema central do evento eram as alterações climáticas. O que se sabe é que cifras astronômicas foram gastas [jogadas fora] com a preparação da conferência tão esperada. Do que aconteceu nos bastidores do evento, nada se sabe apenas se imagina. O que se pode dizer, com toda certeza, é que tudo se debateu, exceto as problemáticas socioambientais, em especial as alterações climáticas, que foram deixadas para segundo plano.
E agora, o que fazer?
Os resultados da conferência não apontaram nada de concreto, nenhum fio de esperança foi tecido. Nas entrelinhas dos discursos dos principais chefes de Estado, presentes no encontro, o que se pode perceber foi a falta de compromisso, de responsabilidade para com os graves problemas socioambientais que tanto angustiam a humanidade neste início de século. Pode-se perceber que os dirigentes mundiais não estão nada preocupados com tais problemas, mas extremamente preocupados em manter suas regalias, seu poderio bélico, político e econômico. Que eles trocam e trocarão, sempre, a saúde ambiental do planeta pela mais valia, não importando com as consequências dessa opção. Que não possuem nenhuma proposta para quaisquer formas de planejamento socioambiental, muito menos para a diminuição de poluentes para a atmosfera.
Qual a esperança daqui em diante?     
Por incrível que pareça, existe um fio de esperança. E esta esperança está nas mãos da população mundial, nas mãos do povo. Na verdade, a única forma que restou para se debater as grandes questões ambientais da atualidade passa, exatamente, pela participação direta das populações das diversas nações do mundo. Se os governos não estão preocupados, o povo está. Só a organização popular, cientistas, estudantes, professores, universidades, movimentos sociais, sociedade civil organizada, possuem o poder de pressionar esses governantes, para que assumam suas responsabilidades em relação aos graves problemas socioambientais da sociedade moderna. Só esses setores podem exigir que os governantes abandonem o discurso superficial e vazio, que abandonem a hipocrisia e a covardia e assumam atitudes corajosas, para fazer valer as funções inerentes aos cargos que seus povos lhes confiaram. Neste sentido, a organização e pressão populares são fundamentais para que se saia do impasse gerado, principalmente a partir desta conferência. A partir das mobilizações organizadas desde a base, torna-se possível traçar ações práticas e efetivas visando à minimização dos impactos socioambientais que colocam em risco a saúde ambiental do planeta e a continuidade da existência da espécie humana.     
Como concluir o balanço de um evento que nada discutiu?
O balanço do evento de Copenhague leva a duras e terríveis reflexões. A situação ambiental do planeta está à mercê de especulações paliativas e superficiais, muito próximas dos anseios e do lucro das grandes corporações multi/transnacionais e muito distantes dos anseios e bem estar das populações, de se apresentarem enquanto propostas práticas e concretas para superar os problemas e os desafios socioambientais da atualidade. O rescaldo do encontro de Copenhague foi extremamente negativo.
Um fracasso! Um fiasco! Essas duas expressões traduzem bem o que foi a Conferência de Copenhague. O que podemos concluir é que o evento não existiu, mas os problemas existem, o aquecimento global é um fato real, e como tal deve ser combatido. A solução para os problemas socioambientais da sociedade moderna exige ações políticas, mudanças de comportamento, ações que levem a um efetivo planejamento industrial e urbanoambiental global.
Se a Conferência Mundial de Copenhague não apontou nenhuma solução, a ação política passa a ser uma responsabilidade dos diversos setores organizados da sociedade. Portanto, agora é nossa a tarefa de chamar este debate, é tarefa das escolas, dos educadores, universidades, estudantes, movimentos sociais, cientistas, enfim, dos diversos setores da sociedade organizada tomar nas mãos os desafios de construir ações locais/globais e globais/locais, visando à minimização dos graves problemas socioambientais que tanto angustiam a humanidade, nesse limiar do século XXI. 


