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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

O DISCURSO MIÚDO

Prof. Valter Machado da Fonseca (2015)



Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca
Caros (as) amigos (as)!
Os tempos modernos descortinam diversos nuances que outrora estiveram dissimulados, escondidos na sociedade. O discurso que perpassava os diversos setores e grupos sociais ainda trazia em suas entrelinhas, certa dosagem de verdade e de credibilidade. Diferentemente dos tempos passados, a sociedade atual se acha altamente influenciada pelos controladores das mídias, pelos formadores artificiais de opinião.
É perfeitamente perceptível a construção de tendências e modismos que irão dar o tom de tudo que vai rolar na grande mídia, ou seja, o combustível para a venda de notícias que interessa aos gestores e mentores dos grandes mercados de capitais que ditam as normas no modelo capitalista de produção. Diante disso, é preciso que atentemos para as entrelinhas das notícias, dos fatos e acontecimentos propositalmente forjados pela mídia e que vai ditar os rumos dos mercados reguladores da sociedade capitalista.
Nesta direção interpretativa, nos tempos presentes é quase que impossível perceber alguma verdade no arcabouço discursivo sobre o qual erige o atual modelo econômico de produção. Parece-me que tais discursos são fragmentados, cheios de meias verdades, o que vai determinar o discurso miúdo que sustenta uma lógica de produção de mercadorias completamente inúteis, desnecessárias à sobrevivência e às atividades primordiais dos seres humanos. Assim, meus caros amigos, faz-se urgente o cuidado na interpretação das notícias forjadas e plantadas pela grande mídia, sob pena de comprarmos “gatos por lebres” e, ao mesmo tempo, auxiliarmos na construção da riqueza de poucos e da situação de miserabilidade da grande maioria dos seres humanos.  

AOS AMIGOS E AMIGAS




Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca
No ano que se foi nem tudo foram flores e a depender da conjuntura atual, neste ano de 2017 ainda teremos muitos espinhos, tristezas e desafios colossais. Mas, mesmo em meio aos fatos e acontecimentos políticos e econômicos desagradáveis que marcam os tempos d’agora, existem coisas e valores que valem a pena viver, reviver, lembrar e relembrar, como as amizades construídas ao longo de nossa existência.
Quero aproveitar este ano que se inicia para agradecer os amigos e amigas sinceros que nos acompanham no Face. Agradeço aos novos amigos e amigas do Departamento de Educação da UFV, aos amigos (as) mais antigos da Universidade de Uberaba. Enfim, agradeço a todos (as) que formam este coletivo que acredita nas transformações, na construção de seres humanos melhores e mais solidários. Que acreditam que outro mundo e outro modelo de sociedade são necessários e possíveis. Por isso, meus caros (as) amigos (as) nunca abandonemos nossa garra e nossos sonhos, pois, no meio do deserto, contra toda a lógica ilógica, sempre é possível encontrar flores maravilhosas. São as amizades que mantêm vivas nossas esperanças. Pensem sobre isto e lutemos por tempos melhores!

A FACE EXPLÍCITA DA BARBÁRIE




Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
Nada mais oportuno do que a simbologia e a força do imaginário do Dia Nacional da Consciência Negra para realizarmos uma breve reflexão sobre a temática “a face da barbárie” nos tempos presentes. Mas para realizarmos esta reflexão, se faz preponderante que entendamos alguns elementos e aspectos da atual conjuntura mundial e nacional.
Pois bem, caros (as) e amigos (as)! A conjuntura internacional que marca este limiar do século XXI é pontuada, fundamentalmente, por aspectos e elementos que apontam para a emersão de grupos e organizações nazifascistas. O retorno destas organizações é fruto do enorme retrocesso e/ou refluxo das lutas dos trabalhadores e marginalizados em todo o mundo, fato que se dá devido à reorientação das forças conservadoras neoliberais em nível planetário. Porém, a implantação das medidas neoliberais somente é possível por intermédio da imposição de derrotas históricas e profundas aos movimentos legítimos da classe trabalhadora em nível mundial.
Entretanto, esta reorientação política conservadora se dá como uma saída clássica do capital exatamente pelo fato de sua incapacidade de dar respostas às gigantescas e graves crises econômicas que tiveram seu início nos anos 2008/2011 e que atingem (em cheio) os centros nevrálgicos (o coração) do capitalismo: a Europa e os EUA. Estas gigantescas crises perduram até os dias atuais e se propagam como rastilho de pólvora para os diversos países do globo. É importante salientar que estas importantes crises econômicas mundiais diferem das crises anteriores por provocarem a corrosão interna das engrenagens do sistema capitalista, o que aponta para a crise estrutural do capital, diferentemente das crises cíclicas clássicas já conhecidas, conforme afiança Mészáros (2011) em seu brilhante texto “Para Além do Capital”. Isto se dá fundamentalmente pela incapacidade do capitalismo de se reinventar, pois, ele já não se embasa na produção de mercadorias necessárias ao atendimento das necessidades da humanidade. Ao contrário, as mercadorias hoje produzidas se embasam na venda da ilusão de produtos supérfluos e descartáveis. Em primeiro lugar criam-se produtos e somente depois se inventam as necessidades de sua utilização. Esta lógica “ilógica” dificulta a própria reinvenção do capital para eternizar e manter acesa a chama da mais-valia.
Diante dessa onda de crises econômicas que varrem o planeta, as principais potências econômicas mundiais viram como saída para tais crises, a aplicação aprofundada dos princípios do liberalismo clássico, cuja ineficiência histórica também já é conhecida e, para isso torna-se necessário a imposição de derrotas históricas e profundas à classe trabalhadora, tomando-lhe de forma absolutamente monstruosa, cada uma de suas conquistas, frutos das suas lutas seculares tanto na cidade quanto no campo. As ofensivas recentes às conquistas dos explorados e marginalizados do mundo todo, provocam os maiores refluxos que o conjunto dos trabalhadores já presenciou em suas formas clássicas de organização. A nova reorientação neoliberal planejou (milimetricamente) e começa a colocar em execução uma ofensiva destrutiva das conquistas sociais nunca dantes experimentada aos países pobres como a África e as Américas do Sul e Central.

