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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

“PACIFICAÇÃO” DAS FAVELAS DO RIO: Tudo certo! Mas... tá esquisito!!!

Complexo de favelas da Rocinha no Rio de Janeiro

Prof. MS. Valter Machado da Fonseca*
Talvez eu esteja enxergando demais, ou, como diriam os mais antigos, eu esteja “vendo chifres em cabeças de cavalos”. O fato é que a tal “pacificação” das favelas do Rio de Janeiro está “com cheiro estranho”, para não dizer que está cheirando a “maracutaia”. Desde a semana passada, as manchetes acerca da “pacificação” das favelas da cidade do Rio de Janeiro tomam conta da grande mídia, tanto nacional quanto internacional. A mídia faz um esforço gigantesco para convencer a população e a opinião pública de que a paz invadiu as favelas da cidade maravilhosa. Mas, existe algo de estranho, para não dizer “podre” nesta história toda. Porém, nem toda a mídia está convencida da estratégia vitoriosa da polícia do Rio de Janeiro, do tal plano espetacular e vitorioso da pacificação repentina das favelas cariocas. O jornal francês “Le monde” afirma tratar-se de um projeto que visa apenas a maquiar a cidade maravilhosa com ares amistosos, em função da realização da Copa do Mundo de 2014 e dos jogos olímpicos de 2016. Aliás, algo parecido foi montado quando da primeira visita do pontífice João Paulo II ao Brasil.
É preciso que prestemos atenção a alguns fatos para que possamos avaliar melhor o “retorno” repentino da paz aos principais morros cariocas. Em primeiro lugar, o Brasil e, em particular a cidade do Rio de Janeiro, precisam vender uma imagem positiva do país e da cidade maravilhosa para o mundo, caso contrário, os tão esperados turistas e seus euros e dólares não virão na época dos grandes eventos esportivos em nosso país. Quando vemos as imagens da TV, não notamos nenhuma manifestação de contentamento por parte das populações das favelas em questão, acerca do domínio policial em seu território, como querem fazer crer a grande imprensa. Pelo contrário, os depoimentos dados pelos moradores expressam certa apreensão diante da situação.
Outro fato extremamente relevante é que uma das favelas “pacificadas” não é nada mais nada menos que a favela da Rocinha, o maior complexo de favelas da América Latina e um dos maiores do mundo. É extremamente intrigante que em um complexo de dimensões gigantescas como a Rocinha, onde existem diversas organizações clandestinas do narcotráfico, elas abandonem seus postos de comércio e atuação sem disparar um tiro sequer. Será que a polícia carioca, que, como já foi demonstrado em diversas ocasiões, possui um braço potente de participação na indústria do narcotráfico, seja tão respeitada pelas quadrilhas dos morros cariocas?
Por outro lado, vemos pelos noticiários que a quantidade de armas e drogas apreendidas na operação “pacificação” chega a ser irrisória, quando comparada às dimensões do complexo de favelas da Rocinha. A troco de que os narcotraficantes iriam abandonar seu território sem nenhuma resistência? Outro fato a ser considerado é a qualidade e estado de conservação das armas apreendidas; salvo, algumas exceções, a maioria das armas é velha, ultrapassada e em péssimo estado de conservação. 
É por isso, meus (minhas) caro (as) leitores (as), que digo que está tudo certo, porém tá esquisito! Toda esta história está me cheirando a uma grande armação. A “estratégia”, brilhantemente montada pela força militar da cidade do Rio de Janeiro pode servir para reforçar a imagem [por sinal bastante desgastada] da polícia carioca e, ao mesmo tempo garantir a integridade física dos armamentos e dos homens do narcotráfico, visando, em primeira instância garantir o fluxo de turistas nos eventos esportivos de 2014 e 2016, que trará um montão de dólares e euros para o país, o que fará felizes tanto o Estado, quanto os homens da indústria do narcotráfico. Se esta for realmente a estratégia, ela é, verdadeiramente, brilhante e espetacular. Aí, poderemos dizer: parabéns a todos os estrategistas! Afinal terão conseguido agradar a todos e, ao mesmo tempo, enganar toda a população brasileira, sem disparar sequer um tiro de festim.    


* Escritor. Geógrafo, mestre e doutorando em Educação pela UFU. Pesquisador das temáticas ambientais. Professor da Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com

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