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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Curso de Paleontologia e Geologia da Engenharia Ambiental teve seu cume em Peirópolis

Por NTV
O Curso de Paleontologia e Geologia idealizado e ministrado pelo professor mestre e doutorando Valter Machado da Fonseca, docente da Universidade de Uberaba, encerrou-se, brilhantemente, com um Trabalho de Campo em Ponte Alta/Peirópolis, neste sábado (dia 19 de novembro de 2011).
O Curso intitulado “ANALISAR O PASSADO PARA COMPREENDER O PRESENTE: Um estudo geológico, paleontológico e paleoclimático do Sítio Paleontológico de Peirópolis - Uberaba (MG)” foi constituído de dois momentos distintos. O primeiro se deu nas dependências da Uniube (campus II, aeroporto) e teve a duração de quatro semanas, como 4 horas aula/semana, totalizando 16 horas/aulas. O segundo momento, considerado pelo Prof. Valter como o ápice do projeto aconteceu na comunidade rural de Peirópolis e constituiu-se de um Trabalho de Campo, com duração de 10 horas/aulas de atividades práticas.
 A iniciativa teve o apoio essencial do Programa de Atividades Complementares (PIAC/Uniube) e do Curso de Engenharia Ambiental da Uniube, representado pelo seu diretor Prof. Dr. André Fernandes. O Professor Valter Fonseca, destaca, além destas das instituições e nomes citados, o apoio importante da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), atual mantenedora do Sítio Paleontológico de Peirópolis, nas pessoas do Prof. Vicente e sua assessora Mara, que acolheu a atividade com muito carinho.
Ele faz um agradecimento especial aos alunos que participaram do minicurso, às colaboradoras (os) da Uniube, Lícia, Camila, Vagner, Aline, Ana Keila, Juliana e agradece, em especial, o grande apoio e esforços da Assessora pedagógica do curso de Engenharia Ambiental da Uniube, Adriana Pontes Silva e à Solange da equipe do PIAC/Uniube. Por fim, o Prof. Valter destaca o apoio de toda a equipe de funcionários do complexo Científico do Sítio Paleontológico de Peirópolis, em especial ao João Ismael, membro da comunidade de Peirópolis, também estudante de Biologia da Uniube e técnico exímio (preparador de fósseis) da equipe do Prof. Luís Carlos Borges Ribeiro, que não mediu esforços na transmissão de seus relevantes conhecimentos durante a atividade de campo. Finalmente, o professor destaca que o curso foi um sucesso muito maior ainda do que se esperava e que ele abriu perspectivas para realização de outras versões, dando oportunidades para novas pessoas interessadas nesta importante área do conhecimento científico. 
A atividade em Ponte Alta/Peirópolis
A atividade de campo foi constituída de duas etapas: a primeira foi realizada na parte da manhã na cachoeira de Ponte Alta, onde os alunos tiveram a oportunidade de observar in locu os derrames de basalto que marcam as formações geológicas na região. Por intermédio da observação do paredão da cachoeira, é possível observar o primeiro derrame de basalto (localizado na base do paredão), na sequência verifica-se o estrato (camada) de arenito (rocha sedimentar) situado acima da primeira camada de basalto. Logo acima do arenito, observa-se o segundo derrame de basalto (no topo do paredão). A sequência de estratos rochosos evidência, assim, uma camada de basalto, uma camada de arenito e, por fim, mais uma camada de basalto, como se fosse um sanduíche.

Replica de preguiça gigante recem-descoberta


Registros fossilíferos de ossos de Titanossauro no laboratório de prepação de fósseis

Réplica de Titanossauro no gramado em frente ao Museu dos Dinossauros

Painéis explicativos do Complexo Científico do Centro Price, em Peirópolis

Grupo de alunos em atividade prática nos pontos de escavação de fósseis

Técnico em preparação de fósseis João Ismael em seu trabalho no laboratório

Professor Valter M. da Fonseca com os alunos em atividade de campo

Professores Valter e André Fernandes na aula inaugural do curso de Geologia e Paleontologia

Turma de alunos do curso de Geologia e Paleontologia ministrado pelo Prof. Valter
Em Peirópolis, a primeira parte da atividade prática consistiu da observação das técnicas de escavação de fósseis no próprio campo. Os alunos visitaram o pontos 1 e 2 de escavações de fósseis, acompanhados do técnico em preparação de fósseis João Ismael, que repassou todas as informações científicas acerca dos métodos e técnicas de coleta e preparação dos registros fósseis, além de informações sobre aspectos da geologia geral e regional. A atividade prática foi finalizada à tardinha, com a visita ao laboratório de preparação de fósseis, ao Museu dos Dinossauros e às dependências do salão de exposições de réplicas da UFTM. O Prof. Valter Machado reitera a relevância das atividades de campo, fundamentais para complementação dos conteúdos ministrados em sala de aula, além de serem importantes ferramentas que visam ao despertar dos alunos para a pesquisa científica.  