[1] Valter Machado da Fonseca é Técnico em Mineração pela Escola Técnica Federal de Ouro Preto (MG). Graduado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (MG). Mestre em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia (FACED/UFU).  Doutorando em educação, também pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia. É professor da Universidade de Uberaba/MG (UNIUBE).

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Uniube e Instituto Agronelli dão passos decisivos para efetivação de parceria

Equipe de alunos e professores da Uniube.   Foto: Arquivo do autor

Complexo de tanques e filtros da ETE da Fazenda do Intituto Agornelli

Nascente D'água revitalizada.       Fonte: Arquivo V. M. da Fonseca (2012)

Sede da Fazenda do Instituto Agronelli     Fonte: Arquivo V. M. da Fonseca (2012)

Vegetação recuperada por descanso  Fonte: Arquivo V. M. da Fonseca (2012)

Parte da equipe da Uniube     Fonte: Arquivo V. M. da Fonseca (2012)

Solo recuperado por silvicultura      Fonte: Arquivo V. M. da Fonseca (2012)

Voçoroca na Fronteira da Fazenda Agronelli     Fonte: Arquivo V. M. da Fonseca (2012)


Por Prof. MS. Valter Machado da Fonseca (UNIUBE)

Na quinta feira (14 de junho de 2012) uma comissão formada por alunos e professores do curso de Engenharia Ambiental da Universidade de Uberaba visitou as dependências da fazenda do Instituto Agronelli de Desenvolvimento Social-IADES A visita teve como objetivo, além de conhecer as experiências desenvolvidas pelo Instituto, também buscar a construção de bases técnicas e científicas para a efetivação de uma parceria efetiva entre a Universidade de Uberaba, por intermédio do curso de Engenharia Ambiental e o Instituto Agronelli, por intermédio de pesquisas científicas no campo da problemática ambiental.

Dentre os membros da comissão estiveram presentes os seguintes professores do curso de Engenharia Ambiental da Uniube: Prof. Dr. André Teixeira Fernandes (diretor do curso), Prof. MS. e doutorando Valter Machado da Fonseca, Profª. Drª. Elizabeth Uber Bucek, Prof. Dr. Nelson Diniz Velasco, Prof. Francisc Henrique Silva e Prof. Fausto Antônio Domingos. Os projetos desenvolvidos pelo Instituto Agronelli foram apresentados pela Engenheira Ambiental Aline de Almeida Custódio,  a técnica de projetos Marizélia Gomes Costa e a coordenadora do IADES Mariangela Camargos.

A comissão dos professores da Universidade de Uberaba ficou muito satisfeita com o enorme potencial de dados e informações científicas apresntadas pelos experimentos realizados com muita competência pelo Instituto Agronelli. A Engenheira Ambiental Aline Custódio apresentou uma série de experimentos que o Insituto vem realizando ao longo de vários anos, no trato com relevantes questões socioambientais, sendo eles: projetos de recuperação de áreas degradadas por processo erosivos como minimização de impactos e recuepração de áreas impactadas por ravinamento e voçorocas, revitalização e proteção de nascentes; projetos de tratamento de efluentes, resíduos sólidos e líquidos, além de projetos de recuperção de umidade do solo e de vegetaçõees do cerrado; projeto de recuperação de água e solo.

No campo social, Mariangela Camargos apresentou projetos de Educação Ambiental com alunos do Ensino Médio e Fundamental altamente relevantes para o Insituto Agornelli, junto a diversas escolas de Uberaba. Apresentou também iniciativas ligadas à história dos bairros da cidade de Uberaba, além de diversas outras atividades que aliam Educação Ambiental às produções artísticas e literárias, despertando nos jovens, crianças e população a tomada de consciência relativa aos problemas sociaomabientais. Apresentou, inclusive, livros publicados pelas escolas, em parceria com o Instituto Agornelli, como resultado desses significativos projetos.

