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domingo, 14 de agosto de 2011

Leitura da Palavra! Leitura do Mundo!

Professor Paulo Freire

Valter Machado da Fonseca*
Este título refere-se a uma das mais importantes obras do educador pernambucano Paulo Freire, de cujo trabalho tratarei neste artigo. Um dos traços marcantes da obra de Freire reside na crença que ele tinha na capacidade de autotransformação do ser humano. Ele acreditava na essência do ser humano, enquanto sujeito de sua própria história, enquanto um sujeito em formação, em transformação. Assim, os traços relativos à capacidade do ser humano em si autotransformar perpassa toda sua obra. O pilar fundamental que sustenta seu trabalho é a capacidade que poderá ter o homem de reconhecer-se, de posicionar-se diante do mundo, visando à sua transformação, tornando-se sujeito de sua própria história. A isto ele chamava de capacidade de realizar a leitura do mundo.
Mas, para realizar-se enquanto sujeito ativo, realizador de sonhos, diante da sociedade, da vida e do mundo, o homem precisa realizar a leitura da palavra, a qual precisa de uma verdadeira significação diante do mundo, da vida e da realidade social. Entretanto, para que o homem seja capaz de constituir-se enquanto sujeito histórico e transformador ele, precisa, acima de qualquer coisa, construir a sua consciência crítica. Mas, o que vem a ser a consciência crítica? A consciência crítica para Freire consiste na capacidade humana de formar sua consciência na vivência prática no mundo e com as coisas do mundo. Esta concepção freireana coincide, pontualmente, com a formulação de Marx que afirma que o homem constrói sua consciência dentro de um contexto histórico e social de intervenção prática na natureza, em uma ação mediada pelo trabalho. Mas, um trabalho não alienado, que liberta ao invés de aprisionar, que promove a felicidade ao invés da frustração. Neste ponto, a obra de Freire se amarra à de Marx.
Então, a humanização, a significação do homem diante do mudo e da vida e a consciência crítica são traços e fundamentos essenciais dos trabalhos de Freire. Estes traços perpassam toda sua obra. Para a construção da consciência crítica, o homem precisa romper com o dogmatismo, com as verdades absolutas, advindas da educação tradicional, ou bancária conforme suas próprias palavras. Então, a libertação de si mesmo diante da opressão, dos desmandos e da tirania são elementos fundamentais que caracterizam toda a produção literária do educador pernambucano. Estes traços riquíssimos foram preponderantes e suficientes para que o regime dos generais no Brasil o mandasse para o exílio. As suas perambulações pelo mundo afora fizeram com que ele abrisse trilhas internacionais, que foram usadas para desbravar o analfabetismo, a subserviência, abrindo lacunas para a sua luta inabalável contra a opressão, os desmandos e a dominação.
Foi a partir dessas ideias e princípios que Freire orientou sua ação no mundo, por intermédio de seu método revolucionário de alfabetização. Para Paulo Freire de nada adianta o sujeito possuir intermináveis títulos e honrarias acadêmicas se ele é incapaz de reconhecer-se diante do mundo e da vida. Se é incapaz de tornar-se objeto para reconhecer-se enquanto sujeito transformador da realidade social que marca a vida da maioria dos homens neste planeta. Se estes sujeitos são incapazes disso, não estarão, de fato, alfabetizados, mesmo possuidores de todas as honrarias e títulos acadêmicos.
Assim, nesta direção, Freire construiu sua trajetória de vida neste mundo. Nunca perdendo de vista a capacidade de libertação diante da opressão, diante da vida, ele foi desbravando as fronteiras do analfabetismo, foi rompendo as amarras que mantém os sujeitos atados às coisas secundárias, que os fazem instrumentos passivos diante de um mundo marcado pelas injustiças, pela miséria e pela opressão. Assim era Paulo Freire! Assim foi este admirável educador pernambucano, cuja maior preocupação sempre foi a luta pela libertação do homem diante de sua própria opressão. Sua vida foi marcada, essencialmente, pela inabalável batalha em favor da liberdade em sua forma mais plena. Por uma liberdade que seja capaz de alçar o homem ao patamar mais alto de sua existência. A liberdade que pode levar o homem à sua condição mais sublime, ou seja, de tornar-se essencialmente humano!


* Escritor. Geógrafo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU/MG). Mestre e doutorando em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia (FACED/UFU). Pesquisador das temáticas “Alterações climáticas” e “Impactos das monoculturas sobre os biomas brasileiros”. Docente da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Rostos de pedra, sulcos da vida!!!