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

CÂNCER: O DESTINO COMUM DA HUMANIDADE!

 Valter Machado da Fonseca*

Outro dia conversava com amigos sobre a grande incidência de câncer verificada nos últimos tempos, em quase a totalidade das regiões do planeta. Apesar de ele já ser considerado uma doença antiga, estudos científicos comprovam que sua incidência aumentou, de forma exponencial na quase totalidade do mundo. Aí, nos vêm à mente algumas interrogações: qual ou quais serão os motivos do aumento exponencial da enfermidade? Qual a relação desta incidência com as novas descobertas da indústria farmacêutica? Qual a relação entre a incidência do câncer com o ritmo frenético da vida moderna? O aumento da incidência da doença tem alguma relação com as novas descobertas e tecnologias utilizadas pela atual indústria de alimentos?

Se atentarmos para a avalanche de notícias veiculadas na mídia, em especial no final do século XX e no limiar deste século XXI, verificaremos que a moléstia tem atingido, de forma crescente e impiedosa, a faixa etária da população mundial acima de sessenta anos, com destaque para os idosos na casa dos 70 a 80 anos. Por que será que isso acontece? Dificilmente vemos notícias de morte natural de idosos, o que era verificado, com mais frequência no século passado. Devemos nos atentar também para o fato de que a população mundial também aumentou de maneira quase que exponencial o que também acarreta o aumento da frequência da doença. Mas, de qualquer forma, existe alguma coisa que não se encaixa neste processo de “fim da vida”, o que em minha compreensão deveria ser mais natural.
Mas, é igualmente importante, também voltarmos nossos olhares para os avanços das tecnologias nos diferentes campos da ciência, o que, fatalmente, dirigirá nossa atenção para as tecnologias voltadas para a indústria farmacêutica e a indústria de alimentos. É inegável o avanço espetacular da ciência nos mais diferentes campos das atividades humanas. Porém, quero chamar a atenção para as áreas ligadas, diretamente, à saúde humana. Acontecimentos, que há poucas décadas eram considerados cenas de ficção científica, a exemplo da clonagem de indivíduos, tecidos e órgãos animais e/ou vegetais e até mesmo do próprio homem, a partir de células-tronco, hoje já são uma realidade. A biotecnologia, em especial aquela aplicada à agricultura (a exemplo da transgenia, do melhoramento genético de sementes e espécies vegetais e animais) vem interferindo no ciclo natural da vida de espécies animais e vegetais, o que tem colocado em risco o equilíbrio dos ecossistemas, a sobrevivência das espécies, dentre elas o próprio Homo Sapiens. E tudo isto, meus (minhas) caros (as) leitores (as) movimentam trilhões de dólares, o que vai para os bolsos dos grandes grupos multi/transnacionais ligados à indústria farmacêutica e/ou de alimentos.
O fato é que, em nosso dia a dia, temos ingerido enormes quantidades de agrotóxicos, pesticidas, herbicidas encontrados naquele tomate e morango vermelhinhos, naquela alface verdinha, na abobrinha vistosa, e numa grande diversidade de frutas e verduras. Isto tudo, sem contar a grande quantidade de hormônios que consumimos naquele franguinho engordado em menos de um mês, naquele peixe melhorado geneticamente e na grande variedade de carnes de “todas as cores”, consumidas [sem origem definida], além da infinidade de venenos dos enlatados. Outros fatores também a serem observados se relacionam ao abandono das pesquisas ligadas ao princípio ativo de nossas plantas, em detrimento de medicamentos sintéticos criados em laboratório. Diante de tudo isso, pode-se dizer que o “ciclo natural da vida” tem sido manipulado em função dos interesses dos grandes grupos econômicos que, paulatinamente, transformam a própria vida num simples brinquedo e o corpo humano em mercadoria última, como diria nosso amigo Boaventura de Sousa Santos.


* Escritor. Geógrafo, mestre e doutorando em Educação pela UFU. Pesquisador das temáticas ambientais. Professor da Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com

PERSPECTIVAS PARA O CERRADO BRASILEIRO: Passado, presente e futuro

Cerrado: Bairro rural de Peirópolis - Uberaba/MG. Fonte: Arquivo do autor (2011).

Prof. Ms. Valter Machado da Fonseca*

Meus caros (as) leitores (as)!

Falar do Cerrado brasileiro já está ficando algo apaixonante. Falar do nosso Cerrado já não é apenas uma questão de homenagem a um bioma ímpar com características singulares, mas, sobretudo, trata-se de uma necessidade urgente, diante do quadro altamente preocupante que se desenha para este valiosíssimo bioma.
Dias atrás, eu comentava com colegas professores, que também compartilham dessa preocupação com o futuro incerto do nosso Cerrado, que sinto saudades dos tempos de outrora, tempos de criança, onde podíamos correr livremente pelo Campo em busca de aventuras, comuns no imaginário de crianças e adolescentes. Lembrávamo-nos da flora e da fauna características do bioma. Em especial dos frutos silvestres como a gabiroba, o Araçá, o Murici, a goiabinha do mato, o araticum silvestre, o gravatá (uma flor de excelente sabor e que fazia parte da culinária cerradeira), o bacupari, o jambo do Cerrado, do pequi, do jenipapo. Lembrávamos ainda dos condimentos como o açafrão, a pimenta do brejo, além de palmitos com a guariroba (uma espécie de palmito amargo). A tabela abaixo, demonstra a riqueza florística do Cerrado.
Uso
Exemplares
Alimentício
Pequi; palmito guariroba.
Condimentar, aromatizante e corante
Pimenta-de-macaco; canela-batalha (condimentos); baunilha e o arcassu (aromatizantes); açafrão-do-cerrado (corante)
Têxtil
Sementes, folhas e entre-casca: plantas dos gêneros Chorisia, Eriotheca, Pseudobombax, Mauritia, Attalea, Xylopia, Luehea e Guazuma.
Corticeiro
Pau-santo, mama-de-porca, cervejinha, tamboril-do-cerrado; fruta-de-papagaio
Tanífero
Barbatimão; angico; carvoeiro; acácia-negra
Exsudato (resina, goma, bálsamo e látex)
Jatobá; breu, laranjinha-do-campo (resina); Vochysia sp.,
angicovermelho, aroeira (gomeiras); bálsamo, cabreúva,
copaíba, ou pau-d'óleo (bálsamo); mangabeira, Himatanthus obovatus, leiteiro, algumas espécies de Ficus (látex)
Produção de óleos e gorduras
Babaçu, macaúba, pequi
Medicinal
Poaia, arnica
Ornamental
Ervas, samambaias e avencas, até o jequitibá e o tamboril da  mata; as quaresmeiras, os ipês, e a guariroba.
Artesanal
Flores, sementes e folhas de mais de 100 espécies.
Apícola
Diversas espécies usadas pelas abelhas
Aparentado de cultivos comerciais
Anacardium (caju), Manihot (mandioca), Ananas (abacaxi), Annona (ata, pinha), Dioscorea (cará), Diospyrus (caqui),
Psidium (goiaba), Passiflora (maracujá), Arachis (amendoim) e Pauilinia (guaraná)
 

Observem que os destaques da tabela não chegam a 2% das espécies que compõem o nosso Cerrado. Das centenas de espécies nativas do Cerrado, cerca de, apenas 20% têm o princípio ativo conhecido.

Quanta falta nos fazem as diversas espécies de madeira de lei, como o Jatobá, a aroeira, o Jacarandá, o Pau Ferro, a cerejinha, dentre outras espécies que, paulatinamente vão sumindo da paisagem do Cerrado. Lembrávamos ainda de diversas espécies de aves do Cerrado, a exemplo do pintassilgo, do azulão, dos papa-capins, dos periquitos do Cerrado, das Seriemas, do Canário da Terra.

Hoje, quando passamos nas autoestradas que cortam o bioma vemos milhares e milhares de hectares de soja ou cana de açúcar, ou os dois. Estas monoculturas vêm homogeneizando as espécies, eliminado a competição biológica e fazendo proliferar as espécies dominantes [que outrora faziam parte de um ecossistema equilibrado], mas que hoje se transformaram em grandes vilãs, as pragas. A retirada da vegetação original faz com que centenas de microrganismos do solo se extinguissem. A ocupação do ecossistema por gramíneas e leguminosas invasoras tem também desequilibrado, substancialmente, o ecossistema e aumentado o número de pragas, tem certos locais que, mesmo os frutos originais do Cerrado têm perdido seu sabor delicado e original, para se transformar em espécies geneticamente modificadas em laboratório.