Por fim, os professores da Universidade de Uberaba detectaram a existência do potencial do complexo da Fazenda do Instituto Agronelli, reuniram com as colaboradoras do Instituto e firmaram o interesse em implantar e implementar o trabalho em equipe, através do apoio nas linhas de pesquisas científicas existententes, na construção de novos projetos de pesquisa e de extensão e colaborar com as ações educacionais, especialmente na área ambiental, consolidando assim uma parceria sólida entre a Universidade de Uberaba e o Instituto Agornelli, no futuro próximo.

domingo, 10 de junho de 2012

Michael Löwy critica Rio+20 e a propaganda da ‘economia verde’

Foto: Michael Löwy                        Fonte: boitempoeditorial.wordpress.com

Por NTV

Em junho, o Brasil sedia a Rio+20, a cúpula mundial de meio ambiente, um dos temas da edição 180 da Revista “Caros Amigos” que já está nas bancas. A cúpula já divide opiniões, como a do pesquisador Michael Löwy, um dos entrevistados da reportagem publicada na revista. Confira abaixo a entrevista de Löwy, feita pela jornalista Bárbara Mengardo.

Caros Amigos (CA) – O que você espera da Rio+20, tanto do ponto de vista das discussões quanto da eficácia de possíveis decisões tomadas?

Michael Löwy (ML) – Nada! Ou, para ser caridoso, pouquíssimo... As discussões já estão formatadas pelo tal “Draft Zero”, que como bem diz (involuntariamente) seu nome, é uma nulidade, um zero à esquerda. E a eficácia, nenhuma, já que não haverá nada de concreto como obrigação internacional. Como nas conferências internacionais sobre o câmbio climático em Copenhagen, Cancun e Durban, o mais provável é que a montanha vai parir um rato; vagas promessas, discursos, e, sobretudo, bons negócios ‘verdes’. Como dizia Ban-Ki-Moon, o secretário das Nações Unidas – que não tem nada de revolucionário – em setembro 2009, “estamos com o pé no acelerador e nos precipitamos ao abismo”. Discussões e iniciativas interessantes existirão, sobretudo, nos fóruns Alternativos na Contra-Conferência organizada pelo Fórum Social Mundial e pelos movimentos ecológicos.

CA – Desde a Eco 92, houve mudanças na maneira como os resultados lidam com temas como mudanças climáticas, preservação das florestas, água e ar, fontes energéticas alternativas, etc. ? Se sim, o quão profundas foram essas mudanças?  

ML – Mudanças muito superficiais! Enquanto a crise ecológica se agrava, os governos – para começar o dos Estados Unidos e dos demais países industrializados do Norte, principais responsáveis do desastre ambiental – “lidaram como o tema”, desenvolveram, em pequena escala, fontes energéticas alternativas, e introduziram “mecanismos de mercado” perfeitamente ineficazes para controlar as emissões de CO2. No mundo, continua o famoso “busines as usual”, que, segundo cálculo dos cientistas nos levará a temperaturas de 4° ou mais nas próximas décadas.

CA – Em comparação a 1992, a sociedade está muito mais ciente da necessidade de proteção do meio ambiente. Esse fato poderá influir positivamente nas discussões da Rio+20?

ML – Esta sim é uma mudança positiva! A opinião pública, a “sociedade civil”, amplos setores da população, tanto no Norte como no Sul, está cada vez mais consciente da necessidade de proteger o meio ambiente – não para “salvar a Terra” – nosso planeta não está em perigo – mas para salvar a vida humana (e a de muitas outras espécies) nesta Terra. Infelizmente, os governos, empresas e instituições financeiras internacionais representadas na Rio+20são pouco sensíveis à inquietude da população, que buscam tranquilizar com discursos sobre a pretensa “economia verde”. Entre as poucas exceções, o governo boliviano de Evo Morales.
CA – Como a destruição do meio-ambiente relaciona-se com a desigualdade social?

ML – As primeiras vítimas dos desastres ecológicos são as camadas sociais exploradas e oprimidas, os povos do Sul, e em particular as comunidades indígenas e camponesas que vêem suas terras, suas florestas e seus rios poluídos, envenenados e devastados pelas multinacionais do petróleo e das minas, ou pelo agronegócio da soja, do óleo de palma e do gado. Há alguns anos, Lawrence Summers, economista americano, num informe interno para o Banco Mundial, explicava que era ecológico, do ponto de vista de uma economia racional, enviar produções tóxicas e poluidoras para os países pobres, onde a vida humana tem um preço bem inferior: simples questão de cálculo de perdas e lucros. Por outro lado, o mesmo sistema econômico e social – temos que chamá-lo por seu nome e apelido: o capitalismo – que destrói o meio ambiente é responsável pelas brutais desigualdades sociais entre a oligarquia financeira dominante e a massa do “pobretariado”. São os dois lados da mesma moeda, expressão de um sistema que não pode existir sem expansão ao infinito, sem acumulação ilimitada – e portanto sem devastar a natureza – e sem produzir e reproduzir a desigualdade entre explorados e exploradores.  

CA – Estamos em meio a uma crise do capital. Quais as suas consequências ambientais e qual o papel do ecossocialismo nesse contexto?

ML – A crise financeira internacional tem servido de pretexto aos vários governos a serviço do sistema de empurrar para “mais tarde” as medidas urgentes necessárias para limitar as emissões de gases com efeito de serra. A urgência do momento – um momento que já dura há alguns anos – é salvar os bancos, pagar a dívida externa (aos mesmos bancos), “restabelecer os equilíbrios contábeis”, “reduzir as despesas públicas”. Não há dinheiro disponível para investir nas energias alternativas ou para desenvolver os transportes coletivos. O ecossocialismo é uma resposta radical tanto à crise financeira, quanto à crise ecológica. Ambas são expressões de um processo mais profundo: a crise do paradigma da civilização capitalista industrial moderna. A alternativa ecossocialista significa que os grandes meios de produção e de créditos são expropriados e colocados a serviço da população. As decisões sobre a produção e o consumo não serão mais tomadas por banqueiros, managers de multinacionais, donos de poços de petróleo e gerentes de supermercados, mas pela própria população, depois de um debate democrático, em função de dois critérios fundamentais: a produção de valores de uso para satisfazer as necessidades sociais e a preservação do meio ambiente.

CA – O “rascunho zero” da Rio+20 cita diversas vezes o termo “economia verde”, mas não traz uma definição para essa expressão. Em sua opinião, o que esse termo pode significar? Seria esse conceito suficiente para deter a destruição do planeta e as mudanças climáticas?

ML – Não é por acaso que os redatores do tal “rascunho” preferem deixar o termo sem definição, bastante vago. A verdade é que não existe “economia” em geral: os se trata de uma economia capitalista, ou de uma economia não-capitalista. No caso, a “economia verde” do rascunho não é outra coisa do que uma economia capitalista de mercado que busca traduzir em termos de lucro e rentabilidade algumas propostas técnicas “verdes” bastante limitadas. Claro, tanto melhor se alguma empresa tratar de desenvolver a energia eólica ou fotovoltaica, mas isto não trará modificações substanciais se não for amplamente subvencionado pelos estados, desviando fundos que agora servem à indústria nuclear, e se não for acompanhado de drásticas reduções do consumo de energias fósseis. Mas nada disso é possível sem romper com a lógica de competição mercantil e rentabilidade do capital. Outras propostas “técnicas” são bem piores: por exemplo, os famigerados “biocombustíveis”, que como bem diz Frei Betto, deveriam ser chamados “necrocombustíveis”, pois tratam de utilizar os solos férteis para produzir uma pseudo-gasolina “verde”, para encher os tanques dos carros em vez de comida para encher o estômago dos famintos da Terra.  

CA – Quem seriam os principais agentes na luta por uma sociedade mais verde, o governo, a iniciativa privada, ONGs, movimentos sociais, enfim?