Cena do filme "Dança com lobos" de Kevin Costner.
Valter Machado da Fonseca*
Dias atrás assisti num noticiário da grande imprensa uma matéria que tratava de uma denúncia de maus tratos contra pessoas idosas. A notícia retratava diversos casos de filhos, netos, e diversos parentes que abandonavam pais, avós e demais idosos em asilos, largados à solidão, lançados à própria sorte.
A notícia me deixou muito impressionado pela frieza com que as pessoas [na maioria de jovens] tratam os mais velhos. Aí, lembrei-me de um filme que vi [cerca de uma dúzia de vezes], uma obra prima, dirigido e estrelado por Kevin Costner. O nome do filme é “Dança com lobos”, a magnífica obra cinematográfica retrata o episódio real da ocupação do oeste americano pelo homem branco. Em nome de abrir espaços para o tal "progresso” no oeste dos EUA, os ingleses [brancos] vão dizimando todas as grandes nações indígenas, como os Apaches, os Sioux, os Comanches, dentre outras.
Pois bem! Uma das passagens maravilhosas da película de Costner que mais me chamou à atenção foi a relação que os jovens da grande nação Sioux tinha com as pessoas mais velhas da tribo. O filme demonstra, com grande maestria, esta relação de respeito e admiração. Os jovens jamais falavam quando um idoso [ancião] estava se pronunciando. Quando o conselho de guerreiros se reunia, a palavra final era sempre dos mais velhos, a qual era endossada pelo cacique [também um ancião]. O filme destaca o valor dado pelos jovens à experiência vivida pelos anciãos. Isto ficava claro na paciência e atenção com que as crianças e jovens Sioux dispensavam aos velhos anciãos, quando estes contavam suas histórias.
Refletindo sobre a notícia da agressão aos idosos veiculada na TV e lembrando-me do filme de Costner, resolvi escrever este breve desabafo. Aí me pergunto: onde estão os valores humanos? Onde estão o respeito, a admiração e a solidariedade dos jovens da sociedade branca e machista dos dias de hoje? Parece que, a cada dia que passa, mais a sociedade regride, se embrutece, o homem perde, a olhos vistos, sua sensibilidade. Nesta sociedade há uma inversão completa de valores morais [não no sentido hipócrita da palavra] e humanas pelos valores medíocres e bestiais de um mundo desumanizado, no qual as pessoas se transformam em coisas e mercadorias a serviço da ganancia humana.
Aí também me pergunto: estes são os novos tempos? Esta é a sociedade da tecnologia, da comunicação e da informação? Alguém já reparou na linguagem com que os jovens se comunicam na Internet? Quanto tempo as pessoas dispensam para conversar com os amigos, com os mais velhos? Nem nas horas das refeições [horas sagradas, conforme aprendi com meus pais] as pessoas se reúnem. Já não possuem tempo para conversar, para dialogar com o outro. O tempo agora é para as relações virtuais na Net, no MSN. O tempo é para os jogos violentos e virtuais, onde os jovens se divertem [e como!] vendo homens virtuais matando outros homens. E, quanto mais violento melhor, mais as pessoas se divertem!
Enquanto isso tudo acontece, a mídia ganha fortunas com as notícias de roubo e assassinato. Na esquina o jornaleiro repete: compre o jornal! Hoje deu crime! Até quando esta continuará sendo a lógica da sociedade desenvolvida, da “sociedade do conhecimento”. Enquanto os jovens se preocupam com drogas, em incendiar indígenas e mendigos, em estuprar, em matar a espancar prostitutas e homossexuais, eu continuo pensando na face meiga e suave, porém preocupada do velho cacique Sioux observando o avanço do homem branco devastando os animais e seus irmãos de pele vermelha, em sua marcha do “progresso” para o oeste. Jamais conseguirei esquecer a silhueta daquele cacique de rosto de pedra e marcado pela experiência e pelos sulcos da vida!        