Diante disso, eu reafirmo que o nosso Cerrado é totalmente injustiçado com a marginalidade que lhe foi (é) imposta pelas novas tecnologias do campo, voltadas exclusivamente para o agronegócio e a agroindústria. Assim, nunca devemos nos esquecer de que este bioma, sustentáculo de um solo ácido (rico em alumínio), uma vegetação composta por espécies de troncos e galhos tortuosos e retorcidos, de folhas ásperas, de raízes profundas e adaptadas à captação de água em grandes profundidades, na verdade, trata-se do mesmo ecossistema que abriga em suas entranhas o Guarani, um dos maiores reservatórios de água subterrânea do mundo.  Trata-se do mesmo bioma que abriga em suas encostas um gigantesco mosaico de nascentes dos principais rios do continente sul americano, constituindo-se, desta forma, na grande caixa d’água de nosso continente. O mesmo Cerrado que, para muitos, trata-se somente de um ecossistema secundário e “feio” nos mostra sua adaptação milenar às condições adversas de temperatura e mudanças climáticas. Ao mesmo tempo sua vegetação ostenta flores extremamente belas pela sua singeleza e simplicidade. Neste sentido, este artigo visa a homenagear o nosso Cerrado que, para quem admira a natureza como “uma senhora muito experiente e extremamente sábia”, que soube construir um ecossistema simples, rico e belo não somente na aparência, mas, sobretudo, na profundidade infinitamente exuberante na essência. Sou cerradeiro, nasci no Cerrado e nele hei de descansar por toda a eternidade.

Referências  

FONSECA, Valter Machado da; BRAGA, Sandra Rodrigues. O Cerrado e o desafio da sustentabilidade. II Encontro dos povos do Cerrado. UNIMONTES, Pirapora (MG): 2004. CD-ROM (anais)  

______. O Cerrado brasileiro: a biodiversidade ameaçada. III Encontro dos povos do Cerrado. UNIMONTES, Pirapora (MG): 2004. CD-ROM (anais)

FONSECA, Valter Machado da. Cerrado Brasileiro: Estado de conservação, Fronteira Agrícola e unidades de conservação. Periódico Científico Fórum Ambiental da Alta Paulista, UNESP, Tupã (SP): ANAP, 2008, p.40-66.  


* Técnico em Mineração e Geólogo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP/MG), Geógrafo, Mestre e doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU/MG). É professor dos cursos de Engenharias de Produção, Civil e Ambiental da Universidade de Uberaba (UNIUBE). É diretor da Associação dos Geógrafos Brasileiros, seção Uberaba – AGB/Uberaba. Possui inúmeros trabalhos relativos às áreas de Educação, Geografia e Geociências, publicadas em anais de Congressos e Seminários nacionais e internacionais, além de vários artigos publicados em periódicos científicos. É pesquisador das áreas de “Alterações Climáticas” e “Impactos socioambientais das monoculturas sobre os ecossistemas terrestres e aquáticos”. É membro-fundador e coordenador do Núcleo de Estudos em Educação, Filosofia e Ciências Sociais do Triângulo Mineiro (NEEFICS). É autor dos livros: “A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA PÚBLICA: entrelaçando saberes, unificando conteúdos” (2009), “ENTRE O AMBIENTE E AS CIÊNCIAS HUMANAS: artigos escolhidos, ideias compartilhadas” (2010) e “O SUJEITO & O OBJETO: educação e outros ensaios” (2010).

