Foto: Prof. Valter Machado da Fonseca (2017) |
Prof. Dr. Valter Machado Fonseca
As evoluções tecnológicas implicaram em
novas conformações nos mercados de consumo, na circulação de mercadorias e
serviços, na dinâmica dos fluxos de capitais e novas formas de organização no
mundo do trabalho. A ciência propiciou um salto gigantesco nas relações
capital/trabalho, com a invenção e aperfeiçoamento de novas técnicas de
produção, por intermédio da maquinaria utilizada, especialmente no processo de
produção industrial.
Esta nova dinâmica no processo produtivo
das fábricas implicou na inauguração de novas formas de relacionamento dos
trabalhadores com os equipamentos e máquinas, o que demandou (da parte dos
trabalhadores) a busca de novos conhecimentos, novas habilidades para a lida
com a nova maquinaria industrial. O manuseio contínuo e cotidiano destas novas
ferramentas de trabalho possibilitou aos trabalhadores, além de assimilar o
conhecimento necessário para operar os novos engenhos e equipamentos
industriais, também a aquisição e aperfeiçoamento de novos conhecimentos
empíricos (conhecimento tácito), em função da relação cotidiana no ato do fazer
cotidiano do chão de fábrica.
De fato, o salto espetacular do processo
de produção, com base nas técnicas manufatureiras, para a utilização de outros
equipamentos, até então desconhecidos dos trabalhadores, em primeiro lugar
causou um profundo impacto sobre os trabalhadores e as novas formas de produção
de mercadorias. Este impacto, inicialmente grandioso, exigiu dos trabalhadores
a busca de soluções para a arte do fazer na fábrica, que passou das habilidades
manuais para a busca de como lidar com os novos instrumentos de trabalho.
O não reconhecimento do conhecimento
produzido a partir do homem sobre sua própria invenção (no caso, a maquinaria
industrial) é também uma das formas que o capitalismo se utiliza para
reafirmação do controle do capital sobre o trabalho, caso contrário, o capital
estaria abrindo espaços e lacunas para a instabilidade deste controle. Nesta
direção interpretativa, é importante salientar que os gestores do capital agem
como se esse conhecimento não existisse. Conforme (LUCENA, 2008), “qualquer
acidente de trabalho ou dano ao funcionamento da maquinaria oriundo desse
conhecimento é considerado falha humana ou incompetência profissional”, por
outro lado, “os casos de sucesso são mérito da engenharia” e não do
conhecimento tácito produzido pelos trabalhadores, já “os casos de insucesso
[...] são encarados como obras de desleixo e rebeldia, resultados do não
cumprimento das normas da empresa, custando a muitos o emprego ou a própria
vida”.
É preciso
reconstruir a visão de totalidade para tecermos a crítica verdadeira sobre o
conceito capitalista acerca da relação capital/trabalho. Assim, esta relação é
um importante aspecto desta totalidade. E, as análises mais aprofundadas sobre
tal relação demonstram de forma evidente que não existe nenhuma preocupação do
capital em atenuar os novos processos de precarização e fragmentação do
trabalho, muito pelo contrário, a tendência real do capitalismo é apurar e
aprofundar ainda mais o processo de alienação do trabalho sob sua égide, o que
significa afirmar a total impossibilidade de quaisquer propostas de
sustentabilidade social, no contexto do trabalho alienado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário