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sexta-feira, 12 de junho de 2015

Pesquisador da USP é referência mundial em mudanças climáticas

Foto: Prof. Paulo Artaxo          Fonte CNPq (2015)



Por NTV
Paulo Eduardo Artaxo Netto foi um dos pesquisadores mais citados no mundo científico em 2014, de acordo com a conceituada lista Higly Cited Researchers. Professor titular do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e Pesquisador de Produtividade em Pesquisa 1A do CNPq, Artaxo é mestre em Física Nuclear e doutor em Física Atmosférica,e se dedica à pesquisa em física do meio ambiente há mais de três décadas, sendo referência mundial em conferências nacionais e internacionais sobre a física das mudanças climáticas globais.
A internacionalização da pesquisa, assim como a interdisciplinaridade, são grandes marcas da trajetória científica de Artaxo. No início dos anos 80, ainda realizando seu doutorado, o Prof. Artaxo trabalhou com o Prof. Paul Crutzen, prêmio Nobel de Química, no primeiro experimento mundial que investigou o papel de emissões de queimadas da Amazônia no clima regional e global. Além disso, realizou Pós-Doutorado nas Universidades de Antuérpia, Estocolmo, Harvard e na NASA, tendo, atualmente, parcerias científicas fortes e de longo prazo com pesquisadores de mais de 15 países.
Sobre a interdisciplinaridade, acredita que "é preciso olhar a ciência ambiental não com olhos direcionados a disciplinas específicas, pois a natureza não distingue a física, a química ou a biologia". Artaxo afirma que o homem está alterando profundamente o planeta e é preciso entender os impactos que essas mudanças estão fazendo no meio ambiente local, regional e global. "Este enorme desafio científico, de compreender como o homem está mudando a face de nosso planeta, e quais serão seus impactos, exige uma abordagem interdisciplinar e internacional".
Trajetória
Depois de um estágio nos Estados Unidos, Artaxo participou de vários experimentos nos anos 80 e 90, em parceria com a NASA, na Amazônia, e auxiliou na consolidação dos links entre as emissões naturais e de queimadas na Amazônia com os efeitos climáticos dessas emissões e o funcionamento do ecossistema. Estudou como os aerossóis (partículas suspensas na atmosfera) afetam os mecanismos de formação de nuvens e chuva, alteram o balanço de radiação solar, alterando a fotossíntese da floresta, entre outros temas. Atualmente, continua seu trabalho de desvendar processos importantes na Amazônia e auxilia na estruturação do programa FAPESP de Mudanças Climáticas Globais e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas do CNPq.
Produção Científica
O Prof. Artaxo publicou 370 trabalhos científicos, nos últimos 30 anos, tem mais de 10.500 citações no Web of Science e mais de 22.700 citações no Google Scholar. Em sua carreira acadêmica, apresentou mais de 850 trabalhos em conferencias científicas internacionais. Dedicou-se à tarefa de formar recursos humanos e orientou 53 alunos de IC, mestrado e doutorado. Entre os vários prêmios internacionais recebidos, é Doutor Honoris Causa pela Universidade de Estocolmo na Suécia e membro da equipe do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), agraciada em 2007 com o prêmio Nobel da Paz pelos trabalhos associados às mudanças climáticas globais. É também membro de várias academias de ciências, entre elas a ABC, ACIESP e TWAS.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

O CHEIRO DOCE DO MILHARAL!




Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
Dias atrás, me recordava dos tempos de infância, na pequena cidade onde nasci, onde podia correr livre, sem medo da violência, sem a pressa das grandes cidades. Eram dias, nos quais as coisas andavam lentamente, onde o tempo parecia parar para acompanhar a vida, a paisagem. Naqueles dias, sinceramente, parecia que as pessoas se preocupavam mais em serem felizes, elas se importavam muito mais em sentir o sabor das boas coisas da vida. Verdadeiramente, naqueles tempos se sentia prazer em apreciar o simples, em curtir o aroma das manhãs, em saborear a brisa fresca do entardecer, em degustar os ares amenos que anunciavam a chegada da primavera. Como eram felizes aqueles tempos!
Lembro-me bem! Naqueles tempos sentíamos muito prazer em uma pescaria. Aliás, quaisquer corregozinhos davam peixe. Precisávamos andar pouco mais de 20 minutos para chegarmos a um bom ribeirão e pescar o peixe fresco. Eram incontáveis os córregos, riachos e ribeirões existentes nos arredores de minha pequena cidade. Era incontável a quantidade de pássaros, répteis, anfíbios e mamíferos existentes nas matas e campos da região. Quando voltávamos de uma pescaria, sempre nos arriscávamos no meio das lavouras de milho, feijão, arroz em busca de frutas. Quando não achávamos, ficávamos felizes com uma braçada de milho verde, que era assada à noitinha em volta de uma aconchegante fogueira. E, aquele milho tinha sabor, tinha aroma, tinha um gosto doce incomparável.
Hoje, muitas são as vezes em que me pego a reviver aqueles felizes tempos de outrora. Uma das coisas que não me sai da memória era o sabor das frutas, das verduras, dos legumes. Hoje, tudo parece sem sabor. Tudo parece artificial, distante da natureza. Aqueles córregos e riachos já não mais existem, os pássaros, as pequenas lavouras foram literalmente devoradas pela grande cidade. O natural foi tragado, até a última gota, pelo artificial, pelo sintético. No lugar daqueles pequenos corpos d’água, hoje nos deparamos com montanhas de lixo, suas águas já não exalam o perfume da vida, mas, ao contrário, exalam o odor da morte, da matéria em decomposição.
Hoje, as verdes matas que dominavam o nosso cerrado, foram substituídas pela monotonia das grandes lavouras voltadas, unicamente, para a exportação. As frutas, verduras e legumes se tornaram mais vistosas, porém, perderam sua essência: o aroma e o sabor. Aquela fauna que vivia no campo; hoje perambula, sem rumo, nos recantos da cidade. É muito comum, aliás, é corriqueiro nos deparamos com dezenas de animais nas pistas das rodovias, bandos de centenas e até milhares de aves nas cidades, totalmente deslocadas de seu hábitat natural.
Por isso, vez em quando me imagino nos campos de outrora. Nos tempos onde podia passear tranquilo, observando a beleza dos animais selvagens, nos dias em que podia sentir o perfume das coisas naturais, o sabor genuíno e legítimo dos alimentos. Hoje, quando caminho sozinho no campo, tento ainda, em vão, tragar o aroma das águas dos pequenos riachos que animavam a bicharada, que realçavam as flores naturais do campo na primavera. Hoje, tudo não passa de um sonho banido de nossas vidas, infelizmente o odor dos venenos dos insumos e agrotóxicos tragou para sempre a essência da vida, tragou, sobretudo, o cheiro doce do milharal.   


* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).  Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

ALTERAÇÕES CLIMATICAS: CAUSAS, EFEITOS E CONSEQUÊNCIAS




Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca
As alterações climáticas é uma temática que tem sido alvo de intenso debates no último período. Trata-se de anomalias na temperatura do planeta, o que tem provocado grandes manifestações no comportamento dos fenômenos atmosféricos. O tema tem sido debatido especialmente no Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e tem provocado inúmeras polêmicas, principalmente no que se refere às suas causas principais.
Dentro do IPCC existem duas correntes teóricas principais: a primeira dela defende a ideia de que o fenômeno se liga às mudanças naturais da Terra (dinâmica do planeta) e não possui nenhuma ligação com as ações humanas sobre o planeta. Já a segunda corrente defende a ideia de que as Alterações e mudanças climáticas se ligam diretamente às ações antropogênicas, ou seja, à interferência humana sobre os recursos da natureza. Porém, o bom senso nos chama à razão, trata-se da junção das duas proposições: as mudanças naturais do planeta aceleradas pela ação humana sobre seus recursos.
Efeitos e consequências:
Ø  O derretimento do Ártico: A cobertura de gelo da região no verão diminui ao ritmo constante de 8% ao ano há três décadas. No ano passado, a camada de gelo foi 20% menor em relação à de 1979, uma redução de 1,3 milhões de quilômetros quadrados, o equivalente à soma dos territórios da França, da Alemanha e do Reino Unido;
Ø  Os furacões estão mais fortes: Devido ao aquecimento das águas, a ocorrência de furacões das categorias 4 e 5 – os mais intensos da escala – dobrou nos últimos 35 anos. O furacão Katrina, que destruiu Nova Orleans, é uma amostra dessa realidade;
Ø  O Brasil na rota dos ciclones: Até então a salvo desse tipo de tormenta, o litoral sul do Brasil foi varrido por um forte ciclone em 2004. De lá para cá, a chegada à costa de outras tempestades similares, ainda que de menor intensidade, mostra que o problema veio para ficar;
Ø  O nível do mar subiu: A elevação do nível dos oceanos, desde o início do século passado está entre 8 e 20 cm. Em certas áreas litorâneas, como algumas ilhas do Pacífico, isso significou um avanço de 100 m na maré alta. Um estudo da ONU estima que o nível das águas suba 1 metro até o fim do século. Cidades à beira-mar como Recife, precisarão de diques de contenção;
Ø  Os desertos avançam: O total de áreas atingidas por secas dobrou em trinta anos. Um quarto da superfície do planeta é agora de desertos. Só na China, as áreas desérticas avançam 10.000 km2/ano, o equivalente ao território do Líbano;
Ø  Aumento da temperatura média global no século XX (em torno de 0,6º C);
Ø  A temperatura média no Hemisfério Norte aumentou no século XX, mais do que em qualquer século nos últimos 1.000 anos;
Ø  A década de 1990 foi a mais quente do milênio;
Ø  A amplitude da temperatura diária (t min. – t Máx.) diminuiu de 1950-2000;
Ø  Dias com geadas (diminuição em praticamente todas as áreas continentais durante o século XX;
Ø  Precipitação nos continentes (aumentou de 510% no Hemisfério Norte e diminuiu em várias regiões como no Oeste da África e partes do Mediterrâneo);
Ø  Aumento das precipitações fortes nas latitudes médias do Hemisfério Norte;
Ø  Secas severas aumentaram no verão (regiões da Ásia e África a frequência e intensidade aumentaram nas últimas décadas);
Ø  El Niño aumentou frequência e intensidade nas últimas décadas comparando-se com os últimos 100 anos;
Ø  Aumento do nível dos oceanos entre 1222 cm no século XX (Taxa por ano: 1961-2003, aproximadamente 1,8 mm/1993-2003 = 3,1 mm);
Ø  Duração de gelo sobre rios e lagos diminuiu em duas semanas nas latitudes médias do Hemisfério Norte;
Ø  Extensão da camada de gelo no Ártico (diminuição de 1015% na primavera/verão desde 1950).
Estes dados servem como elementos de reflexão para o debate sobre as alterações climáticas. Fonte: IPCC (2010)