ML – Salvo pouquíssimas exceções, não há a esperar dos governantes e da iniciativa privada: nos últimos 20 anos, desde a Rio 92, demonstraram amplamente sua incapacidade de enfrentar os desafios da crise ecológica. Não se trata só de má-vontade, cupidez, corrupção, ignorância e cegueira: tudo isto existe, mas o problema é mais profundo: é o próprio sistema que é incompatível com as radicais e urgentes transformações necessárias.
A única esperança então são os movimentos sociais e aquelas ONGs que são ligadas a estes movimentos (outras são simples “conselheiros verdes” do capital). O movimento camponês – Via Campesina –, os movimentos indígenas e os movimentos de mulheres na primeira linha deste combate; mas também participam, em muitos países, os sindicatos, as redes ecológicas, a juventude escolar, os intelectuais, várias correntes de esquerda. O Fórum Social Mundial é uma das manifestações desta convergência na luta por um “outro mundo possível”, onde o ar, a água, a vida, deixarão de ser mercadorias.

CA – como você analisa a maneira como a questão ambiental vem sendo tratada pela mídia?

ML – Geralmente de maneira superficial, mas existe um número considerável de jornalistas com sensibilidade ecológica, tanto na mídia dominante como nos meios de comunicação alternativos. Infelizmente, uma parte importante da mídia ignora os combates sócio-ecológicos e toda crítica radical ao sistema.

CA – Você acredita que, atualmente, em prol da preservação do meio ambiente é deixada apenas para o cidadão a responsabilidade pela destruição do planeta e não para as empresas? Em São Paulo, por exemplo, temos que comprar sacolinhas plásticas biodegradáveis, enquanto as empresas se utilizam do fato de serem, supostamente, “verdes” como ferramenta de marketing.

ML – Concordo com esta crítica. Os responsáveis do desastre ambiental tratam de culpabilizar os cidadãos e criam e ilusão de que bastaria que os indivíduos tivessem comportamentos mais ecológicos para resolver o problema. Com isso tratam de evitar que as pessoas coloquem em questão o sistema capitalista, principal responsável pela crise ecológica. Claro, é importante que cada indivíduo aja de forma a reduzir a poluição, por exemplo, preferindo os transportes coletivos ao carro individual. Mas sem transformações macro-econômicas, ao nível de aparelho de produção, não será possível brecar a corrida ao abismo.

CA – Quais as diferenças nas propostas que querem, do ponto de vista ambiental, realizar apenas reformas no capitalismo e as que propõem mudanças estruturais ou mesmo a adoção de medidas mais verdes dentro de um outro sistema econômico?

ML – O reformismo “verde” aceita as regras da “economia de mercado”, isto é, do capitalismo; busca soluções que sejam aceitáveis, ou compatíveis, com os interesses de rentabilidade, lucro rápido, competitividade no mercado, “crescimento” ilimitado das oligarquias capitalistas. Isto não quer dizer que os partidários de uma alternativa radical, como o ecossocialismo, não lutam por reformas que permitam limitar o estrago: proibição dos transgênicos, abandono da energia nuclear, desenvolvimento de energias alternativas, defesa de uma floresta tropical contra multinacionais do petróleo (Parque Yasuni), expansão e gratuidade dos transportes coletivos, transferência do transporte de mercadorias do caminhão para o trem, etc. O objetivo do ecossocialismo é o de uma transformação radical, a transição para um modelo de civilização. Baseado em valores de solidariedade, democracia participativa, preservação do meio ambiente. Mas a luta pelo ecossocialismo começa aqui e agora, em todas as lutas sócio-ecológicas concretas que se enfrentam, de uma forma ou de outra, com o sistema.     

