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domingo, 15 de outubro de 2017

O QUE EU DEVERIA COMEMORAR?

Foto: Prof. Valter Machado da Fonseca - aula de Geologia (2011)



Prof. Dr. Valter Machado Fonseca
Hoje, 15 de outubro de 2017, é o dia do professor. Mas, afinal que motivos teríamos para comemorar? Amo a sala de aula, meus educandos (as) e a arte de exercer a docência com hombridade, caráter e dignidade. Porém, o país está triste, o povo está triste e, o professor como parcela da classe trabalhadora, também está terrivelmente triste.
Nunca dantes, nossa digníssima profissão foi tão enxovalhada, maculada, atacada, dizimada. Querem tirar o brilho da arte da docência, querem fazer desta profissão tão nobre uma simples “receita de bolo”. Querem nos formatar, nos talhar como um utensílio, um instrumento qualquer. Nunca antes o professor foi tão transformado em mera mercadoria. Coisificam a educação, educadores (as), educandos (as)! Sempre que se aproxima de um pleito eleitoral, enchem a boca para “enaltecer” a educação. Quanta hipocrisia! Quanta mordaça, quanta angústia, tristeza e sofrimento impõem aos educadores (as) do Brasil!
 Não, caros (as) amigos (as), absolutamente nada temos a comemorar nestes tempos macabros, em especial debaixo do catre e da mordaça do silêncio que nos impõem enquanto educadores neste país. Não! Caros (as) amigos e amigas! Em absoluto, não é hora de fazer festa, pois, nada temos a festejar. É hora de mergulharmos na mais profunda reflexão sobre os desafios a serem superados em prol de uma “educação como prática de liberdade”, parafraseando o nosso saudoso educador, o professor pernambucano Paulo Freire.
É hora de pensarmos ações práticas para tirar a educação do lamaçal em que a mergulharam. É hora de, nós professores e professoras, nos percebermos enquanto parcela de uma classe maior, a classe trabalhadora. É hora de nos somarmos ao conjunto de educadores anônimos desta nação, ao conjunto dos oprimidos e marginalizados e passarmos a limpo este país. A educação não se constrói em festejos, fogos de artifício e festividades, não se constrói nos discursos divorciados da ação prática.
Ser educador é também se perceber enquanto peça chave para a tomada da consciência, com vistas à formação de sujeitos críticos que varrerão a sujeira e mudarão a história deste imenso Brasil. Educação significa tomada de consciência somada à ação prática no mundo real e na vida real. Diante disso, não permitamos que nos imponham, covardemente, a vergonha da escolha de uma profissão tão nobre para a construção da história de um mundo menos doente e mais igualitário. Sejamos, de fato, educadores!

sábado, 14 de outubro de 2017

MODERNIDADE, CAPITALISMO E CRISE

Foto: Prof. Valter Machado da Fonseca (2017)



Prof. Dr. Valter Machado Fonseca
O aumento da velocidade da informação, dos transportes, das telecomunicações e da rede mundial de computadores “diminui” as distâncias entre os povos. A relação espaço/tempo configura-se de acordo com a lógica da velocidade. Estes são aspectos que caracterizam os tempos modernos, que marcam a “derrubada” das fronteiras econômicas entre os diversos povos. A “sociedade global”, por meio da tecnologia de última geração descortina também a crise, sem precedentes, que marca os tempos modernos.
A pretensão desse modelo, que emerge do pensamento positivista, é aparar as arestas das diferenças e desigualdades entre os povos, considerando-os como se fossem coisas, objetos moldados e talhados por um instrumento qualquer. O homem nesta sociedade, não passa de um objeto, descartável, cuja única função é vender sua força de trabalho em troca do florescimento da mais valia: fio condutor e ponto nevrálgico do modelo de desenvolvimento da sociedade capitalista contemporânea.
Vive-se um período marcado pela crise intensa da técnica e da ciência, pelas opacidades, pela coisificação do homem e da natureza. Vive-se num tempo onde os projetos de homem e de natureza, se perdem no “buraco negro” resultante da crise capitalista dos tempos modernos. Vive-se um período onde coexistem dois mundos: o primeiro trata-se de um submundo virtual, dirigido por tecnocratas insanos, os quais são responsáveis por ditar os destinos e os rumos da humanidade. Pairam sobre ela como juízes supremos, intocáveis, que a todos podem julgar e por ninguém podem ser julgados.
O segundo trata-se de um submundo real, habitado pela grande maioria da população global, imersa no gigantesco lamaçal da corrupção, da miséria, desemprego, fome, violência. Trata-se de uma sociedade chamada de “altamente informatizada”, mas que, no fim das contas desinforma, que no fim das contas atomiza as pessoas como partículas insignificantes dentro do colossal universo da degradação ambiental e da degradação econômica, política, cultural e social do ser humano. Trata-se de uma sociedade que coloca o homem na luta contra sua própria espécie e, em última instância o coloca na luta pela derrocada de todo o sistema planetário, para, enfim glorificar e fazer triunfar a mais-valia como mola mestra de um modo de produção autofágico e altamente destrutivo.
Desta forma, o planeta, a humanidade e este modelo de desenvolvimento econômico encontram-se imersos numa crise, sem precedentes. A coisificação do homem e da natureza se faz presente na maneira irracional com que o homem se apropria dos recursos naturais e da força de trabalho da própria espécie humana. Esta crise, explica-se, destarte, pela irracionalidade da supremacia da razão, ou seja, pela ganância do ser humano externada na mais-valia capitalista. Assim, a crise ocidental demonstra que este modelo está falido se se levar em consideração o bem estar e a dignidade do homem. Cabe somente a ele próprio repensar um conjunto de ações e reflexões que possam levar a uma mudança de paradigma. Caso contrário, a própria espécie humana estará sujeita à extinção, devido à irracionalidade do que ele próprio chama de racionalismo.

