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Foto: cerca Fonte: portugues.torange.biz |
Valter Machado da Fonseca
Por entre as muralhas escapam
os gritos de pavor
São animais ensangüentados,
assustados e maltratados
Os dias parecem parar, são
intermináveis, infindáveis
Nos corredores escuros,
malcheirosos, o som dos passos ritmados
As barras de ferro batido
deixam escapar apenas os gemidos
Dos homens sem vaidade,
embrutecidos pelo ódio da falta de dignidade
O tempo passa em conta-gotas,
no tic-tac do tormento
São homens amarelos de pele
encharcada no suor da opressão
Na rotina da masmorra só se
ouve o lamento da frustração
No dia-a-dia do cativeiro são
constantes as batidas secas
Das ferramentas frias da
tortura e da enxada do coveiro
Nas noites frias de inverno,
estão trancafiados
Das suas mentes obstinadas,
imagens distorcidas das amadas
Com o passar dos anos, o
tempo já não interessa
Trancam as mentes, confinam o
pensamento, se adaptam ao sofrimento
Da paisagem distante, do
outro lado do muro de concreto
Só restaram algumas imagens
distorcidas pelo tormento
Insistem em resistir procuram
se iludir
Os corpos presos, nas velhas
camas de cimento, liberam o pensamento
Precisam, todo dia, banhados
na pouca claridade, acalentar a liberdade
Pensam nos amigos, nos
conhecidos, nas amadas lá de fora
Procuram, travestidos de
ilusão, enganar a frustração
O pensamento sai do catre pra
se juntar à multidão
O tempo passa, lentamente, a
hora chega de mansinho
No dia-a-dia da cadeia, se
entusiasmam, fazem planos com carinho
Esperam com paciência o dia
de glória que se aproxima
Contam os meses, as semanas,
os dias, os minutos
Os corações acelerados
esperam deslumbrados
O grande dia que trará, consigo
a liberdade
Finalmente, o momento tão
esperado
Arrumam as coisas, fazem as
malas, preparam o coração
Juntam os poemas, relembram
dos que vão ficar
Tentam ser fortes, se erguem,
prendem o fôlego que esconde o choro
Chegou o grande momento, de
ir embora, atravessar o portão
Enquanto o corpo vergado,
flácido caminha lentamente na multidão
O coração partido, sofrido, abatido,
volta prá dentro da prisão!
a prisão existe la dentro e aqui de fora, pois o ser humano limitado é empurrado pelo sistema armando o jogo. Existente apenas na mente a liberdade nos faz voar nesse mundo enraizado.
ResponderExcluirMuito Bem Allita! Concordo contigo!
ExcluirA liberdade, assim como a prisão está dentro de cada um de nós! Depois precisamos sentar para filosofar.
Um abraço;
Prof. Valter.