Fonte: Michael Löwy critica Rio+20 e a propaganda da 'economia verde' - revista caros amigos. abril 12

sexta-feira, 8 de junho de 2012

“RIO + 20” = 0

Foto: Tráfico clandestino de madeira.        Fonte: revistapesquisa.fapesp.br

Valter Machado da Fonseca*
Vinte anos após a realização da conferência mundial “Rio 92”, a cidade maravilhosa sedia mais um encontro mundial sobre meio ambiente, a “Rio + 20”. Este evento ocorre no momento do ápice da crise econômica europeia, o que, já de cara, lhe dá um caráter especial e particular. A grande crise estrutural do capital, agudiza, ainda mais, a problemática ambiental que marca a sociedade moderna e, desnuda, de forma gritante, a incapacidade deste modelo econômico em responder aos grandes desafios ambientais, em superar as contradições no sentido de, pelo menos minimizar os graves problemas socioambientais, frutos deste modo de produção, que tenta aliar “desenvolvimento” econômico, com a mais-valia.
Se fizermos o balanço das últimas conferências ambientais mundiais constataremos a veracidade da equação que dá título a este ensaio (“Rio + 20” = 0), uma vez que estes eventos não demonstraram nenhuma evolução na implantação de antigas proposições, nem na formulação de novas propostas, que visassem, sequer, a minimizar os gravíssimos problemas socioambientais que tanto afligem a humanidade nos tempos d’agora. Pelo contrário, em diversas partes do planeta verificamos uma voracidade ainda maior na exploração despreocupada, sem qualquer planejamento, dos recursos da natureza, para fazer valer, satisfazer, ainda com mais força, os anseios do lucro a qualquer custo.
A “COP 15”, conferência mundial sobre as mudanças climáticas, realizada no ano de 2009, em Copenhagen [capital da Dinamarca] já deu mostras do tom que assumiriam os grandes debates ambientais pelo mundo afora. Ou seja, nada mais de sério seria discutido nos eventos futuros. Naquele evento, tudo se discutiu acerca de economia, de aumento de lucros por parte dos países endinheirados, e o “choro” dos países pobres que querem, a qualquer custo, uma fatia desse saboroso bolo. Mas, em contrapartida, nada se discutiu em relação à aprovação de propostas que visassem, de fato, a pelo menos minimizar os históricos impactos socioambientais produzidos no planeta, às custas da humanidade nos tempos presentes, em função da exploração descontrolada dos recursos naturais.
Hoje, estamos às vésperas de mais um evento de envergadura mundial, cujo papel seria o de discutir e realizar o balanço das propostas aprovadas na “RIO 92”. Neste sentido, o circo da “Rio + 20” já está sendo montado na cidade maravilhosa. A “lógica” do lucro a qualquer custo, defendido pelos grandes grupos econômico-industriais tem por base a tal responsabilidade socioambiental, visando a atenuar as incongruências do atual modelo de desenvolvimento econômico, ao mesmo tempo em que “alivia” as “consciências” desses grupos [se é que podemos falar de consciência ao nos referirmos a tais grupos], diante dos gravíssimos problemas socioambientais que aterrorizam a humanidade neste início de século XXI.
Em nome da tal responsabilidade socioambiental, assistimos a grandes setores da indústria de cigarros, de agrotóxicos, de pesticidas, de herbicidas, de produtos geneticamente modificados, falarem “de boca cheia” de responsabilidade social e/ou ambiental. Na verdade, o grande mote das bandeiras ambientais, foi apropriado pelo capital, com vistas a agregarem valores supostamente ecológicos a seus produtos e aumentando, assim, seus já exorbitantes lucros. Desta forma, estes grupos que ditam o destino e os rumos da economia mundiais, justificam a exploração de mais recursos naturais, sua superprodução de venenos, de supérfluos e descartáveis, aumentando, de forma exponencial, o volume de resíduos [líquidos e sólidos] domésticos e industriais produzidos pelos setores com maior carga poluidora do planeta. E, coincidentemente [acreditem se quiserem], são estes mesmos grupos que financiam e patrocinam a “Rio + 20”. Aí, meus caros leitores (as), fica difícil esperarmos alguma coisa de positivo desse evento do Rio de Janeiro, neste ano de 2012. Então, diante dessas evidências, podemos realmente verificar a veracidade da equação: “Rio + 20” = 0.


*  Escritor. Geógrafo, Mestre e doutorando em Meio Ambiente pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador e Professor da Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com