O CONHECIMENTO EMPÍRICO DESCARTADO DA CADEIA PRODUTIVA

Foto: Prof. Valter Machado da Fonseca (2017)



Prof. Dr. Valter Machado Fonseca
As evoluções tecnológicas implicaram em novas conformações nos mercados de consumo, na circulação de mercadorias e serviços, na dinâmica dos fluxos de capitais e novas formas de organização no mundo do trabalho. A ciência propiciou um salto gigantesco nas relações capital/trabalho, com a invenção e aperfeiçoamento de novas técnicas de produção, por intermédio da maquinaria utilizada, especialmente no processo de produção industrial.
Esta nova dinâmica no processo produtivo das fábricas implicou na inauguração de novas formas de relacionamento dos trabalhadores com os equipamentos e máquinas, o que demandou (da parte dos trabalhadores) a busca de novos conhecimentos, novas habilidades para a lida com a nova maquinaria industrial. O manuseio contínuo e cotidiano destas novas ferramentas de trabalho possibilitou aos trabalhadores, além de assimilar o conhecimento necessário para operar os novos engenhos e equipamentos industriais, também a aquisição e aperfeiçoamento de novos conhecimentos empíricos (conhecimento tácito), em função da relação cotidiana no ato do fazer cotidiano do chão de fábrica.
De fato, o salto espetacular do processo de produção, com base nas técnicas manufatureiras, para a utilização de outros equipamentos, até então desconhecidos dos trabalhadores, em primeiro lugar causou um profundo impacto sobre os trabalhadores e as novas formas de produção de mercadorias. Este impacto, inicialmente grandioso, exigiu dos trabalhadores a busca de soluções para a arte do fazer na fábrica, que passou das habilidades manuais para a busca de como lidar com os novos instrumentos de trabalho.
O não reconhecimento do conhecimento produzido a partir do homem sobre sua própria invenção (no caso, a maquinaria industrial) é também uma das formas que o capitalismo se utiliza para reafirmação do controle do capital sobre o trabalho, caso contrário, o capital estaria abrindo espaços e lacunas para a instabilidade deste controle. Nesta direção interpretativa, é importante salientar que os gestores do capital agem como se esse conhecimento não existisse. Conforme (LUCENA, 2008), “qualquer acidente de trabalho ou dano ao funcionamento da maquinaria oriundo desse conhecimento é considerado falha humana ou incompetência profissional”, por outro lado, “os casos de sucesso são mérito da engenharia” e não do conhecimento tácito produzido pelos trabalhadores, já “os casos de insucesso [...] são encarados como obras de desleixo e rebeldia, resultados do não cumprimento das normas da empresa, custando a muitos o emprego ou a própria vida”.
É preciso reconstruir a visão de totalidade para tecermos a crítica verdadeira sobre o conceito capitalista acerca da relação capital/trabalho. Assim, esta relação é um importante aspecto desta totalidade. E, as análises mais aprofundadas sobre tal relação demonstram de forma evidente que não existe nenhuma preocupação do capital em atenuar os novos processos de precarização e fragmentação do trabalho, muito pelo contrário, a tendência real do capitalismo é apurar e aprofundar ainda mais o processo de alienação do trabalho sob sua égide, o que significa afirmar a total impossibilidade de quaisquer propostas de sustentabilidade social, no contexto do trabalho alienado.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