sábado, 19 de novembro de 2011

20 de novembro: dia da consciência negra e de luta contra nossa própria tirania


Valter Machado da Fonseca*
Caros (as) leitores (as)!
É chegado mais um dia 20 de novembro. Data nacional dedicada à consciência negra. Mas, além de refletirmos simplesmente sobre a consciência negra, talvez se faça urgente refletirmos sobre nossa própria consciência. É bom, vez em quando, fazermos, pelo menos uma breve visita à nossa própria consciência! É bom, vez em quando, procurarmos dialogar com nós mesmos, com nosso próprio pensamento! Existe uma grande distância entre o que se diz e o que, de fato, se faz. Como diria o saudoso professor Paulo Freire “É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal maneira que num dado momento a tua fala seja a tua prática”. É sob esta orientação do nosso grande educador que, ora, construo esta singela homenagem, não somente à consciência negra, mas também ao conjunto de todas as consciências do mundo.
Alguma vez na vida você parou para consultar, para visitar sua consciência? Você realmente sabe quem mora, quem habita dentro de sua consciência? É deveras fácil dizer-se contra o preconceito, contra a discriminação, contra a tirania. Até os piores ditadores, vez em quando, consultam sua vil consciência. Mas, isto não é suficiente. É deveras fácil dizer-se contra a opressão e em favor dos oprimidos. Mas, repetindo a indagação: você sabe quem mora em sua consciência? Será o oprimido ou será o opressor? Muitas vezes criticamos atitudes alheias em nome da luta contra a tirania e a opressão, mas, de fato, nossa prática não passa da encarnação da própria tirania, da própria opressão. Por isso, meus (minhas) caros (as) leitores (as) muitas vezes precisamos revisitar nossa consciência branca, machista, preconceituosa e hipócrita para tentarmos compreender, pelo menos, o significado de ter uma consciência. Alias, para que serve uma consciência, afinal? Será que serve para comentarmos o mundo, as atitudes alheias, as práticas alheias? Ou será que possuímos uma consciência apenas para ser apaziguada nas datas de natal, de ano novo, nos dias de velório? Não! Meus caros, minhas caras! Essa tal de consciência tem que servir para alguma coisa, tem que servir para intervirmos concretamente neste mundo desigual, no sentido de modificá-lo de transformá-lo.
A história da cultura africana no Brasil foi contada, até bem pouco tempo, pelas elites intelectualizadas que tinham o papel [delegado por eles próprios] de contar a história do Brasil, da ocupação e delimitação das fronteiras de seu território, isto é, a história oficial do país era reinventada pelas elites intelectuais representantes das ideias de civilização da sociedade ocidental. Mesmo após a dita “abolição” da escravatura, a história continuou a ser inventada pela elite política e econômica do país. Aos setores populares do país era negado o direito de opinar sobre sua própria história e sua própria cultura. Neste sentido, é preciso voltar os olhos para nossa própria consciência e indagarmos: de onde vieram as origens de nosso povo? Elas brotaram do mesmo solo avermelhado, regado com o mesmo sangue dos antepassados africanos que edificaram esta nação e consolidaram sua riqueza.
Vamos transformar o dia “20 de novembro” em data realmente histórica, de nossa libertação diante do mundo e das coisas do mundo. Assim, neste dia da consciência negra [e do conjunto de todas as consciências do mundo] vamos abrir nossas algemas e soltar as amarras e os grilhões que nos fazem prisioneiros de nós mesmos. Que nos mantém aprisionados ao preconceito, à discriminação, à tirania. Vamos tomar posse, de uma vez por todas, de nossas próprias consciências, libertando os milhares de Zumbis (e Dandaras!), para que eles ganhem o mundo e nele edifiquem quantidades incontáveis, intermináveis e eternas de Palmares.   


* Escritor. Geógrafo pela UFU. Mestre e doutorando pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia (PPGED/FACED/UFU/CAPES). Pesquisador das temáticas “Alterações climáticas” e “Impactos das monoculturas sobre os sistemas terrestres e aquáticos”. machado04fonseca@gmail.com

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

“PACIFICAÇÃO” DAS FAVELAS DO RIO: Tudo certo! Mas... tá esquisito!!!

Complexo de favelas da Rocinha no Rio de Janeiro

Prof. MS. Valter Machado da Fonseca*
Talvez eu esteja enxergando demais, ou, como diriam os mais antigos, eu esteja “vendo chifres em cabeças de cavalos”. O fato é que a tal “pacificação” das favelas do Rio de Janeiro está “com cheiro estranho”, para não dizer que está cheirando a “maracutaia”. Desde a semana passada, as manchetes acerca da “pacificação” das favelas da cidade do Rio de Janeiro tomam conta da grande mídia, tanto nacional quanto internacional. A mídia faz um esforço gigantesco para convencer a população e a opinião pública de que a paz invadiu as favelas da cidade maravilhosa. Mas, existe algo de estranho, para não dizer “podre” nesta história toda. Porém, nem toda a mídia está convencida da estratégia vitoriosa da polícia do Rio de Janeiro, do tal plano espetacular e vitorioso da pacificação repentina das favelas cariocas. O jornal francês “Le monde” afirma tratar-se de um projeto que visa apenas a maquiar a cidade maravilhosa com ares amistosos, em função da realização da Copa do Mundo de 2014 e dos jogos olímpicos de 2016. Aliás, algo parecido foi montado quando da primeira visita do pontífice João Paulo II ao Brasil.
É preciso que prestemos atenção a alguns fatos para que possamos avaliar melhor o “retorno” repentino da paz aos principais morros cariocas. Em primeiro lugar, o Brasil e, em particular a cidade do Rio de Janeiro, precisam vender uma imagem positiva do país e da cidade maravilhosa para o mundo, caso contrário, os tão esperados turistas e seus euros e dólares não virão na época dos grandes eventos esportivos em nosso país. Quando vemos as imagens da TV, não notamos nenhuma manifestação de contentamento por parte das populações das favelas em questão, acerca do domínio policial em seu território, como querem fazer crer a grande imprensa. Pelo contrário, os depoimentos dados pelos moradores expressam certa apreensão diante da situação.
Outro fato extremamente relevante é que uma das favelas “pacificadas” não é nada mais nada menos que a favela da Rocinha, o maior complexo de favelas da América Latina e um dos maiores do mundo. É extremamente intrigante que em um complexo de dimensões gigantescas como a Rocinha, onde existem diversas organizações clandestinas do narcotráfico, elas abandonem seus postos de comércio e atuação sem disparar um tiro sequer. Será que a polícia carioca, que, como já foi demonstrado em diversas ocasiões, possui um braço potente de participação na indústria do narcotráfico, seja tão respeitada pelas quadrilhas dos morros cariocas?
Por outro lado, vemos pelos noticiários que a quantidade de armas e drogas apreendidas na operação “pacificação” chega a ser irrisória, quando comparada às dimensões do complexo de favelas da Rocinha. A troco de que os narcotraficantes iriam abandonar seu território sem nenhuma resistência? Outro fato a ser considerado é a qualidade e estado de conservação das armas apreendidas; salvo, algumas exceções, a maioria das armas é velha, ultrapassada e em péssimo estado de conservação. 
É por isso, meus (minhas) caro (as) leitores (as), que digo que está tudo certo, porém tá esquisito! Toda esta história está me cheirando a uma grande armação. A “estratégia”, brilhantemente montada pela força militar da cidade do Rio de Janeiro pode servir para reforçar a imagem [por sinal bastante desgastada] da polícia carioca e, ao mesmo tempo garantir a integridade física dos armamentos e dos homens do narcotráfico, visando, em primeira instância garantir o fluxo de turistas nos eventos esportivos de 2014 e 2016, que trará um montão de dólares e euros para o país, o que fará felizes tanto o Estado, quanto os homens da indústria do narcotráfico. Se esta for realmente a estratégia, ela é, verdadeiramente, brilhante e espetacular. Aí, poderemos dizer: parabéns a todos os estrategistas! Afinal terão conseguido agradar a todos e, ao mesmo tempo, enganar toda a população brasileira, sem disparar sequer um tiro de festim.    


* Escritor. Geógrafo, mestre e doutorando em Educação pela UFU. Pesquisador das temáticas ambientais. Professor da Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com

domingo, 13 de novembro de 2011

SUSTENTABILIDADE: Um conceito/não conceito que se cristaliza e se dissolve...!!!


