Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
Neste 20 de novembro de 2012 é
chegado o momento de outra reflexão sobre o Dia Nacional da Consciência Negra.
Como acontecem todos os anos nesta data, existem duas formas distintas de
reflexão acerca do significado simbólico deste dia. Existem aqueles que
acreditam ser uma data comemorativa, festiva, com farta distribuição de
bombons, flores e homenagens individuais, enfim, apenas mais uma data festiva,
objetivando o aquecimento do comércio. Porém, por outro lado, há outros que
acreditam que a data seja um momento propício para os debates em torno do
significado de “liberdade” e,
portanto, a data demanda uma reflexão aprofundada dos caminhos e lutas (sempre
árduos) para se conquistar o “estado de
liberdade” plena, condição sine qua
non para a construção da essência da consciência plena dos indivíduos em ser, num mundo em que a maioria
simplesmente se contenta em estar.
É essencial que salientemos que a
liberdade é um estado de consciência
plena dos indivíduos, decorrentes das ações práticas desses sujeitos em um
mundo real e habitado por seres reais, inseridos também numa vida real, na qual
os sujeitos estão sempre em interação plena, mediada por relações socais.
Então, daí pode-se concluir que o ato de ser
no mundo é totalmente adverso ao estado de simplesmente estar nesse mundo.
A condição de ser neste mundo se
complexifica ainda mais quando nos defrontamos com um mundo que, a cada dia, se
torna mais artificial, sintético, onde os valores morais e éticos (aqui não me
refiro à ética edificada pela sociedade capitalista) vêm sendo, sistematicamente,
substituídos pelos valores vazios, superficiais, etéreos, alicerce das práticas
consumistas da sociedade moderna. Nesta direção interpretativa, concluímos que liberdade não é algo palpável, sólido,
não se encontra à venda e nem pode ser medida pelos valores e o marketing do
consumismo, marcas indeléveis desta sociedade do supérfluo e do descartável. Ao
contrário, a liberdade é um estado
abstrato, subjetivo e que leva à sensação de realização da essência do ser
social do indivíduo que vive e convive com outros indivíduos, num mundo mediado
por relações humanas.
Assim, este dia 20 de novembro
constitui-se num momento privilegiado, altamente significativo, para
questionarmos nossa própria consciência de ser
ou simplesmente estar nesse mundo
regido pelo controle, normas e essência da mais-valia capitalista. Então, a
cada dia que passa mais necessário se faz uma reavaliação e novas reflexões
acerca do estado de consciência plena necessário para se atingir essa tal liberdade. Faz-se preponderante que
reavaliemos nossas ações num diálogo aberto, franco e fraterno com nossas
próprias consciências. E, infelizmente, nem todos possuem a coragem suficiente
para realizar este diálogo, pois, em grande parte das vezes, sua consciência já
não mais habita em seu corpo, em sua própria matéria.
Então, caros (as) leitores (as)!
A nossa luta deve se dar tanto num patamar externo, contra as injustiças, os
preconceitos e discriminações, como em sua dimensão interna, contra a opressão
que nós mesmos nos impomos, de forma extremamente dolorosa em nossa própria
essência, em nossa própria consciência. É preciso que tomemos a dosagem certa
de cuidado para que bem no fundo de nossa essência, de nossa própria
consciência, não estejamos abrigando, refugiando ou escondendo os valores que
mantém vivo o monstro da opressão de nós mesmos e de nossa própria espécie.
Faz-se urgente que prendamos o monstro da opressão e libertemos os milhares de
zumbis que habitam nosso íntimo, se, de fato, queremos atingir a tal sonhada liberdade.
* Escritor. Geógrafo, Mestre e
Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), professor e pesquisador
da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com