* Escritor. Geógrafo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU/MG). Mestre e doutorando em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia (FACED/UFU). Pesquisador das temáticas “Alterações climáticas” e “Impactos das monoculturas sobre os biomas brasileiros”. Docente da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A crise estrutural do capital e os recursos naturais [1]

Prof. Valter Machado da Fonseca
Por Valter Machado da Fonseca*
Prezados leitores! Hoje vou falar sobre algo extremamente grave para todos nós: a crise do capitalismo que ronda a Europa e os EUA. Aí, você pode indagar: mas o que é que eu tenho a ver com isso? Lendo o texto, você vai ver que tem tudo a ver, que a crise está mais próxima de nós do que imaginamos.
O húngaro Ístvan Mészáros, um dos maiores pensadores deste século XXI, em seu recente livro “A Crise Estrutural do Capital” faz um alerta muito sério a respeito da crise capitalista dos tempos presentes. Aliás, em quase todas suas obras mais recentes [de 15 anos para cá], ele faz este alerta contundente acerca da “Agonia do sistema capitalista”. Marx em seu livro “Manuscritos econômicos e filosóficos” diz que o capitalismo é um sistema econômico que se alimenta da própria crise. Diz que o sistema é marcado por crises cíclicas, ou seja, crises que surgem em picos, que vêm à tona em períodos mais ou menos regulares e diante dos quais o capital precisa desenvolver mecanismos internos para conseguir novas formas de expansão e, com isso, superar as crises. Para expandir-se o capital precisa aumentar seus lucros, o que se dá por intermédio da injeção de novas e mais mercadorias nos mercados consumidores. Para aumentar a produção de mais mercadorias é preciso mais recursos naturais, o que, por sua vez, aumenta sobremaneira o desequilíbrio socioambiental no planeta e o aumento exponencial da produção de efluentes [lixo sólido e líquido] domésticos e industriais. Isto vem se tornando uma bola de neve. Aliás, o lixo é um dos maiores problemas ambientais do século XXI.
Mészáros afirma que o período das crises cíclicas já foi superado e que estamos agora diante da crise estrutural do capital, para a qual o capitalismo não tem como se reinventar. A conjuntura mundial nos mostra claramente isto: a crise sem precedentes na Grécia e que se alastra por toda a Europa e a grande crise instalada bem no coração do capitalismo, nos EUA, o que verificamos nos tempos atuais em todos os jornais e, inclusive com a possibilidade real do calote norte-americano, o que os próprios EUA não descartam. Não sou eu quem está dizendo isso, é a própria mídia capitalista que tem mostrado isso cotidianamente. Aliás, esta crise se aprofunda desde 2008/2009 quando a economia norte-americana foi à bancarrota. O Brasil só não foi a reboque porque, na época, o governo Lula torrou todo nosso superávit (nossa poupança interna) injetando dinheiro no mercado interno e pedindo para o povo comprar. Isto provocou um enorme rombo em nossas contas internas, cujas fortes consequências já sentimos agora neste início de governo Dilma.
Mas, o que temos a ver com isso? O jornal “Folha de São Paulo” traz, em letras garrafais, em sua edição do dia 03 de agosto de 2011 a chamada de matéria com o seguinte título “EUA e pessimismo global fazem mercados desabar”. Na matéria (FSP de 03/08/2011, p.A13) podemos destacar o seguinte: “Bill Gross, administrador da Pimco, sugeriu em relatório ontem que [...] os investidores deveriam deixar de comprar títulos americanos e optar por papéis do Brasil, México, Canadá e Alemanha”. Isto significa que querem deixar os EUA se arrebentar e iniciar a super-exploração dos países emergentes. Isto é muito preocupante, pois os nossos recursos naturais que já estavam na alça de mira das grandes potencias capitalistas agonizantes e falidas, agora vão ser usados na tentativa desesperada de salvar um sistema em crise estrutural.  
Caros (as) leitores (as)! O fato é que estamos na mira de um sistema em crise. O Horizonte que se desenha para nós é nublado. Em breve [e muito breve] podemos esperar os respingos diretos dessa crise em nossa cara. E eu posso dizer que estes respingos não serão nada refrescantes. É bom que nos preparemos, pois, os tempos do tal “milagre econômico” dos generais já se foi há muito tempo junto com as torturas e um monte de gente desaparecida, o tempo das vacas gordas de FHC e Lula também já se foram deixando atrás de si um enorme rombo em nossa economia. Então, podemos esperar pelos tempos nublados, das “vacas magras” [quase cadavéricas] cujos ossos já começam a aparecer nos tempos de Dilma Rousseff. Portanto, vamos colocar as barbas de molho, pois, a grande tempestade já pode ser percebida num horizonte muito próximo e totalmente incerto.  

* Escritor. Geógrafo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU/MG). Mestre e doutorando em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia (FACED/UFU). Pesquisador das temáticas “Alterações climáticas” e “Impactos das monoculturas sobre os biomas brasileiros”. Docente da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com