Prof. MS. Valter Machado da Fonseca*
Desde os meus primeiros estudos acerca do tema “sustentabilidade”, venho afirmando que se trata de um conceito volátil, que se dissolve antes de se cristalizar. Agora, mais do que nunca esta convicção se fortalece. As propostas de sustentabilidade, sob o modelo econômico capitalista, não se sustentam nem teoricamente. O modelo de produção capitalista tem como motor para se auto sustentar, para se manter de pé, a mais valia, que se mantém às custas do aumento exponencial dos recursos da natureza.
O conceito de sustentabilidade socioambiental se embasa no pilar da conciliação do desenvolvimento econômico com a eliminação da pobreza, além de minimizar os impactos sobre os recursos da natureza. Aí, nos vem à mente a pergunta: por que o sistema capitalista, cuja meta central é a reprodução e expansão do capital, por intermédio do lucro (mais valia), se apropriou, de forma tão rápida, do discurso da sustentabilidade? Por que ele passou a fazer o marketing da sustentabilidade socioambiental, se para atingi-la se faz necessário diminuir o ritmo de exploração dos recursos naturais, o que, por sua vez se liga à diminuição de seus exorbitantes lucros?
A resposta a essas indagações se revela de forma simples. O sistema capitalista, bem como seus principais porta vozes (as grandes empresas, os grandes grupos econômicos e as gigantescas corporações inter/multi/transnacionais) se apropriaram do discurso da tão propalada sustentabilidade como forma de agregar valores supostamente ecológicos aos seus produtos, por meio da tal responsabilidade socioambiental. Haja vista, que são as empresas que mais poluem que mais defendem a “sustentabilidade”. Assim, agregando valores supostamente ecológicos aos seus produtos, o capital aumenta consequentemente sua mais valia e, ao mesmo tempo, encontra justificativas perfeitas, que lhe permitam defender o aumento da produção de novas mercadorias e supérfluos, o que não se dá sem a exploração de novas fontes de recursos naturais. Neste sentido, podemos verificar que os princípios nos quais se apoiam as tais propostas de sustentabilidade, na verdade, são totalmente incompatíveis com os fundamentos e as bases do modelo capitalista de produção. São como água e óleo, jamais se misturarão. Nunca será possível conciliar, sob este modelo econômico, propostas de redução da exploração dos recursos naturais e manutenção e expansão da mais-valia, sem a qual o sistema capitalista entraria em colapso total e definitivo.
Então, na verdade, a “onda verde” da sustentabilidade, arduamente defendida nas grandes conferências e reuniões ambientais mundiais, não passa de balela, de falsificação, de um discurso vazio. De fato, isto explica o porquê de todas as conferências sempre terminarem em pizza e se transformarem em um palco, onde se discutem de tudo, menos propostas que visem a resolver os grandes e graves problemas socioambientais do planeta. A tal sustentabilidade socioambiental foi milimetricamente planejada e forjada pelo capital de maneira a aumentar os lucros das elites econômicas e, ao mesmo tempo, servir de desvio eficiente da atenção dos setores bem intencionados da população mundial dos gravíssimos problemas que permeiam a grande crise estrutural que perpassa as engrenagens carcomidas e enferrujadas do capital.
Assim, caros (as) leitores (as) cabem-nos a árdua tarefa de mostrar aos amplos setores que trabalham as questões ambientais acreditando, de forma honesta, nos princípios da tal sustentabilidade socioambiental, que este conceito não passa de uma farsa, de um discurso enganoso, que visa em última instância, a legitimar a superexploração despreocupada dos recursos naturais, bem como a perpetuar a exploração do homem pelo próprio homem.
Cabe a nós, comprometidos com um modelo de sociedade que valorize o trabalho humano e os recursos da natureza, utilizar este discurso no sentido da politização e mobilização dos amplos setores da sociedade, mostrando os desmandos deste modelo econômico que, embasado no arcabouço teórico-discursivo falacioso de uma “sustentabilidade” vazia que visa, simplesmente, perpetuar a superexploração da força de trabalho humano e dos recursos da natureza, como forma de garantir a superprodução de supérfluos e descartáveis em detrimento das verdadeiras necessidades humanas. Sob esta orientação, a dita “Sociedade do Conhecimento” caminha a passos largos para a barbárie generalizada, onde os seres humanos não passarão de simples peças que irão aumentar as montanhas de lixos e descartáveis produzidos pela ganância volátil e especulativa do capital.               


* Escritor. Técnico em Mineração e Geólogo pela UFOP.   Geógrafo, Mestre e doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia/MG (UFU). Pesquisador das temáticas “Alterações climáticas” e “Impactos sobre os ecossistemas terrestres e aquáticos”. Professor da Universidade de Uberaba (Uniube).

PARQUES DE VEREDAS: Subsistemas do Cerrado, da Amazônia e da Caatinga

Vista do Paque Nacional Grande Sertão Veredas (MG)

Vista Parque Nacional Grande Sertão Veredas (MG)
Prof. MS. Valter Machado da Fonseca*

