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sábado, 12 de novembro de 2011

E a crise do capital continua!


Valter Machado da Fonseca*
A crise do capital continua atingindo, em cheio, o coração do sistema econômico e financeiro global. Depois da Irlanda e Grécia, a bola da vez agora é a Itália. Observa-se, claramente, as tentativas desesperadas da imprensa mundial em relacionar o colapso do sistema financeiro mundial à insistência do primeiro ministro italiano Sílvio Berlusconi em se demitir do cargo. As falcatruas do primeiro ministro italiano, em que pese as dimensões gigantescas da corrupção que o envolvem, nunca foram os motivos do efeito dominó, que derruba peça a peça as engrenagens e as estruturas do sistema capitalista e que agora, atinge frontalmente a economia do Estado italiano.
Na verdade, é preciso que percebamos que a atual crise do capital se distingue de todas as demais que a antecederam. Verifica-se por intermédio dos dados econômicos e do fracasso de todas as estratégias de salvaguardar as instituições financeiras do sistema, que a crise, desta vez, atinge as estruturas internas do capital, os bancos, indústrias e demais instituições internas do capital. As velhas fórmulas milagrosas já não funcionam como nos tempos pretéritos. Uma a uma, as instituições que sempre mantiveram de pé os pilares do modelo de produção capitalista, vão ruindo a olhos vistos. O capital não consegue mais se reinventar enquanto mecanismo de auto reprodução e de expansão de seus lucros. 
Diante dessa crise que atinge, como um câncer generalizado, todo o metabolismo reprodutivo do capital, algumas perguntas vêm, naturalmente, à tona: qual o significado real da crise estrutural do capital? Em que ela pode afetar os países subdesenvolvidos, ou “em desenvolvimento”? E o Brasil, como fica diante dessa crise? Como ele será afetado?
É evidente que a crise em curso se manifestará, em primeiro lugar, nas nações que conseguiram cumprir toas as etapas de desenvolvimento sob o capitalismo, ou seja, a Europa e os EUA. Mas, num segundo momento ela se expandirá para o restante do mundo. Com certeza, os países e nações mais pobres sofrerão, ainda com mais ênfase, os sintomas dessa crise econômica. Há que se pesar que os mercados internos dos países ditos “em desenvolvimento” são quem, de fato, sustentam os lucros das nações ditas desenvolvidas. Também, são os países periféricos quem detém a maior parte da matéria prima para a produção de novas mercadorias. Isto significa que os recursos naturais dos países pobres serão explorados sobremaneira, no sentido de produção de novas mercadorias visando a aquecer os mercados consumidores e, consequentemente, minimizar os efeitos da crise estrutural do capital.
Por outro lado, observamos a mobilização geral dos trabalhadores em diversas partes do mundo numa reação legítima aos ataques desferidos contra suas conquistas e direitos históricos e legítimos. Dessa forma, somente a evolução e o desenrolar da luta de classes em todo o mundo poderá mostrar, com maior clareza, quais os caminhos a serem tomados pelos amplos setores da classe trabalhadora e qual será o desfecho desta crise econômica mundial. Tudo vai depender da correlação de forças entre o sistema em crise e a capacidade de reação da classe trabalhadora. O fato mais real e concreto que podemos vislumbrar é que somente a organização e a capacidade de reação da classe trabalhadora poderá salvar a humanidade da barbárie, cujo início já se começa a perceber. Enfim, somente a vitória do trabalho sobre o capital poderá abrir as vias para a edificação de outro sistema produtivo que venha substituir agonizante capitalismo, gerido pelo capital em crise estrutural. Nada mais relevante do que relembrarmos os ensinamentos de Karl Marx na introdução do Manifesto Comunista de 1848: “Tudo que é sólido se desmancha no ar”. Esta celebre frase de Marx e Engels serve, perfeitamente, para ilustrar o tempo de incertezas que domina esse período que anuncia a barbárie em seu estado mais selvagem. Plagiando o próprio Marx, podemos dizer que, desta feita “não é o espectro do comunismo que ronda a Europa”, mas é o espectro da barbárie que ronda não somente a Europa, mas, todo o planeta.


* Escritor. Geógrafo, mestre e doutorando em Educação pela UFU. Pesquisador das temáticas ambientais. Professor da Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com

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