MAIS VISITANTES ILUSTRES

Foto: Valter Machado da Fonseca (2017)

Foto: Valter Machado da Fonseca (2017)

Foto: Valter Machado da Fonseca (2017)
Foto: Valter Machado da Fonseca (2017)

Foto: Valter Machado da Fonseca (2017)

Foto: Valter Machado da Fonseca (2017)






Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca
E eles (nossos amiguinhos) não param de chegar para alegrar o nosso ambiente. Como é bela a fauna brasileira! Como são lindas suas cores, seus cantos suas vozes e sua linguagem! São ingênuos (no bom sentido da palavra), desprovidos de maldade, estão ali, sempre, se oferecendo gratuitamente para nossa contemplação e nosso deleite. A beleza está justamente na sensibilidade daqueles que sabem contemplar!

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

O SIGNIFICADO DO DIA 13 DE MAIO

Foto: Prof. Valter Machado da Fonseca e Profa. Carmen Lucia Ferreira Silva (2017)



Prof. Dr. Valter Machado Fonseca
Para ensaiarmos algumas considerações a respeito do dia 13 de maio e seu significado para as raízes da cultura africana é importante lançarmos o olhar sobre a construção do significado da tão proclamada “abolição da escravatura” pelos historiadores oficiais do Estado brasileiro. O significado desta data tem sido amplamente debatido em diversas frentes dos vários movimentos que se reivindicam da cultural popular de raízes africanas no Brasil, em especial o Movimento Negro Unificado (MNU).
Ao contrário do que divulga a nossa história, a “Lei Áurea” foi a única solução encontrada para a saída honrosa dos “Barões do Café”, da oligarquia rural oriunda dos “Senhores de Engenhos” e dos latifundiários, da enrascada política em que se meteram perante o movimento abolicionista mundial e até mesmo dentro do país. Então, a Monarquia portuguesa, em crise, “libertou”, por intermédio da promulgação da “Lei Áurea”, não os afrodescendentes, mas sim os representantes da oligarquia rural e dos “Barões do Café” no Brasil.
Mas e os negros? O que ganharam com isso? Nada! Absolutamente nada! Aliás, a escravidão já dava seus últimos suspiros no Brasil; a abolição se consolidaria pela própria força da resistência negra e do movimento abolicionista. Isto significaria a derrota da monarquia e a vitória da resistência negra. Então, para eles [os negros] o que restou foi o abandono à própria sorte. Foram despejados nas cidades [ambiente ao qual não estavam adaptados], sem recursos e sem quaisquer condições de sobrevivência, somando-se assim ao exército de desempregados das metrópoles. Surgiam em nosso país os primeiros núcleos de favelas, aprofundando em seu nascedouro a desigualdade social no país. Aí é importante ressaltar a indagação: Por que pagar salários aos italianos, e não aos nossos irmãos africanos?
A historiografia oficial do Brasil é repleta de distorções e falsificações, pois ela foi narrada e escrita segundo os interesses das oligarquias rurais, dos agentes da Coroa Portuguesa e das famílias abastadas estrangeiras que tinham projetos políticos e econômicos para o país. Assim, o dia 13 de maio constitui-se em mais uma peça montada pelos agentes do Império Português em consonância com os “Barões do Café”, no sentido de justificar a abolição da escravatura sem a desmoralização da Coroa e dos “Senhores de Engenho” à beira da ruína.
Existem diversas correntes ligadas aos movimentos que se reivindicam dos estudos acerca da cultura afro no Brasil e que participam da organização e preparação das comemorações relativas ao dia 13 de maio. Em que pesem as questões ligadas à disputa pelo controle político das manifestações culturais de raízes africanas no país, essas comemorações continuam sendo importantes, principalmente pelo acervo riquíssimo de simbologias, representações, rituais, danças, instrumentos e musicalidade que nos fazem refletir sobre as raízes africanas no Brasil e no sofrimento dessas etnias que muito contribuíram para a construção deste país.
Para concluir esta reflexão, lanço mão de um recorte textual de Claude Levi Strauss (2009): “Quando o arco-íris das culturas humanas tiver terminado de se abismar no vazio aberto por nossa fúria; enquanto estivermos aqui e existir um mundo, esse arco tênue que nos liga ao inacessível permanecerá, mostrando o caminho contrário ao de nossa escravidão, e cuja contemplação proporciona ao homem, ainda que este não o percorra, o único favor que ele possa merecer: suspender a marcha, conter o impulso que o obriga a tapar, uma após outra, as rachaduras abertas no muro da necessidade a concluir a sua obra ao mesmo tempo em que fecha sua prisão”.