O nosso Cerrado sempre foi considerado um bioma secundário, marginal, justamente pelas características de sua fitofisionomia. Os aspectos principais que marcam a fitofisionomia do Cerrado brasileiro são os tipos predominantes de vegetações de folhas ásperas com galhos e troncos retorcidos, árvores tortuosas, dentre outros aspectos. Geralmente, grande parte de observadores e até mesmo de estudiosos e cientistas usam a Amazônia como parâmetro de comparação para definir o Cerrado.
E, é justamente por isso que se cometem os maiores equívocos de formulações e análises, conceitos incorretos. Apesar de os ecossistemas serem interdependentes e interligados, cada um deles deve ser observado em separado, porém, sem jamais se perder a visão do conjunto, da totalidade dos ecossistemas e de suas partes constitutivas. Assim, diante da magnitude, da majestosidade da Amazônia, classificam equivocadamente o nosso Cerrado como um ecossistema secundário e marginal, sem nenhuma significação para a ciência.
Ora, para se pesquisar sobre quaisquer temas é preciso que se leve em consideração as diversas categorias de análises a eles relacionados, sob pena de se construir um resultado forçado e totalmente equivocado. Por exemplo, ao analisar nosso Cerrado é preciso que atentemos para seus aspectos particulares, singulares. Ele se constitui de inúmeras espécies de extrema beleza. A beleza das espécies do Cerrado é marcada exatamente pela sua simplicidade, pela leveza singela de suas flores, pela riqueza de sua fauna de roedores, de pequenos mamíferos, de aves, anfíbios, répteis, quelônios e pela enorme diversidade de peixes em suas águas. É importante dizer que grande parte da flora do bioma sequer foi ainda catalogada e se desconhece o princípio ativo de boa parte de suas espécies vegetais.
É importante ainda salientar que o Cerrado é a grande caixa d’água que abastece a maior parte do continente sul americano. Grande parte das nascentes que formam os principais rios e corpos d’água superficiais localiza-se exatamente no cerrado. Isto sem mencionar que nas entranhas de seu subsolo localiza-se um dos maiores aquíferos do mundo: O Guarani. O Guarani é um aquífero que constitui uma das principais reservas estratégicas de água potável [extremamente pura] do mundo e que, infelizmente já está sendo poluída em diversos pontos, em decorrência do despejo massivo de insumos agrícolas, pesticidas, herbicidas, dentre outros agrotóxicos usados de forma cada vez mais agressiva no plantio de lavouras de monoculturas, em especial a soja e a cana-de-açúcar.        
E as veredas? Qual sua importância?
Se o cerrado como um todo já é marginalizado, os parques de veredas o são, ainda de forma mais desoladora. Quantas vezes já se ouviram comentários como: “para que serve um punhadinho de palmeiras e coqueiros espalhados no Cerrado?” Ou “essas palmeiras do Cerrado só servem para criar áreas pantanosas ou, então, para atolar os tratores e as máquinas agrícolas”. Na verdade, escondem-se os verdadeiros significados e importância dos parques de veredas com o objetivo de tirar os entraves que poderiam emperrar a superexploração desordenada do Cerrado, em função, principalmente, das atividades ligadas ao agronegócio.
Na verdade, não se pode dizer que as veredas sejam um tipo específico de fitofisionomia do Cerrado, uma vez que elas são encontradas como enclaves dentro da Floresta Amazônica, nas bordas da Caatinga nordestina, ou nas áreas de transição dos diversos biomas. As veredas sempre foram marcas dentro do Cerrado, em especial no planalto central do Brasil, Goiás, Mato Grosso e na região norte/noroeste do Estado de Minas Gerais, onde se destaca o Parque Nacional Grande Sertão e Veredas, principal fonte de inspiração do exímio e magnífico escritor e poeta João Guimarães Rosa.
Mas, quais as funções dos parques de veredas nos ecossistemas?
Podemos afirmar, sem nenhum medo de errar, que as veredas são indicativos de ambientes ecologicamente equilibrados. Nas áreas onde os parques de veredas estão em bom estado de conservação o ambiente como um todo está preservado e conservado. As veredas possuem como características fitofisionômicas a presença de palmeirais, cujas espécies mais comuns são os buritis. A existência das formações de buritizais indica, sempre, a presença de água ou nascentes. Indica que o lençol está próximo ou aflorando na superfície do terreno. Assim, as veredas são indicativos fortes de presença de água e, dessa forma, de maneira direta ou indireta, se ligam à dinâmica das bacias de drenagens e às nascentes. 

A destruição dos subsistemas de veredas em quaisquer dos biomas irá gerar desequilíbrios ambientais nesses ecossistemas principalmente nas áreas de nascentes e na dinâmica fluvial do bioma como um todo. Então, cabe aos gestores, aos educadores ambientais, aos ambientalistas seriamente comprometidos com a preservação dos ambientes equilibrados e com a conservação e manejo correto dos recursos hídricos propor e estimular ações efetivas que visem à preservação dos parques de veredas, bem como alavancar campanhas explicativas acerca do significado e importância deste subsistema, para desfazer esta imagem de marginalidade e colocando as veredas no lugar de destaque que elas merecem, lugar que elas sempre deveriam ter ocupado, devido à sua espetacular relevância na conservação dos ambientes terrestres e aquáticos.



* Escritor. Técnico em Mineração e Geólogo pela UFOP.   Geógrafo, Mestre e doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia/MG (UFU). Pesquisador das temáticas “Alterações climáticas” e “Impactos sobre os ecossistemas terrestres e aquáticos”. Professor da Universidade de Uberaba (Uniube).