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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Retrospectiva: crise econômica mundial, “marca registrada” deste início de século

Prof. Valter Machado da Fonseca (2011)

Valter Machado da Fonseca*
O final do século XX e este início do XXI têm como marca maior a grande crise econômica do sistema capitalista em âmbito global. Esta crise que teve um grande surto em 2008 volta agora com força maior, provocando uma enorme avalanche financeira no coração do capitalismo: A Europa e os EUA.

Desde a década de 1929, com o Crack da Bolsa de Nova York, que abalou o mundo, inclusive o Brasil, que o capital vem mostrando sua sequência histórica de crises, desestabilizando mercados, quebrando empresas, desestruturando nações, falindo indústrias e industriais. Um aspecto comum que caracterizou todas as crises financeiras do capital em tempos pretéritos foi suas fases de crises cíclicas. Ou seja, elas vinham à tona, de tempos em tempos, mas, o capital conseguia elaborar e reelaborar mecanismos internos para sua superação, conseguindo, dessa forma, melhorar a eficiência de suas estruturas internas. Assim, ele saía das crises cíclicas com as forças renovadas, criando novos mecanismos reguladores de suas estruturas internas, o que lhe possibilitava maior força para se expandir e se reproduzir e, com isso, aumentar com eficácia sua mais valia (lucro). Mas, um dado real para o qual devemos nos atentar é que o capital se reinventava, superava suas crises, em grande parte, em detrimento de necessidades primárias ou mesmo secundárias da população, ou seja, do mercado consumidor. Isto significa dizer que o capital superava suas crises em função de necessidades reais da população mundial, visando, em última instância, a melhorar as condições e o padrão de vida dos povos, ou, pelo menos de uma parcela deles.

O que diferencia substancialmente as crises econômicas da atualidade das que ocorreram em tempos passados, é a incapacidade de o capital se reinventar. Isto é, a crise econômica dos tempos presentes é fruto do próprio desgaste dos mecanismos internos do capital, de suas estruturas internas. É o que o pensador e sociólogo húngaro Ístvan Mészáros define como “Crise estrutural do capital”. Na verdade, a crise estrutural do capital se liga diretamente ao deslocamento dos novos objetivos da produção material que rege a economia dos tempos presentes. O capital já deixou de gerar produtos (mercadorias) que estejam diretamente ligados às necessidades e desejos reais das populações (mercados consumidores).

Hoje, ao invés de se criar produtos para atender às necessidades humanas, primeiro se “inventam” novas mercadorias e produtos e depois se criam artificialmente os desejos e as necessidades. Então, se criam produtos supérfluos e descartáveis para o atendimento de desejos e necessidades ilusórias, artificiais e fictícias. Estes aspectos são frutos da denominada “Globalização Econômica” ou “Globalização Neoliberal ou Perversa” como diria o grande e saudoso geógrafo, Prof. Milton Santos. Diante da incapacidade do capital de gerar sua produção voltada para as necessidades da humanidade é que surge com todo o vigor a crise estrutural ou crise dos mecanismos internos do sistema capitalista. Ou seja, o capital não é mais capaz de se reinventar para a superação de suas crises econômicas sucessivas. Por isso, vemos a  grande crise global atingir, em cheio, o coração dos gigantes capitalistas: Europa e EUA (2008) e agora em 2010/2011 uma crise mais generalizada que atingiu novamente os EUA e depois a Europa (Grécia, Irlanda, Itália, França, Espanha, Inglaterra). Diante disso, a crise econômica com certeza percorrerá todo o planeta, todas as regiões, todos os países. O que se coloca diante da humanidade é o grande desafio de se criar novos modelos de economia e de sociedade. Só assim, a humanidade será capaz de superar a gigantesca crise estrutural do capital. Caso contrário, a humanidade sucumbirá de uma vez por todas, mergulhando definitivamente na barbárie, ou seja, num modelo de sociedade totalmente antropofágica e autofágica, cujos sintomas são perfeitamente visíveis num futuro totalmente incerto e de horizonte curtíssimo, onde o homem venha se transformar, definitivamente, em mercadoria última.        



* Escritor. Geógrafo, Mestre e doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com  

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