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sábado, 14 de outubro de 2017

O CONHECIMENTO EMPÍRICO DESCARTADO DA CADEIA PRODUTIVA

Foto: Prof. Valter Machado da Fonseca (2017)



Prof. Dr. Valter Machado Fonseca
As evoluções tecnológicas implicaram em novas conformações nos mercados de consumo, na circulação de mercadorias e serviços, na dinâmica dos fluxos de capitais e novas formas de organização no mundo do trabalho. A ciência propiciou um salto gigantesco nas relações capital/trabalho, com a invenção e aperfeiçoamento de novas técnicas de produção, por intermédio da maquinaria utilizada, especialmente no processo de produção industrial.
Esta nova dinâmica no processo produtivo das fábricas implicou na inauguração de novas formas de relacionamento dos trabalhadores com os equipamentos e máquinas, o que demandou (da parte dos trabalhadores) a busca de novos conhecimentos, novas habilidades para a lida com a nova maquinaria industrial. O manuseio contínuo e cotidiano destas novas ferramentas de trabalho possibilitou aos trabalhadores, além de assimilar o conhecimento necessário para operar os novos engenhos e equipamentos industriais, também a aquisição e aperfeiçoamento de novos conhecimentos empíricos (conhecimento tácito), em função da relação cotidiana no ato do fazer cotidiano do chão de fábrica.
De fato, o salto espetacular do processo de produção, com base nas técnicas manufatureiras, para a utilização de outros equipamentos, até então desconhecidos dos trabalhadores, em primeiro lugar causou um profundo impacto sobre os trabalhadores e as novas formas de produção de mercadorias. Este impacto, inicialmente grandioso, exigiu dos trabalhadores a busca de soluções para a arte do fazer na fábrica, que passou das habilidades manuais para a busca de como lidar com os novos instrumentos de trabalho.
O não reconhecimento do conhecimento produzido a partir do homem sobre sua própria invenção (no caso, a maquinaria industrial) é também uma das formas que o capitalismo se utiliza para reafirmação do controle do capital sobre o trabalho, caso contrário, o capital estaria abrindo espaços e lacunas para a instabilidade deste controle. Nesta direção interpretativa, é importante salientar que os gestores do capital agem como se esse conhecimento não existisse. Conforme (LUCENA, 2008), “qualquer acidente de trabalho ou dano ao funcionamento da maquinaria oriundo desse conhecimento é considerado falha humana ou incompetência profissional”, por outro lado, “os casos de sucesso são mérito da engenharia” e não do conhecimento tácito produzido pelos trabalhadores, já “os casos de insucesso [...] são encarados como obras de desleixo e rebeldia, resultados do não cumprimento das normas da empresa, custando a muitos o emprego ou a própria vida”.
É preciso reconstruir a visão de totalidade para tecermos a crítica verdadeira sobre o conceito capitalista acerca da relação capital/trabalho. Assim, esta relação é um importante aspecto desta totalidade. E, as análises mais aprofundadas sobre tal relação demonstram de forma evidente que não existe nenhuma preocupação do capital em atenuar os novos processos de precarização e fragmentação do trabalho, muito pelo contrário, a tendência real do capitalismo é apurar e aprofundar ainda mais o processo de alienação do trabalho sob sua égide, o que significa afirmar a total impossibilidade de quaisquer propostas de sustentabilidade social, no contexto do trabalho alienado.

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