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Fonte: Estadão (2014) |
Por NTV
O físico inglês Stephen Hawking, da
Universidade de Cambridge, que se tornou notório como um dos criadores da
teoria moderna do buraco negro, está causando barulho na comunidade científica
pela publicação de um artigo online, ainda sem revisão de outros cientistas,
que declara sem cerimônias: "Não existem buracos negros". A
declaração tenta colocar um ponto final em uma discussão que se arrasta há décadas
e que, em última instância, está na base de um dos principais desafios da
Física: unificar a Teoria da Relatividade (que explica o mundo macroscópico)
com a Mecânica Quântica (que explica o mundo microscópico).
A ideia de buraco negro -- um objeto
cosmológico resultante do colapso de uma estrela, cuja massa gigantesca (que
pode ser milhões de vezes maior que o Sol) é condensada em um único ponto, com
tamanha força gravitacional que suga tudo o que está a sua volta, até mesmo a
luz -- vem do início do século 20. Sua existência só pôde ser confirmada a
partir da Teoria da Relatividade Geral, que Albert Einstein elaborou em 1915.
Por décadas se imaginou que esse objeto apenas engolia outros objetos, mas não
retornava nada para o espaço, o que contrariaria outras leis. Em 1974, Hawking
propôs que no horizonte de eventos, uma espécie de fronteira do buraco negro,
partículas escapariam como radiação, o que ficou conhecida como radiação
Hawking. Assim, ele evaporaria lentamente até desaparecer. Essa conclusão acabou
encaixando o buraco negro dentro da segunda lei da Termodinâmica, que prevê que
a entropia (desordem) de um sistema nunca podia diminuir. Se o buraco só
engolisse sem devolver nada, a entropia do Universo estaria comprometida.
Reportagem da revista científica
Nature, que comentou o novo estudo de Hawking, lembra que a proposta da
radiação gerou outras dúvidas, entre elas a que ficou conhecida como paradoxo
da muralha de fogo. O físico Joseph Polchinski, do Instituto Kavli, propôs que,
de acordo com a Teoria da Relatividade, se um astronauta tivesse o azar de
passar perto do buraco negro, atravessaria sem perceber o horizonte de eventos
e seria puxado como um espaguete para dentro do buraco. Mas, argumenta o
pesquisador e colegas, pela Mecânica Quântica, a radiação Hawking não se
dissiparia simplesmente, mas formaria uma muralha de fogo no entorno do
horizonte de eventos. Assim, o astronauta seria queimado. O problema é que não
dá para ser uma coisa ou outra. Apesar de os cientistas não saberem ainda como,
para o mundo funcionar, as duas teorias têm de conversar.
Nova teoria. Hawking propôs agora, em
artigo no site ArXiv, que, em vez de um horizonte de eventos, haveria um
"horizonte aparente", uma superfície que pode capturar a luz, mas
também pode mudar de forma por conta de flutuações quânticas, possibilitando
que ela escape. Daí, ele conclui que, nesse sentido, os buracos negros como
propostos originalmente não existem. "A ausência de um horizonte de
eventos significa que não existem buracos negros no sentido de sistemas dos
quais a luz não pode escapar para o infinito", escreveu Hawking no artigo.
Em entrevista à Nature, explicou:
"Não há escapatória para um buraco negro na teoria clássica".
Entretanto, a Mecânica Quântica "permite que energia e informação escapem
de um buraco negro". Para resolver definitivamente o problema, só
unificando as teorias, diz. Só que o problema, lembra ele à revista, intriga os
cientistas há quase um século. Assim, "a explicação correta permanece um
mistério", reconhece.
Disponível
em: http://estadao.br.msn.com/ciencia/f%C3%ADsico-recua-e-nega-existir-buraco-negro
Acesso em: 29/01/2014.
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