A ofensiva neoliberal no Brasil

No Brasil, em particular, a ofensiva neoliberal foi extremamente facilitada pela política conduzida pelo governo socialdemocrata de frente popular e cujo arco de alianças abrangeu um conjunto de forças totalmente estranhas ao conjunto dos trabalhadores e suas organizações. Este arco de alianças acolheu em seu interior os setores mais atrasados e reacionários da direita ultrarreacionária brasileira, desde as arcaicas oligarquias rurais até os setores mais retrógrados da burguesia industrial. O supracitado governo optou por construir um espectro de alianças com os setores mais retrógrados em detrimento de priorizar a construção de um projeto político sério e honesto para o Brasil. O arco de alianças do governo de frente popular no Brasil acolheu em seu interior os piores e mais atrasados setores da burguesia existentes em nosso país.
Por outro lado, a bancarrota do governo de frente popular, além de impingir um retrocesso sem precedentes à organização das forças de esquerda honestas e legítimas, ainda permitiu que a conjuntura brasileira fosse marcada principalmente pela transferência de um poder político absoluto ao sistema judiciário, o qual paira soberano sobre a população como juízes supremos, inatingíveis e que atuam de forma seletiva em relação às aspirações de uma burguesia enfraquecida, contrária e autoritária em relação aos interesses dos setores mais carentes e marginalizados do país.
O projeto neoliberal para o Brasil elegeu setores essenciais para o início de sua política de “corte na carne”, porém este corte se dá somente na carne dos trabalhadores por intermédio do congelamento e cortes de recursos na educação, cultura, saúde e previdência social. Ao mesmo tempo em que a política de cortes orçamentários é executada em setores fundamentais para os trabalhadores, o superpoder presenteado ao sistema judiciário trata de criminalizar toda e qualquer forma de luta e organização dos trabalhadores, os movimentos sociais e demais movimentos secularmente construídos pelos trabalhadores.
E de onde surgem as forças nazifascistas?
As experiências históricas das lutas operárias e camponesas em todo o mundo nos mostram que sempre que são impostas derrotas de grande magnitude ao movimento dos trabalhadores, emergem as forças “ocultas”, estranhas à classe trabalhadora e que surgem geralmente do seio das camadas pequeno-burguesas e até mesmo dos setores mais atrasados e desesperados das camadas mais pobres da população sob a batuta do ideário da extrema direita.
Em nosso país, isto fica cada dia mais evidente. Brotam do chão, do próprio Congresso Nacional, com cada vez mais intensidade, grupos orientados e cuja função é destilar o ódio e a violência contra os setores mais marginalizados da sociedade. Estes grupos se propagam por todo o planeta, na esteira das derrotas impostas às organizações e movimentos legítimos da classe trabalhadora. Diante disso, cabe a todos os que se reivindicam da verdadeira democracia, ao conjunto dos militantes honestos e comprometidos com a luta por uma sociedade mais justa e igualitária, empunharem a bandeira da luta contra todas as formas de arbítrio, violência, preconceito e discriminação. Que este vinte de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, sirva também de “marco zero” da luta contra o nazifascismo e todas as formas de preconceito e discriminação. Somente a auto-organização dos trabalhadores e da juventude será capaz de superar o preconceito, a discriminação e soterrar definitivamente a reação fascista.  


* Pesquisador e Professor Adjunto do Departamento de Educação da Universidade Federal de Viçosa (DPE/UFV). Escritor, Geógrafo, mestre e doutor em educação. Pós-doutorado em Educação do Campo, Trabalho Docente e Agroecologia.