![]() |
Fonte: blogdosargentotavares.blogspot.com |
Prof. Dr. Valter
Machado da Fonseca*
Recentemente
publiquei no Jornal de Uberaba, um artigo no qual eu abordava a enorme
quantidade de vítimas fatais no trânsito brasileiro. Naquele artigo apontei
números que demonstram que a quantidade de vítimas do trânsito em nosso país,
em decorrência de diversos fatores como má conservação das estradas, descuidos
de autoridades, drogas e embriaguez, imprudências dos motoristas, má
sinalização de rodovias, dentre outros aspectos, produziram um número
exorbitante de óbitos que podem ser comparados com as mortes em diversas
guerras civis em inúmeras regiões do mundo.
Neste artigo que
ora escrevo, quero abordar algo extremamente pior do que os acidentes e mortes
no trânsito. Temos assistido, já por quase um mês, às consequências dos
confrontos diretos e abertos na capital paulista entre as gangues e grupos
ligados à indústria do narcotráfico e as forças policiais da cidade de São
Paulo. Na verdade, estes confrontos não apenas servem de comparação com as
diversas guerras civis que ocorrem pelo mundo afora, eles são a própria guerra
civil, direta e aberta, em pleno território brasileiro.
Várias são as
causas que podem estar por detrás de tais enfretamentos sangrentos, que
resultam num saldo médio de 10 a 12 assassinatos e chacinas diárias, tristes
estatísticas que já perduram há mais de um mês. Estes fatos horripilantes vêm
demonstrar a ineficiência e incompetência (para não dizer total ausência) do
Estado no controle de pontos chave da capital paulista. E, coincidentemente,
estes tristes episódios ocorrem concomitantemente com as famosas ações da
polícia no Estado do Rio de Janeiro, ironicamente denominadas pelos
representantes do Estado carioca de “pacificação dos morros” da cidade maravilhosa.
Ora, meus
(minhas) caros (as) leitores (as)! É importante destacarmos que estas
verdadeiras carnificinas acontecem exatamente no momento em que o país se
prepara para abrir o processo de preparação para a Copa do Mundo de 2014, por
intermédio da Copa das Confederações que ocorrem já no ano de 2013. Qual será o
significado da reação desses grupos representantes da indústria do
narcotráfico? Nas entrelinhas desses confrontos podemos verificar uma autêntica
“queda de braço” entre o braço armado do Estado brasileiro (representado pela
força policial paulistana) e o poder paramilitar dos grupos representantes da
forte indústria do narcotráfico (agora totalmente instalada em São Paulo). As
ações de carnificina desses grupos deixam totalmente a nu a ineficiência, a
incompetência e a total fragilidade das instituições do Estado brasileiro,
frente ao organizado e fortíssimo poderio bélico do crime organizado e
instalado nos grandes centros urbanos de nosso país.
Diante deste
quadro deprimente de genuína e autêntica guerra civil em território brasileiro,
em que os únicos e maiores perdedores são as crianças, homens e mulheres de bem
de nosso país, trabalhadores e trabalhadoras que além de tomarem para si a
nobre tarefa de edificar esta nação, ainda têm que enfrentar durante todos os
dias as balas perdidas e, sobretudo, as incertezas da volta para suas casas ao
fim da jornada diária de trabalho. Como muito bem disse Cazuza: que país é esse?
É preciso que fiquemos atentos, pois essa poderosa guerra civil bem no coração
do Brasil poderá nos dar, antecipadamente, um ouro que poderá figurar
tristemente junto às premiações da Copa do Mundo de 2014 e no quadro de
medalhas dos Jogos Olímpicos de 2016, ou seja, uma medalha de ouro fruto da
conquista de um recorde mundial de chacinas e assassinatos bem no coração do
Brasil, na região metropolitana de São Paulo. Um recorde que poderá marcar com
o sangue de milhares de inocentes o solo fértil do imponente (porém impotente)
continente sul americano.
*
Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia
(UFU). Professor e pesquisador da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário